Shopping afasta seguranças envolvidos em denúncia de racismo

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Servidor público foi acusado de roubo após comprar sapato em loja

Os cinco seguranças envolvidos em uma denúncia de racismo contra o servidor público federal Paulo Arifa, de 38 anos, no dia 9 deste mês, em Cuiabá, foram afastados pelo shopping nessa terça-feira (15).

O Pantanal Shopping informou que também notificou a loja onde a ocorrência foi registrada. “Após apuração dos fatos, o empreendimento notificou a loja e afastou os seguranças envolvidos do atendimento ao público. O Pantanal Shopping esclarece que não tolera nenhuma forma de discriminação ou violência e que o tratamento narrado não faz parte das diretrizes da empresa”, diz.

A Studio Z disse que lamenta o episódio e que está apurando o caso junto aos funcionários envolvidos. (leia íntegra da nota abaixo).

Paulo, que é negro, contou que foi abordado pelos seguranças e uma funcionária da loja de calçados logo após comprar um sapato no local. Segundo ele, os funcionários exigiram a nota fiscal para comprovar que ele não havia furtado o produto.

Um vídeo gravado pelo homem mostra parte da confusão – assista acima.

No mesmo dia, o servidor registrou um boletim de ocorrência contra a loja por injúria, calúnia e lesão corporal. A Polícia Civil solicitou exames de corpo de delito e imagens das câmeras de segurança do local, que devem ser entregues em até o fim de semana. A ocorrência é investigada pela 2ª Delegacia de Cuiabá.

Devido ao constrangimento ao ser abordado pela equipe, Paulo afirmou que ficou nervoso e não conseguia localizar a nota fiscal do produto. Em seguida, ele disse que os fiscais tentaram conduzi-lo para a sala segurança, momento em que um dos funcionários o segurou e o empurrou.

“Iniciei as filmagens após tentar resolver o conflito de outras maneiras, após tentar localizar a nota, mas aí já era tarde demais. Ainda estou assustado e com medo. Quando me vi cercado por seguranças querendo me conduzir lembrei do caso do João Alberto, morto pelo segurança. Achei que algo pior poderia acontecer”, relatou.

A vítima foi liberada somente após apresentar o comprovante da compra. Por causa do empurrão, ele teve uma lesão no pé direito e foi afastado do trabalho por 15 dias para fazer fisioterapia.

“Não estou conseguindo dormir. Estou tendo pesadelos. Estou acostumado a ser seguido por segurança como suspeito, aliás, tenho o biotipo de suspeito por ser preto e pobre. A sociedade ainda mantém velado o racismo, negando que ele exista. Até quando vamos manter velado a hipocrisia social?! Negro também e gente”, pontuou.

O shopping afirmou que irá reforçar o treinamento com a equipe para garantir que casos como este não voltem a se repetir.

O que diz a loja

A Studio Z lamenta o episódio ocorrido no dia 9 de junho no Shopping Pantanal, em Cuiabá, e declara que já está tratando com as partes envolvidas. A empresa repudia todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação racial, física e social.

A marca reforça seus valores e reitera que é uma empresa inclusiva, diversa, que respeita e valoriza a igualdade.

Desigualdade racial

Dados divulgados em agosto deste ano pelo Atlas da Violência 2020 indicam que os assassinatos de negros aumentaram 11,5% em 10 anos, enquanto os de não negros caíram 12,9% no mesmo período.

Entre os negros, a taxa de homicídios no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018. O relatório também mostra que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios.

Em 2016, a taxa de homicídios contra negros em Mato Grosso foi maior que o índice nacional, segundo o Atlas da Violência divulgado em 2018. Entre 2006 e 2016, o estado ainda registrou um aumento de 17,7% na taxa de mortalidade de negros. No mesmo período, o índice de vítimas brancas teve redução de 3,3%.

Como conclusão, os autores do estudo apontam que “a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança. Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Brasil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros”.

Fonte: G1