Polícia: Cuiabá tem média de dois “desaparecimentos” ao dia

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Todos os dias ao menos duas pessoas são dadas como desaparecidas na Capital, em média. Somente em 2018, o Núcleo de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil registrou mais de 823 casos. Porém deste total, 791 foram encontradas.

Neste ano, até o mês de setembro, 612 pessoas desapareceram, porém 556 foram localizadas. Esse número aponta para mais de 90% em casos resolvidos por meio do núcleo.

Na semana em que o sumiço do aposentado Isael Lourenço mobilzou a cidade, a reportagem do MidiaNews foi conhecer a rotina e os métdos do setor da Polícia que se dedica exclusivamente a encontrar pessoas. Até a tarde de sábado, Lourenço não havia sido localizado.

O núcleo funciona no prédio da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa. Sua estrutura é composta de um investigador, um escrivão, um delegado e estagiários.

Enganam-se quem ainda pensa que é necessário esperar 24 horas desde o desaparecimento para registrar uma ocorrência. O tempo nesse caso é crucial, por isso é importante procurar a Polícia o quanto antes.

“Tudo começa com o registro do boletim de ocorrência. A partir do momento em que a pessoa percebe que a outra não deu sinais, ou mudou a rotina, imediatamente a gente orienta a registrar o BO. Essa história de esperar 24 horas é mito. Feito o BO, ele é encaminhado na hora pra gente”, explica o policial Alex Machado Mendes, de 32 anos, que atua como investigador-chefe do núcleo desde 2016.

Recebida a informação, o setor atualiza em seu sistema os dados da pessoa que está sumida. Rotina, trabalho, gostos, orientação sexual, amigos… Tudo é informação para os investigadores entenderem a fundo como é a vida da pessoa.

Em seguida um cartaz é criado com uma foto recente da pessoa e a informação da última vez em que foi vista, acompanhadas de telefones da Delegacia. Este cartaz então é divulgado na página do setor no Facebook e no Instagram.

A partir daí toda informação é checada com rigor, garante o investigador, que alerta: é muito importante que as pessoas não usem o número da Polícia para passar trote ou informações inverídicas.

“Nem tudo é o que parece”

De acordo com o investigador Alex, a rotina à frente do núcleo nunca é a mesma. Segundo ele, muitos dos casos que chegam como desaparecimento na verdade não são.

“Mais de 90% dos casos que recebemos aqui não é desaparecimento. Só que a gente trata como se fosse. Tem muitos casos que, por exemplo, é um adolescente que quer fugir para festa com o namorado, homens que vão para noitada, ou dão um perdido na mulher… E isso acontece demais. Por isso eu digo: nem tudo que chega aqui é o que parece. Todos os dias somos surpreendidos, nenhum caso é igual ao outro”, conta.

No ano passado, por exemplo, houve o caso de uma mulher de 28 anos, dada como desaparecida por seus familiares, mas que a Polícia Civil descobriu que, na verdade, ela estava com o amante havia quatro dias no Distrito de Mimoso (a 119 km de Cuiabá).

A mulher, que era casada e tem dois filhos, havia dito ao esposo que ia ao shopping de Várzea Grande para  fazer um curso de estética e não retornou para casa.

Ela e o amante chegaram de forjar um sequestro, que mobilizou a equipe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).

Os dois responderam por criminalmente por falsa comunicação de crime.

Alan Cosme/MidiaNews

ALEX MACHADO DHPP

Alex Machado atua como investigador chefe do Núcleo de Pessoas Desaparecidas, desde 2016

Felicidade de um reencontro

Uma das principais recompensas para quem trabalha no setor é acompanhar o reencontro de parentes que perderam o contato por anos.

O caso mais recente foi o da cuiabana Tereza Silva, de 46, que estava há 39 anos sem contato com a mãe e a irmã.

A ocorrência foi feita em 2016 e, após três anos, o investigador Alex se disse orgulhoso da história ter tido um final feliz.

“Na época elas tiveram um desentendimento e ninguém teve contato com ninguém. E por esse sistema achamos a irmã em Pontes e Lacerda. Foi uma situação bem emocionante. E essa semana nós descobrimos que a mãe está morando em São Paulo”.

Outra história que causou espanto no investigador foi o desfecho de duas mulheres consideradas desaparecidas desde 2013.

As investigações do Núcleo de Pessoas Desaparecidas apontavam que o suspeito, Adilson Pinto da Fonseca, de 48, teria matado as mulheres e enterrado os corpos no terreno ou dentro da casa dele, no Bairro Nova Conquista, em Cuiabá. Ele já está preso por ocultação de cadáver.

A primeira vítima, Talissa de Oliveira Ormond, 22, teve a comunicação do desaparecimento em julho de 2013. Ela era namorada do suspeito. A segunda vítima, Benildes Batista de Almeida, 39 anos, que desapareceu em dezembro de 2013, seria sua ex-mulher.

“Nós tivemos boa divulgação muito grande do caso das mulheres que encontramos as ossadas. As pessoas não sabem, mas esse foi um trabalho de mais de 3 anos de investigação aqui do núcleo. Esse foi o maior caso de repercussão positiva” relata.

Fonte: Hipernotícias