“Não podiam me chamar de corrupto, então me tacharam de louco”

Fonte:

Candidato a prefeito fala sobre mandato na Câmara, propostas em campanha e críticas a Emanuel

Candidato à Prefeitura de Cuiabá, o vereador Abílio Júnior (Podemos) já foi chamado de “louco” e “brigão” pelos adversários políticos, principalmente os colegas da Câmara de Cuiabá, com quem convive há quase quatro anos.

Polêmico e sempre com uma postura combativa, Abílio se destacou no Legislativo ao fazer oposição ferrenha ao atual prefeito e candidato à reeleição, Emanuel Pinheiro (MDB). O parlamentar disse que os rótulos dados pelos adversários foram a única forma encontrada para atacá-lo, uma vez que não possui máculas em sua vida pública.

“Não podiam atacar minha vida pública, não podiam me chamar de corrupto ou improdutivo. Então, criaram a narrativa de que sou louco, brigão, mesmo eu não tendo agredido ninguém. É mais fácil tachar outros lá na Câmara com problemas de sanidade mental, como aqueles que tentaram tirar meu celular da mão na porrada”, afirmou.

Em entrevista ao MidiaNews, o candidato criticou a relação atual existente entre a Prefeitura de Cuiabá e a Câmara dos Vereadores e disse não ser a favor do pagamento da Revisão Geral Anual (RGA) dos servidores da forma como é feita hoje.

“O servidor se incomoda com a RGA achando que ela é a valorização do seu trabalho. Por que o servidor tem que ganhar mais que o cidadão comum? Por que o percentual de reajuste salarial do servidor tem que ser maior do que o percentual do reajuste do salário mínimo?”, questionou.

Confira os principais trechos da entrevista: 

MidiaNews – Candidato, o senhor diz amplamente que apóia o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O senhor se vê como o principal representante do bolsonarismo na disputa em Cuiabá?

Abílio Júnior – As pessoas precisam aprender que não precisa ser o representante do Bolsonaro. Você tem que ser você, fazer o que for necessário para ter a sua própria identidade, a sua própria representatividade. Apoiar o Bolsonaro não significa que você só vai entrar na política se você tiver o apoio dele. E eu percebo que muitas vezes, muitos políticos querem ser o candidato do Bolsonaro por falta de identidade própria, ficam colando na imagem dele para justificar a candidatura. Eu, aqui em Cuiabá, se não se falasse em Bolsonaro, seria conhecido pelo trabalho que prestei e não necessariamente por uma relação de proximidade com o presidente.

Defendo o Bolsonaro principalmente na questão das pautas econômicas. Para se ter uma idéia, acho que os juros de financiamento imobiliário nunca foram tão baixos. As outras pautas não mudaram muita coisa, o Brasil não mudou muito. Também não vai vir nenhum presidente que irá mudar totalmente o Brasil.

As pautas econômicas estão bem e nunca foi investido tanto na saúde como atualmente. A forma como o Governo Bolsonaro investiu no período da Covid ajudou muitos municípios e o auxílio emergencial foi o maior programa de distribuição de renda já inventado na história.

MidiaNews – O senhor já declarou que, se eleito, irá cortar ou fundir secretarias e demitir mais de 2,5 mil comissionados que ocuparam vagas como resultado de indicações políticas. Inclusive, apontou que algumas pastas, como as secretarias da Mulher e de Mobilidade Urbana, não cumpriram suas funções na gestão. Acha que tratam-se de pastas inúteis? Apenas “cabides de emprego”?

Abílio Júnior – Não é só uma questão de ser inútil. Vamos supor que você tenha uma faca que não corta. Ela pode ser útil como peso de papel, útil no fator estético e ideológico – de você olhar e dizer que tem uma faca na mesa –, mas quando você a pega para cortar uma carne, ela não corta e você passa raiva. A secretaria que não produz resultado é inútil. Se tem uma secretaria que deveria desenvolver o trânsito e não faz isso, é inútil, porque não atingiu a sua finalidade. Se tem uma secretaria que deveria ajudar o direito da mulher e, em pleno Outubro Rosa, por exemplo, a mulher não consegue marcar uma mamografia, a secretaria não atinge a sua finalidade. Não adianta pintar uma sala de cor de rosa e falar que agora tem uma mulher secretária.

Eu acho que jogar uma secretaria para a mulher é desqualificar todo o direito da mulher que sempre buscou ter direitos iguais e ocupar os mesmos espaços. Por que não colocar uma mulher qualificada e capacitada para chefiar a Secretaria de Saúde? E olha que têm muitas. E precisa ser uma mulher? Não. Precisa ser uma mulher capaz. Se tiver um homem que for mais capaz, que seja um homem. Não é uma questão de gênero, é uma questão de capacidade técnica.

O que me deixa desconfortável é quando vejo Conselho da Mulher, vereadora que se diz representante das mulheres, e coisa e tal, esquecerem toda a luta delas por igualdade e valorização e focar em ter uma salinha cor de rosa. Eu sempre tive referências fortes de mulheres: minha avó, Lila Martins, que tocava a Rádio Voz do Oeste, era exemplo de mulher forte. A minha outra avó, Nilda Souza, também era um exemplo. A minha mãe, minha sogra. Então, assim, nenhuma delas chegaram onde chegaram por “mimimi”.

Eu acho que a gente precisa ensinar as crianças, as mulheres, os homens, os negros, os brancos, os pobres, os ricos, todos, independente de diferenças, a enfrentarem a vida. Eu não me apoiei em ninguém quando fui perseguido e cassado na Câmara. E a gente foi, fez o enfretamento, a população viu. Se fosse um cara que tivesse apego [ao cargo], estaria ali fazendo acordo, implorando para não ser cassado.

Então, a mulher, o homem, todas as classes, ninguém precisa de uma pasta segregada, específica. Não é uma questão de valorizar a mulher, o negro, o LGBT. A Prefeitura de Cuiabá faz politicagem. É tudo de fachada.

MidiaNews – Há outras secretarias que acha que são apenas figurativas?

Abílio Júnior – Sim. O IPDU, que deveria fazer o planjeamento urbano, acabou de ser extinto. A Prefeitura mandou para a Secretaria de Meio Ambiente, o que não tem nada a ver. Aí, tem a Secretaria de Planejamento, que não conversa com as outras pastas. Eu pegaria Planejamento, IPDU, Meio Ambiente e juntaria com o setor de Planejamento de Mobilidade Urbana, da Semob, e montaria uma secretaria para pensar a cidade agora e para os próximos 50 anos, não só para apagar fogo. Eu extinguiria o resto da Semob.

As obras que estamos tendo agora foram pensadas há 30 anos. Os viadutos e trincheiras da Copa constavam no primeiro plano diretor do município. O Contorno Leste foi planejado há 20 anos.  A cidade mudou. A gente já não se relaciona da mesma forma. Não há necessidade de se ter um monopólio de transporte público, dá para reinventar isso, pode-se criar um bilhete único para pagar uma vez e usar à vontade, para a pessoa não se preocupar tanto com a integração. Muda inclusive a forma como a sociedade se transforma com o transporte público. Dá para ter linhas troncais que ficam apenas nas principais avenidas e os circulares, que ficam dentro dos bairros e levam para as principais vias. É o que existe em cidades que usam a inteligência.

MidiaNews – O senhor citou também que cortaria 2,5 mil cargos, principalmente comissionados. Foi feito um mapeamento? Eles estão principalmente nessas pastas citadas?

Abílio Júnior – Sim, mapeamos, mas não estão especificamente nessas pastas. Para se ter uma noção, temos 22 secretarias. Trocando para 11, que é o que queremos fazer, já vai cortar muita coisa. Cada secretaria tem um monte de departamentos iguais que podem ser tirados.

Um exemplo: a Saúde tem cinco mil funcionários, entre efetivos, contratados e comissionados. Só ali nós temos em torno de duas mil indicações políticas. Mas eu trato essa pasta com um carinho especial, não vou generalizar, porque tem indicado político que está ali porque o único jeito de ele trabalhar na Saúde é dessa forma.

A Prefeitura não faz concurso, processo seletivo. Aí, a pessoa quer trabalhar como enfermeiro, médico ou qualquer outra área da saúde, vai na Prefeitura e os “paus-mandados” da secretaria dizem que ele tem que procurar um vereador, levar uma cartinha. Ao invés de criar um processo transparente, impessoal, que faça com legalidade um processo de contratação, não. Na secretaria, eles já orientam a corrupção do processo.

Alguns são desqualificados mesmo, mas boa parte [dos indicados] tem capacitação, mas sofre para conseguir um emprego digno e precisa pedir benção de um vereador.

MidiaNews – Sabe-se que muitos servidores efetivos ocupam cargos DAS. Reduzindo estes cargos, vai reduzir os ganhos de muitos efetivos. Não teme ser rejeitado pelos servidores concursados de Cuiabá?

Abílio Júnior – Quem está em cargo comissionado, hoje, na Prefeitura de Cuiabá não está lá por mérito. Primeira coisa que coloco é isso. Como exemplo, vamos colocar três pessoas aqui que eu posso desqualificar facilmente e eu faço esse papel com pessoalidade, porque não estou nem aí.

Míriam Pinheiro, que é tipo sobrinha de segundo ou terceiro grau do prefeito, se é que é. Às vezes, usa só o sobrenome e fala para todo mundo que é parente. Ela é coordenadora da rede primária de saúde. Pega o currículo dela. Você acha que com certeza ela fez um curso de saúde coletiva, tem preparo para isso? Patavina nenhuma. É parente do prefeito e foi colocada no cargo.

Altair Paixão, formado em Turismo, estava coordenando a UPA do Pascoal Ramos. Qual é a qualificação técnica dele? Vai lá na UPA passear? É um guia turístico para a UPA? Qual é a formação dele para estar lá?

Cleiton Miranda, outro cara formado em Turismo, estava coordenando a Central de Distribuição de Medicamentos.

Tinha outro cara de tornozeleira coordenando a Policlínica do Verdão. Colocaram um cara que é líder comunitário, carregou Emanuel no colo na campanha, desqualificado de uma vez, que coordenou a Policlínica do Pedra 90 e agora está coordenando a UPA da Morada do Ouro, que todo dia está um caos.

Isso são pessoas que identificamos pela CPI da Saúde. Não havia sequer uma verificação de qualificação técnica das pessoas para colocar em cargos de alta complexidade.

Imagina você estudar anos, formar e ter que obedecer a um cara desqualificado, porque ele foi colocado como diretor da unidade? Tem algo mais desmotivador para o trabalhador do que ver uma pessoa desqualificada mandando em você que é preparado?

MidiaNews –  O senhor defende uma nova forma de fazer política. Imagino que queira ter uma relação diferente com a Câmara de Vereadores, caso eleito. Em sua gestão, não haverá indicação de vereadores para cargos no Executivo?

Abílio Júnior – Não é só acabar com essa política. Eu aprendi muito na Câmara Municipal a partir do momento em que renunciei ter essa conexão com a Prefeitura. Foi uma renúncia pessoal, no terceiro mês de mandato, antes do vídeo do paletó, que apareceu oito meses depois dele iniciar o mandato. Naquela ocasião, o prefeito mandou um recado para mim. Eu estava fiscalizando as UPAs e policlínicas e ele já estava meio irritado comigo. O Oseás Machado, que era o cara do prefeito que fazia a conexão com a Câmara, pegava os currículos dos vereadores e levava para a Prefeitura. Ele dizia que “quem ajuda a ganhar, ajuda a governar”. E nisso o prefeito dizia para levar alguns nomes para ajudar a compor a Prefeitura. Eram 700 cargos, que deveriam ser ocupados por pessoas técnicas. Todos cargos comissionados, de livre nomeação, permitidos pela lei. Eu devia indicar nove currículos. E eu busquei pessoas com as funções das quais eram permitidas, inclusive uma ficou mesmo após eu virar oposição, porque é qualificada para o cargo. Nisso, chegou um projeto de lei na Câmara e me avisaram que era um teste de fidelidade. O projeto era para a separação das secretarias de Governo e Comunicação e para mim não fazia sentido, porque elas já funcionavam de comum acordo.

Eu votei contra, fiz discurso contra e me posicionei. O Oséas chegou em mim logo depois da sessão e disse que os cargos que eu indiquei para a administração pública não seriam nomeados, porque eu tinha traído a confiança do prefeito. Eu questionei se não podia votar de acordo com a minha consciência e ele me dizia que não era assim que funcionava, que somos um time, que tínhamos que andar juntos, que não podia questionar quando o prefeito dava uma sugestão de pauta.

Eu não entendia nada, estava no terceiro mês de mandato, ainda cru. Aí, ele falava que o líder do prefeito eram que dava a carta e você tinha que seguir a cartilha. No outro dia eu fui na Prefeitura, mandei devolver os currículos e disse que não ia deixar usar nenhuma pessoa que indiquei como refém e eu não ia fazer esse jogo. Eu valorizo bastante a minha independência e uma das coisas que eu odeio é faca no pescoço. Odeio chantagem. Se vier falar para mim que se eu fizer algo, tal coisa vai acontecer comigo, aí que eu faço. E foi assim que, no terceiro mês, eu virei oposição do prefeito. Fui o primeiro a virar oposição.

MidiaNews – Caso seja eleito, é possível que o senhor encontre uma Câmara ainda controlada pelo grupo do qual o senhor é adversário. Teme que isso ocorra? E se ocorrer, qual será a relação?

Abílio Júnior – Mas hoje eu conheço a Câmara. Vamos dizer que fiz uma faculdade de três anos e meio na Câmara e estudei meus adversários. Não temo que isso ocorra. Eu fui cassado e não temi. A minha relação com a Câmara deve ser institucional. Cada dia mais acho que a Câmara e a Prefeitura de Cuiabá deveriam ter uma relação institucional filtrada pela Polícia Federal.

MidiaNews – Então, vê a Câmara ainda como um “puxadinho” da Prefeitura?

Abílio Júnior – Não, a Câmara não, porque ela é uma instituição. O que forma o “puxadinho” da Prefeitura são os “paus-mandados”. Não se pode tratar a Câmara como um todo. Porque eu estou na Câmara e não sou um “puxadinho” da Prefeitura, assim como o Diego Guimarães, o Felipe Wellaton, o Dilemário Alencar, o Marcelo Bussiki. Cada um deles age de acordo com a sua consciência e tem a sua independência.

O que traz a imagem negativa para a Câmara é a submissão do presidente da Câmara, os vereadores. Eu penso que não faz sentido nem ter líder do prefeito, porque se o cara está ali para fiscalizar o prefeito, como que ele vai representá-lo? É como se o prefeito tivesse um vereador ali dentro para não fiscalizar. Então, a Câmara não tem 25 vereadores, tem 24.

Midianews – O relacionamento entre a Câmara e o Executivo é de “refém”, então?

Abílio Júnior – É um refém do outro e muitas vezes vejo mais o prefeito como refém da Câmara. No caso do paletó, todo mundo viu o vídeo e tira a sua interpretação e ele está na pior situação possível, porque os vereadores têm o poder de caçá-lo por quebra do princípio da moralidade na administração pública. E ele está o tempo todo sendo chantageado pelos vereadores. Muita gente acha que os vereadores defendem o prefeito [Emanuel Pinheiro]. Eu vejo um cara que está sendo chantageado da mesma forma que é um cara que tira proveito da situação. Ele montou uma relação de cumplicidade. Alguns o deixam fazer coisas erradas desde que ele também faça “vista grossa”. Por que você vê tantos vereadores se desgastando para defendê-lo? Uns, porque são cúmplices e outros são idiotas. Não está ganhando nada, está só se queimando e acha que faz parte do time. Daí vai perder o mandato, não vai ser reeleito, mas fez parte do time.

Tem vereador que usa máquina da Prefeitura para limpar terreno privado e a Prefeitura faz vista grossa. Tem outro lançando loteamento por aí com todas as irregularidades possíveis e o prefeito faz vista grossa. Tem vereador que manda nas unidades de saúde de Cuiabá, escolhe quem vai ser nomeado e quem vai ser exonerado. E o prefeito faz vista grossa. Ele não tem mais domínio da Prefeitura. Fala pra mim que ele tem o controle da Secretaria de Serviços Urbanos? É do PV. O José Roberto Stopa saiu para se tornar vice do Emanuel e indicou quem ia ficar. Foi o Stopa quem escolheu. O PP tem a Secretaria de Obras.

É loteamento de cargos, de contratos, de veículos, de obras públicas, enfim, a Prefeitura tem um relacionamento corrupto com a Câmara de Cuiabá. Eu, claramente, posso afirmar isso. Se os cargos que deveriam ser ocupados por concurso público são ocupados por indicação política, é corrupto. E posso afirmar isso porque consta no relatório da CPI da Saúde, que foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal.

MidiaNews – Se eleito, pensa, por exemplo, em renegociar o duodécimo da Câmara?

Abílio Júnior – Para isso ser aprovado, precisaria ter a maioria na Câmara. Mas o duodécimo da Câmara deveria, sim, ser renegociado. Para se ter uma noção, a Câmara só aumentou o orçamento dela de 2017 para agora, bem como a Prefeitura também aumentou, mas os trabalhos prestados pela Câmara não geraram resultados que justifiquem esse aumento. É como se você aumentasse o salário de um cara que está dormindo.

MidiaNews – Os embates políticos realmente começaram agora, inclusive com troca de pedidos de impugnação de candidatura. Recentemente, o prefeito Emanuel Pinheiro, seu principal adversário, o acusou de desequilibrar o pleito ao promover um “adesivaço” em frente à Câmara de Cuiabá. Teme ter problemas jurídicos por causa desse fato?

Abílio Júnior – O Emanuel tem que cuidar da Prefeitura. Ele ainda é prefeito e eu ainda sou vereador. E ele pode ser prefeito, mas não é dono da cidade. E a Câmara Municipal se limita ao espaço administrativo da porta para dentro. A legislação veda o uso político da Câmara Municipal de Cuiabá. A Praça Pascoal Moreira Cabral, o Centro Geodésico América do Sul, é um espaço público aberto e a legislação permite o uso de praças para se falar de política. A Gisela [Simona] não fez um ato político na Praça Alencastro?

Então, não há temor algum. Isso é o cara com medo do nosso nome crescendo nas pesquisas.

MidiaNews – O prefeito tem ingressado na Justiça com várias ações contra os adversários, inclusive o senhor. Como vê essa guerra jurídica?

Abílio Júnior – Divertida. Porque cada vez que ele tenta nos desconstruir, anular a nossa candidatura, a gente percebe que está bem. Por que ele iria gastar o tempo do advogado dele para derrubar uma candidatura que não vai ganhar? É simples. Eu não o vejo entrando com ação contra o Psol, o Novo ou outro partido que não alcançaram determinado destaque no ranking eleitoral. Eu não o vejo brigando com outros candidatos. Eu o vejo pegando no meu pé e no do França e da Gisela. Essa preocupação é natural, tendo em vista que ele sabe que vai perder.

MidiaNews – O seu nome tem crescido nas pesquisas eleitorais recentes, mas em algumas aparece em uma “boa briga” com o ex-prefeito Roberto França. Acompanha essas pesquisas? Qual a leitura faz da corrida eleitoral nesse momento? 

Abílio Júnior – Primeiro, eu sou grato a Deus. E também à população pela confiança que tem depositado em nós. Até porque, para responder pesquisa eleitoral, a pessoa se expõe. E tem muita gente que mente, porque não sabe se a pesquisa é, de fato, um levantamento eleitoral ou se é encomendada por um candidato que tem nas mãos a vaga dela no serviço público, que comprou seu voto e a está espionando para saber se realmente ela vai votar nele.

Mas vejo os resultados atuais com muita alegria porque não tenho dinheiro para pagar uma pesquisa eleitoral e, por isso, não tenho como encomendar uma pesquisa que eu vou sair na frente. E ainda assim estou crescendo na pesquisa que os outros encomendam.

Não me guio por pesquisas. Até porque Bolsonaro não vencia ninguém no segundo turno, segundo as pesquisas, até aquelas feitas pelos grandes institutos. A pesquisa é um norte, um termômetro, mas na maioria das vezes ela não condiz com a realidade.

MidiaNews – Acha que o França é o seu principal obstáculo para um segundo turno? Deve focar em apontar possíveis defeitos da gestão dele também?

Abílio Júnior – Eu não acho que é necessário. Tem gente pedindo para eu parar de bater nos outros e focar em apresentar minhas propostas. Eu acredito que o França, a Gisela, os demais candidatos terão espaço para falar suas idéias. Eu acho desnecessário ficar batendo em França ou Gisela. Eu acho a Gisela uma mulher muito bacana, gente boa, e não vou desmerecê-la só porque é minha adversária política. E o França é um cara que tem sua história e sua trajetória. Política passa. E a reputação? Se eles me atacassem, eu teria motivo para contra-atacar, mas isso não aconteceu.

MidiaNews – Essas pesquisas também mostram Emanuel sempre em primeiro lugar. Reconhece esse favoritismo na disputa como resultado das obras que ele exalta ter realizado nos quatro anos de governo ou atribui a posição apenas ao uso da máquina pública?

Abílio Júnior – O que observo bastante é que essa popularidade que ele diz ter não se reflete nas ruas, que é o maior termômetro. Fui gravar um programa eleitoral e fui constantemente abordado por eleitores, manifestando apoio. Será que se o Emanuel percorrer as ruas, isso vai acontecer? Sem a necessidade de ele contratar pessoas e uma produtora para fazer isso? Eu faço um desafio: teste de rua. Vamos lá na Avenida Mato Grosso e ver o que eles vão falar para você?

MidiaNews – A sua postura na Câmara de Cuiabá sempre foi combativa e, como disse recentemente, acabou se tornando uma “subcelebridade”. Se arrepende de alguma coisa? Teme que seus atos, de alguma forma, possam ser usados contra o senhor nessas eleições?

Abílio Júnior – Eu me arrependo da exposição da minha vida pessoal, não da pública. Existe uma separação entre as duas e eu demorei para entender isso. Eu deveria ter sido mais reservado com a minha pessoal, porque a forma como a gente vive influencia no mundo político. E eu me arrependo de ter dado muita arma para eles. Por que a partir do momento que eu expus a minha vida pessoal, eles exploraram muito, já que não podiam atacar minha vida pública: não podiam me chamar de corrupto ou improdutivo. Então criaram a narrativa de que sou louco, brigão, mesmo eu não tendo agredido ninguém. É mais fácil tachar outros lá na Câmara com problemas de sanidade mental, como aqueles que tentaram tirar meu celular da mão na porrada.

MidiaNews – Como recebeu aquela fala da suplente de vereadora, Luciana Zamproni, que falou para o senhor lavar a boca para falar dela? Muitos acusaram o senhor de ter agido de forma machista naquele momento. Considera que tenha errado naquele episódio?

Abílio Júnior – Não me arrependo de ter falado da forma como falei com ela. Dentro do parlamento, ela é uma vereadora. Sem diferença de gênero. É incoerente. Querem que as mulheres sejam tratadas iguais aos homens, tenham os mesmos direitos, mas dentro do Parlamento ela tem que ser tratada como uma princesa, dona do lar, enquanto o homem pode fazer enfrentamento político. A mulher, normalmente, tem que trabalhar dobrado, lutar mais que o homem para conseguir o mesmo espaço no trabalho, na política, para provar que é capaz. Ela não tem vantagem por ser mulher. Cadê o feminismo nessa hora?

Acho que o feminista ali fui eu, que briguei com ela por ser “pau-mandado” do prefeito, do mesmo jeito que já briguei com Toninho de Souza, Renivaldo Nascimento, Chico 2000. Aí, ela fala: “Não grita comigo”. Eu não gritei com ela. Eu falei duro. Eu falo desse mesmo jeito com todos os que se posicionam no papel de “pau-mandado” do prefeito. É esse protecionismo que faz mulheres incompetentes ocuparem espaços públicos. E quando elas chegam lá e passam vergonha, explica porque não temos representante feminina. E não é porque mulher não quer votar em mulher. 51% do eleitorado é feminino. Não tem tantas mulheres lá porque chegam umas mulheres ruins e ninguém gosta.

MidiaNews – O senhor fez duras críticas à burocratização existente na Prefeitura, que hoje dificultaria o setor da construção civil na Capital. Como sugere que essa desburocratização seja feita? A automatização não pode ser vista como uma janela para fraudes?

Abílio Júnior – A fraude pode ser investigada. A gente não pode penalizar todo mundo porque alguém vai cometer erros. Eu acredito que tenha que ser diferente. Você pode beneficiar todo mundo que seja de boa-fé e penalizar aqueles que fraudaram. Por que eu não posso dar o alvará automático na hora? Você protocola os documentos e sai o alvará de trabalho. E aí o analista vai ver e aquele que estiver irregular, mande um fiscal no local para fazer a apuração e orientar para regularizar.

Ele não precisa chegar multando. Ele pode explicar, orientar e dar um prazo para regularização. Penaliza quem faz errado. Quem faz certo, ajuda. Hoje, a Prefeitura penaliza quem faz certo, porque ela segura o alvará de obras, ela não deixa a obra ter início, ela atrasa a análise de projetos, demora, e libera depois de seis meses, quase um ano. Isso acaba prejudicando os investimentos na cidade, porque é mais fácil você conseguir o financiamento de uma obra pelo banco do que você aprovar a própria obra na Prefeitura.

Da forma como é hoje, a Prefeitura incentiva a fazer o errado. A burocratização em qualquer esfera do poder incentiva a corrupção. Se está demorando para aprovar um projeto, é óbvio que vai aparecer um lobista dizendo que tem a solução para ser aprovado mais rápido. Hoje, a propina, a corrupção é estabelecida para desburocratizar, quando o sistema já poderia ser desburocratizado.

MidiaNews – O seu grupo fez um levantamento da saúde financeira da Prefeitura? Acha que há um excesso de endividamento?

Abílio Júnior – Fizemos. A Prefeitura caiu de 31% dos investimentos para 23%, de 2016 para 2018. E ela aumentou o endividamento dela, pegando empréstimo em dólar sem ter o valor dele fixado, fez uma pedalada fiscal agora de pouco mais de R$ 300 milhões dizendo que houve superávit de arrecadação, quando esse superávit nem foi tão alto. Essa fiscalização aponta que a Prefeitura de Cuiabá não tem saúde financeira tão boa, porque boa parte dos recursos é gasto com folha de pagamento e a outra parte é gasta com terceirizadas que tem folhas de pagamento dentro das terceirizadas.

Sem falar os R$ 15 milhões gastos com semáforos inteligentes. A Prefeitura fez diversos gastos irregulares. Ela deve muitos fornecedores da Saúde, deve o cara que fornecia gás para a cozinha das escolas, o outro que fornecia medicamentos também não recebeu. A Prefeitura é má pagadora, porque prioriza o jeitinho. Não falta dinheiro. Dinheiro tem. Arrecadação é de R$ 3,3 bilhões. Não falta dinheiro, falta honestidade. Olha o problema que houve na Saúde com a compra da Ivermectina. Se fosse problema de dinheiro, não teria como pagar nada superfaturado.

MidiaNews – No ano passado, o Tribunal de Contas do Estado notificou a Prefeitura por estar dentro de um dos limites para gastos com folha salarial. Pagar a Revisão Geral Anual (RGA) dos servidores públicos está em seus planos?

Abílio Júnior – O servidor se incomoda com a RGA achando que ela é a valorização do seu trabalho. Por que o servidor tem que ganhar mais que o cidadão comum? Por que o percentual de reajuste salarial do servidor tem que ser maior do que o percentual do reajuste do salário mínimo?

MidiaNews – Então, é contra a RGA?

Abílio Júnior – Não, eu sou a favor da equidade. Se o salário mínimo aumentou R$ 22 em cima do valor atual, isso representa quanto em porcentagem? Que faça o mesmo para o servidor. O percentual que é justo para reajuste no salário mínimo, que seja justo para o salário do servidor público. Assim não há desigualdade. O que o servidor público produz de riqueza? Ele ajuda a executar e administrar a riqueza do pagador de impostos, não vou nem chamar de contribuinte porque é compulsório. O cara se mata para trabalhar e pagar seus impostos para a Prefeitura e o funcionário da Prefeitura vai ter um aumento salarial maior do que o dele que paga a remuneração. É lógico que o servidor público sempre é trabalhado na questão eleitoral, porque representa 18% da população em Cuiabá. Mas só vejo tratar deles economicamente falando, sobre quanto vai custar no bolso. Cadê a cobrança de produtividade do servidor público? Eu sou a favor de pagar por produtividade.

MidiaNews – Já tem ideia de quanto vai gastar nessa campanha. E de onde vem o dinheiro?

Abílio Júnior – Estamos fazendo uma campanha sem dinheiro. Não temos dinheiro sequer para contratar uma produtora. Estamos usando o celular e tem um amigo que tem uma câmera e está nos ajudando. Mas o que temos percebido é que a mesma população que nos pede para sermos candidatos, que sabe que abri mão de uma reeleição tranquila, mas entrei para o tudo ou nada, entende que precisamos de doações. Não precisa ser milhões. Podem ser dois adesivos perfurados, que custam aí R$ 25 cada. Nem temos ideia de quanto podemos gastar porque não temos dinheiro. Vamos gastar o quanto conseguirmos arrecadar.

MidiaNews – Pode elencar quais os principais projetos do seu plano de Governo, para a saúde e educação, por exemplo?

Abílio Júnior – O nosso plano de Governo tem umas 43 páginas, 240 propostas em 19 eixos. Estamos em primeiro lugar no ranking da pesquisa que vi ontem. Falta de proposta, ninguém vai poder dizer que é. Focamos muito na saúde, desde a bucal até a mental, coletiva.

Vamos no básico. Vamos falar sobre atendimento na rede pública de saúde. Por que você tem que sair do trabalho para tentar marcar uma consulta para daqui a 30 dias, chegar lá e pedir um atestado para justificar sua ausência no emprego. Por que a Prefeitura não pode ter um aplicativo ou usar o WhatsApp para agendar consultas, exames, acompanhamentos, saber qual médico está atendendo. Nas cidades mais inteligentes tem. É básico e as pessoas acham que é de outro mundo.

Nós somos a cidade mais rica e a maior do Estado de Mato Grosso. Por que não temos um Centro de Especialidade Médica, Centro de Especialidade da Saúde da Mulher, Centro de Especialidade em Ortopedia?

Por que não usamos um sistema de voucher? Levanta quanto custa para a Prefeitura comprar um equipamento. Serviço de saúde em Cuiabá é prestação de serviço, que paga ISSQN. O cara que presta serviço não quer pagar o imposto. Por que não cria um banco de crédito de imposto que vai gerando a cada serviço realizado, acumulando e quando o cidadão precisa de um exame a Prefeitura repassa o voucher para o usuário, que vai na empresa, realiza tudo e o valor é descontado, abate no seu imposto? Para o empresário, se fizesse isso, ele veria o imposto sendo pago na frente dele.

Se eu crio um sistema de voucher, eu não preciso construir um prédio, contratar profissional, comprar equipamento, pagar energia, e ainda vou dar um serviço de ponta para o cidadão e zerar a fila de espera.

Então, existem coisas que precisam ser construídas e outras que precisam ser inteligentes para administrar. E a Prefeitura não está nem construindo, nem sendo inteligente. Não são propostas mirabolantes, são lógicas e racionais.

Na educação, por exemplo, tomo como referência as escolas de Lucas do Rio Verde. Os prédios são bonitos, tem aulas de arte, piscina. Piscina não é coisa cara. Semáforo inteligente, é. Pensa se você estimular a criança a não ter uma relação com a escola que não se baseie apenas em quadro negro, papel e lápis na mão e o professor falando? Poderia ter um campeonato escolar com esportes variados. O pai quer ir para a escola torcer pelo filho, o aluno tem que ser motivado. É a competição que o faz ser motivado. Não é esse “mimimi” de que só porque participou, ganha medalha. Dê medalhas para quem venceu. Eu gostaria de ver uma escola participando de um torneio, como se fosse o campeonato brasileiro, com contagem de pontos, com participação de alunos de todas as séries classificados por sua faixa etária e tudo o mais. Fazer um campeonato municipal escolar. No final do ano letivo, você vai saber que lugar ficou. O aluno pode participar todos os anos até sair da rede escolar. E não só esporte: campeonato de fanfarra, torneio de matemática, de xadrez.

E essas coisas não são caras para serem implantadas. É uma questão de prioridades.

Com Informações do Site MidiaNews