MT é visto como esperança para ajudar a salvar o mundo da falta de alimentos

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Por mais que produza, o campo não consegue atender à demanda mundial de alimentos, principalmente pelo aumento populacional. O estoque de passagem não existe mais.

Essa realidade acendeu a luz amarela do Relatório Global de Crise Alimentar 2020, publicado pelo Programa Mundial de Alimentação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

E, agora, com a pandemia do novo coronavírus abalando a economia e reduzindo o poder de compra em todos os continentes, o que acontecerá?

A solução para assegurar a mesa farta tem que ser buscada mundo afora, incluindo a economia rural mato-grossense, que é um dos pilares da segurança alimentar do planeta.

Um dos líderes ruralistas regionais, Rui Prado destaca que o agronegócio é a pedra angular para o esperado novo normal.

Num jargão do campo, lembra que Mato Grosso é a “Fazenda do Mundo” e que pode ser estratégico para assegurar o pão de cada dia nas mesas, sem que para tanto seja preciso desmatar um hectare sequer de cerrado ou floresta.

Antes de qualquer equação financeira para se conseguir a refeição, é preciso produzi-la.

Antes da pandemia havia fome, sobretudo, na África e Ásia.

Um relatório da FAO cita que, em 2019, em 55 países e territórios, 135 milhões de cidadãos se desfizeram de bens para comprarem comida.

Naquele ano, o mundo produziu 433 milhões de toneladas agrícolas para a então população mundial de 7,5 bilhões de indivíduos.

Não há nenhum estudo conclusivo sobre a demanda alimentar per capita, pois os hábitos alimentares variam de região para região, e alguns povos se alimentam com pescado, frutos do mar, frutas nativas, carne de pequenos animais e leite de cabra.

Estudos à parte, autoridades internacionais concordam que mesmo a produção sendo deficitária ela teria melhor alcance se houvesse um programa universal de segurança alimentar calcado numa boa logística e que não se prendesse às barreiras ideológicas nem fronteiras territoriais.

Sobre esse cenário, mesmo antes ou sem a criação de um programa dessa natureza, Rui Prado, que é produtor rural, veterinário e ex-presidente do Sistema Famato, avalia que a economia mato-grossense tenha a faca e o queijo na mão para se fortalecer no cenário pandêmico e após a crise sanitária.

Respondendo por 28,9% da safra de grãos do Brasil, Mato Grosso é a conjugação de fatores que concorrem para essa macroprodução.

Divulgação

Rui Prado

Prado: a economia mato-grossense tem a faca e o queijo na mão para se fortalecer no cenário pandêmico e após a crise sanitária

A soma da topografia com luminosidade, regularidade hídrica e a vocação dos produtores rurais resulta na liderança nacional nas safras de algodão, soja e milho safrinha.

Somem-se a ela a utilização da mais avançada tecnologia casada com os mais modernos princípios agronômicos para as lavouras tropicais no mundo.

Mesmo assim, o mau humor climático dos últimos anos assusta e mexe no bolso da cadeia econômica do agronegócio.

Na safra de soja 2020/21, de 10,3 milhões de hectares à espera da colheita, a inconstância das chuvas nos primeiros dias frustrou o ciclo vegetativo das plantas em 257.550 ha (2,51%), o que eleva seu custo de produção.

Rui Prado observa que para o brasileiro a fome é vista apenas como noticiário, e alerta para essa realidade que poderá se agravar e ganhar contornos de agitação social.

“Até que mesmo aqui (no Brasil), a distribuição dos alimentos não é justa, porque ele existe, mas nem todos podem compra-lo”, salienta.

Segundo ele, a criação do Auxílio Emergencial pelo governo federal garantiu o pão de cada dia para muitos brasileiros, e que se não houvesse essa política as consequências poderiam ser graves.

Nesse aspecto, entra em cena a Fazenda do Mundo, que produz e pode aumentar ainda mais a produção, mas para tanto é preciso que haja um programa universal de segurança alimentar e que cessem as pressões ambientais, agrárias, indigenistas e tributárias sobre quem produz e que se dê ao campo as garantias jurídicas que oram lhe faltam.

Para Prado, retirar pressão ambiental não significa liberar o desmatamento.

Ele se posiciona contrário aos que desmatam irregularmente e os chama de “criminosos”. Porém, área onde é permitido o corte raso, que se proceda o mesmo, em conformidade com a legislação ambiental brasileira, considerada a mais rígida do mundo, e que somente autoriza antropização em 20% das florestas nas propriedades na Amazônia Legal.

O que seria a bala de prata sugerida por Rui Prado contra a fome?

De imediato, nada menos do que aumentar em 50% a área cultivada com grãos em Mato Grosso. Mais preciso ainda: saltar de 10 milhões/ha para 15 milhões/ha, e no passo seguinte dobrar de 10 para 20 milhões/ha o cultivo agrícola com a migração de lavouras para as áreas de pastagens degradadas ou em processo de degradação.

Isso, sem prejuízo para a pecuária estadual, que tem o maior rebanho bovino nacional, com mais de 30 milhões de cabeças de mamando a caducando, e com capacidade instalada para confinar mais de 800 mil animais.

Mato Grosso tem 10 milhões/ha de pasto degradado pelo pisoteio, erosão e falta de reforma. Outros 5 milhões/ha avançam nessa direção.

Num processo gradativo com ações dentro e fora das cercas das fazendas, é possível cultivar arroz nos dois primeiros anos e, na sequência, plantar soja em rotação de cultura com o milho safrinha ou o algodão nessas áreas.

E o boi? O rebanho, pra onde vai?

Rui Prado observa que a tendência do setor pecuário é o confinamento e o semiconfinamento

. Em suma: espaço mínimo para o máximo de cabeças, mas sem excluir a pecuária tradicional com suas invernadas.

O ganho em área de cultivo mesmo para a realidade agrícola mato-grossense seria “enorme”.

Com mais 5 milhões/ha, em três anos a produção de soja saltaria dos atuais 35,4 milhões/t para 53,1 milhões/t.

Isso é factível, pondera Rui Prado, observando que a leguminosa e carro-chefe da economia rural não pode ser vista somente pelo óleo vegetal que a popularizou, mas, sobretudo, por sua múltipla destinação com destaque para a fabricação de ração para peixes, caprinos, ovinos, suínos, aves e bovinos, além de produtos que substituem a linha de lácteos.

Aumentar em 50% a área cultivada em Mato Grosso significa gerar empregos da porteira para dentro, e mais ainda no transporte, agroindústria, indústria automobilística que produz máquinas e implementos agrícolas, fabricação de aviões aeroagrícolas e em outros segmentos econômicos.

A expansão das lavouras teria impacto positivo sobre a balança comercial.

Em 2019, a exportação de commodities agrícolas mato-grossense foi a maior entre os estados e alcançou US$ 16,6 bilhões (FOB), respondendo por 17,33% do volume faturado pela economia rural brasileira no mercado internacional.

No cenário defendido por Rui Prado, em tese esse montante saltaria para US$ 24,9 bilhões (FOB), o que seria um crescimento nunca registrado no Brasil em tão pouco tempo.

Em suma, a fome se agravará com a pandemia.

Além dessa situação, nas populações nas faixas sociais mais próximas da linha da pobreza, falta uma em cada cinco calorias necessárias ao homem.

O alerta é do economista da FAO, Máximo Torero Cullen.

Esse quadro começa a mobilizar a FAO, Organização Mundial do Comércio (OMC) e a União Europeia.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defende a convergência das nações para assegurar a alimentação ao planeta.

No Brasil, há política pública para recuperação de pastagens e de fomento à agricultura, mas nenhuma nos moldes que a urgência social clama.

Algo que ofereça total condição para a expansão da lavoura, sem prejuízo do cumprimento da legislação ambiental, mas sem as pressões sob as quais os produtores rurais trabalham. A fome que tende a aumentar tem que ser vencida.

No centro da América do Sul, um lugar chamado Mato Grosso, que, segundo Rui Prado, é a Fazenda do Mundo, tem condição de aumentar sua oferta de alimentos e, assim, contribuir para que o ser humano, independentemente do país onde viva, risque de seu dicionário a palavra hambre, hunger, fam ou simplesmente fome, que é como nós a conhecemos.

Fonte: Diário de Cuiabá