Dilemário alerta que se Emanuel insistir em gerir Cuiabá, seu futuro será na prisão

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O vereador Dilemário Alencar (Podemos) afirmou que o futuro do prefeito afastado de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), será igual a do ex-governador do Estado, Silval Barbosa, caso ele insista em continuar no comando do Palácio Alencastro.

Silval foi preso em 2015 por crimes de corrupção contra o sistema financeiro, obtenção de vantagens indevidas, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraudes em licitações e contratos.

Já Emanuel foi afastado na última terça-feira (19) por decisão do Tribunal de Justiça no âmbito da Operação Capistrum, que investiga um esquema de nomeações e pagamentos de verbas ilegais na Secretaria de Saúde, para acomodar e atender compromissos de aliados políticos, principalmente vereadores.

“Se o prefeito insistir em continuar gerenciando a nossa cidade, vai vir operações em cima de operações… E qual vai ser o final dele? Será a cadeia. O futuro dele será o mesmo do ex-governador Silval Barbosa e companhia. Basta, chega”, disse o vereador em entrevista ao MidiaNews.

Dilemário disse que a gestão do prefeito afastado é “uma máquina de escândalo e corrupção” e declarou que ele não tem mais “condição moral” para administrar a cidade.

Ainda na entrevista, o vereador falou sobre o pedido feito pela oposição para abertura de uma comissão processante contra o prefeito afastado e pediu para a sociedade cobrar os parlamentares que ajudou a eleger a votar a favor da propositura.

Leia os principais trechos da entrevista: 

MidiaNews –  Como analisou a decisão judicial que determinou o afastamento do prefeito Emanuel Pinheiro?

Dilemário Alencar – Não recebi com surpresa, porque desde 2018 nós, vereadores da oposição, principalmente da legislatura anterior, apresentamos a CPI da Saúde. Eu participei de todas as oitivas dessa CPI e lá ficou bastante latente que havia esquema para desviar dinheiro da Secretaria de Saúde.

Tanto é que com o resultado dessa CPI, que foi enviada aos órgãos fiscalizados como o Tribunal de Contas, Delegacia de Combate à Corrupção, Ministério Público Estadual e Federal, acabou ajudando na deflagração da Operação Sangria, que prendeu e afastou o ex-secretário de Saúde Huark Douglas.

Depois dessa operação, veio mais quatro operações na Secretaria de Saúde. Se você for somar tudo, essas cinco operações que tiveram na Pasta, são mais de R$ 200 milhões de suspeitas de desvios. Superfaturamento de medicamento, contratações irregulares de UTI’s, respiradores, de pessoal…

Diante dessas operações, diante do afastamento de sete secretários na gestão, eu esperava sim, a qualquer momento, ele ser afastado. Eu acho que ele deveria ter sido afastado a muito tempo, porque a gestão do prefeito Emanuel Pinheiro virou uma máquina de escândalo e corrupção. Eu espero que o Emanuel não volte mais a comandar a Prefeitura de Cuiabá porque ele não tem mais condição moral de governar a nossa cidade.

MidiaNews – Essa situação levantada pelo Gaeco e pela Polícia Civil, de que havia um grande cabide de emprego na Saúde, já era de conhecimento da oposição?

Dilemário Alencar – Na CPI da Saúde, em 2018, já houve apontamentos de contratações de pessoas sem a qualificação necessária e competente para exercer cargos na Secretaria. O relatório da CPI já apontava a relação e nomes de indicados por vereadores que compunha a base do prefeito Emanuel.

Mas, o mais interessante é que quem levou essa denúncia foi o próprio secretário nomeado pelo prefeito Emanuel Pinheiro [Huark Douglas]. É bom deixar claro isso para a sociedade, que não é uma denúncia de um vereador da oposição, que poderia ter algum interesse político, mas sim, do próprio ex-secretário que foi nomeado por Emanuel. Ele falou lá na delação dele que essas contratações não tinha capacidade técnica para exercer os cargos e isso virou um ‘canhão político’, principalmente no ano de 2018, que teve eleição para deputado estadual, federal.

Eu penso que isso tem que ser levado ao Tribunal Regional Eleitoral para que essas pessoas possam ser investigadas também. Tem documentos, inclusive, que passaram pelo protocolo oficial da Prefeitura de ex-vereadores que são deputados hoje [Paulo Araújo e Elizeu Nascimento].

MidiaNews – A apuração desse esquema, de alguma forma, mancha também o Legislativo cuiabano?

“Emanuel não tem mais condição moral de governar a nossa cidade”

Dilemário Alencar – A gente não pode ser hipócrita. Indicações políticas sempre existiram tanto no Executivo como no Legislativo. Existem, inclusive, os cargos de comissão, que são cargos de confiança. Agora, a pessoa para preencher um cargo comissionado ou um contrato temporário tem que ter habilidade técnica para exercer.

Mas a gestão do prefeito Emanuel Pinheiro perdeu esse foco de qualificar essas indicações, essas contratações. E ficou muito nítido que era para colocar qualquer pessoa para fazer uso político dessas indicações. Isso é muito ruim.

Devido a essa falta de qualificação, a saúde bucal de Cuiabá, a odontologia, que já foi referência nacional, hoje é uma das piores do Brasil por conta dessas indicações sem qualificação técnica. Isso quem perde é a população.

Eu nunca tinha visto na história da Prefeitura Cuiabá o uso político com tanta força, principalmente na área de colocar pessoas sem a qualificação técnica. Eu acho que o prefeito agora está bem complicado.

MidiaNews – Considera que há clima para a abertura de uma comissão processante contra o prefeito?

Dilemário Alencar – As acusações que pesam contra o prefeito são contundentes. Para você ter uma ideia, o prefeito e outros agentes políticos tiveram suas contas bloqueadas no valor de R$ 16 milhões. Eu penso que a comissão processante pode apurar com mais detalhes a questão dessas nomeações irregulares. Agora, precisamos de votos suficientes para instalar. Para instalar a comissão processante, precisamos de 13 votos no mínimo. Por enquanto, temos apenas quatro votos.

O prefeito tem um forte alinhamento com a maioria dos vereadores. São 21 vereadores que apoiam o prefeito. Estamos conversando com cada um. Pedindo para os eleitores desses vereadores conversarem com eles. Porque agora não é questão de oposição e situação. Chegou o limite.

Emanuel não tem mais condição moral de continuar governando Cuiabá. Se ele voltar vai ser muito ruim para a cidade, inclusive para os vereadores que apoiam ele, porque as operações vão continuar acontecendo. Foi feito busca e apreensão na casa do prefeito, no gabinete dele. O chefe de gabinete do prefeito [Antônio Monreal Neto], que trabalha na antessala dele nos últimos cinco anos, está preso. Certamente vai acontecer desdobramento.

Cuiabá tem que se livrar dessa máquina de corrupção que virou a gestão do prefeito Emanuel Pinheiro. Ele foi o primeiro prefeito afastado judicialmente na história da nossa cidade. Foi o único prefeito que teve oito operações na sua gestão e sete secretários afastado por denúncias graves. Basta.

MidiaNews – Na quinta-feira houve um bate-boca entre o senhor e a vereadora Edna Sampaio a respeito dessa comissão processante. Um dos pontos destacados pela parlamentar é de que o ato acabe se tornando um “terceiro turno” das eleições. Não teme isso?

Dilemário Alencar – Eu vejo isso como uma desculpa esfarrapada da vereadora. O partido dela apoiou o prefeito Emanuel Pinheiro no segundo turno. Essa conversa fiada de terceiro turno não tem sentindo, porque ela vê todos os dias denúncias de pessoas lá na Câmara Municipal reclamando da falta de medicamentos. A comissão processante é até uma forma do prefeito se defender. Se ele não deve, porque estão temendo?

O que temos que ver é a corrupção latente na Secretaria de Saúde. Para mim é conversa fiada, sem nexo. Ela não quer combater à corrupção. O prefeito não foi afastado pela Câmara, foi pelo Poder Judiciário. Será que o desembargador Luiz Ferreira da Silva, que tem uma conduta ilibada, está errado? Eu acho que ela deveria levar em consideração, pelo menos, a decisão do desembargador.

MidiaNews – Outro ponto destacado nas investigações da operação é a interferência direta do prefeito e da esposa dele, a primeira-dama Márcia Pinheiro, na Secretaria de Saúde. Como viu essa suspeita?

Dilemário Alencar – Quando o ex-vereador Abílio Junior falou durante a campanha eleitoral de 2020 que era preciso demitir 3 mil servidores contratados, a máquina de fake news da Prefeitura desvirtuou a fala dele.

Nós já sabíamos que a Prefeitura estava aparelhada de cabos eleitorais. E agora ficou constatado. Na decisão do afastamento de Emanuel, o desembargador aponta que houve mais de 3,5 mil contratações de forma irregular na área da saúde.

MidiaNews – Uma das suspeitas do MPE é de que estas contratações e pagamentos irregulares também podem ter abastecido um esquema de “rachadinha”. O senhor tem conhecimento disso?

Dilemário Alencar – Olha, a gente escuta. Eu sou daqueles vereadores que fiscaliza muito. Vou muito nas unidades de saúde, nas unidades de educação, da assistência social e a gente sempre escuta que tem servidor que ganha tanto e devolve tanto. Que recebe o “prêmio saúde”, mas devolve. Mas geralmente a pessoa tem medo de denunciar.

MidiaNews – Uma das coisas gritantes nesta operação é a falta de critério para o pagamento do “prêmio saúde”. O senhor já tinha conhecimento desta irregularidade?

Dilemário Alencar – Esse prêmio virou uma caixa preta. Nós tentamos fiscalizar através da CPI da Saúde, foi enviado um relatório às autoridades competentes já apontando que o prêmio saúde não estava sendo usado para os profissionais na atividade fim. Nós remetemos vários casos.

O prêmio saúde foi usado pelo prefeito e outros agentes políticos para fazer politicagem. Se você for meu cabo eleitoral, coloco você na Secretaria de Saúde com salário de R$ 2 mil e prêmio saúde de R$ 1,5 mil. Conforme o caso eles pagavam até R$ 6 mil para um apaniguado político.

Estou conversando com os vereadores da oposição para apresentarmos um projeto de lei no sentindo de tipificar em lei de como ser aplicado esses recursos do prêmio saúde, porque nessa gestão foi gasto de forma irregular, desvirtuado.

Eu penso que isso vai resultar no super endividamento da Secretaria de Saúde devido a má gestão do prefeito Emanuel. Ele preferiu priorizar, inchar a folha com apaniguados. A Prefeitura, hoje, deve muito fornecedores. Tem fornecedores na Secretaria de Saúde que está há quatro, cinco meses sem receber. Nós temos tido dificuldade de fiscalizar isso. Mas, vocês vão ver.

A ponta do icerbeg dessa falta de gerenciamento, de contratações com pessoas incapacitadas, só para gastar o dinheiro público com contratações políticas, será o endividamento da Prefeitura com fornecedores. O próximo escândalo da Prefeitura, você pode escrever aí, vai ser o grande endividamento com fornecedores.

Hoje, ninguém mais quer vender para a Prefeitura. A Prefeitura está tendo dificuldades para promover novas licitações. A grande maioria está dando deserta, porque os empresários não querem mais ser contratados pela Prefeitura, porque ela já está com fama de mal pagadora.

MidiaNews – Como define a situação política de Emanuel Pinheiro depois desta operação?

Dilémario Alencar – Se eu pudesse dar um conselho ao prefeito Emanuel Pinheiro, falaria para ele entregar o chapéu. Ele não tem condição de governar Cuiabá mais. “Ah, mas o povo reelegeu ele”. As pessoas erram. Muitos que votaram no prefeito estão arrependidos. Se ele voltar a administrar Cuiabá, a tendência é a cidade paralisar. Nós precisamos de um prefeito que recupere as financias de Cuiabá.

Se o prefeito insistir em continuar gerenciando a nossa cidade, vai vir operações em cima de operações e qual vai ser o final dele? Será a cadeia. Eu não tenho dúvidas de que o futuro do prefeito Emanuel Pinheiro, se insistir em administrar a cidade da forma que está administrando, é a prisão. Futuro dele será o mesmo do ex-governador Silval Barbosa e companhia. Basta, chega.

MidiaNews – Então, qual sua análise sobre a situação?

Dilémario Alencar – Vamos fazer uma retrospectiva das últimas gestões. Qual prefeito de Cuiabá teve sete secretários afastados? Qual prefeito de Cuiabá teve oito operações desencadeadas por órgãos fiscalizadores?

Não dá mais. Isso é muito ruim para Cuiabá lá fora. Essa desastrosa administração do prefeito Emanuel vai custar muito caro para o povo cuiabano. Vamos levar tempo para recuperar nossa cidade. Volto a falar: o novo escândalo na Prefeitura será o endividamento da Secretaria de Saúde.

Se Emanuel gosta realmente de Cuiabá, do povo cuiabano, precisa colocar a mão na consciência, entregar o chapéu, deixar o vice dele administrar. Não volta mais, vai cuidar da sua vida, vai responder seus processos. Porque se ele voltar, vai continuar os esquemas de corrupção e o futuro dele será o Carumbé.

Fonte: Midianews