Delta já pode estar circulando em MT; médicas explicam transmissão mais agressiva

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Nesta semana, laboratório particular de Cuiabá confirmou a possibilidade de uma adolescente de 15 anos estar infectada com a variante Delta da covid-19. Apesar do sequenciamento genético feito pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) não ter ficado pronto e, por isso, o caso não ter sido oficialmente confirmado, a hipótese acendeu alerta em especialistas. As informações são do RD News.

Isto porque a variante de sigla B.1.6.1.7, originária da Índia, tem transmissibilidade até 97% maior do que a cepa original do novo coronavírus, conforme pontuou a médica pediatra e patologista Natasha Slhessarenko. Enquanto uma pessoa infectada pela cepa original tem a capacidade de transmitir o vírus para 2 ou 3 pessoas, a pessoa infectada pela variante Delta pode transmitir para até 8.

Dados atualizados do Ministério da Saúde apontam que já foram registrados 247 casos da variante no Brasil. Devido as dificuldades de controle decorrente da falta de testagem em massa, especialistas acreditam que número possa ser mais alto. Foram confirmados casos no Rio de Janeiro, Distrito Federal, São Paulo, Rio Grande do Sul, Maranhão, Santa Catarina, Goiás, Ceará, Minas Gerais e Pernambuco.

“Mas se não for esse caso, vai ser outro. Se é que já não tem outros. O que a gente sabe é que é uma variante que surgiu na Índia. Os primeiros casos no Brasil estavam próximos ao Maranhão, onde foram registrados vários casos. Depois São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná. Vai se disseminar. É uma variante que tem uma alta transmissibilidade como todas as outras”, explicou Slhessarenko.

Rodinei Crescêncio

M�dica Natasha Slhessarenko

Natasha diz que cepa original tem a capacidade de transmitir o vírus para 2 ou 3 pessoas. Já a pessoa infectada pela Delta pode transmitir para até 8

Epidemiologista, virologista e pesquisadora da Universidade de Mato Grosso (Unemat), Ana Cláudia Pereira acrescentou que mutação da variante Delta aconteceu em uma parte específica do vírus que faz com que ele se ligue à célula humana. Por isso, ele desenvolveu uma facilidade maior de invadir as células e sua transmissão é mais agressiva.

“Outro ponto importante também é que tendo essa mutação com a facilidade que ele tem dentro da célula, ele vai se reproduzir de uma forma muito mais rápida no organismo. Quanto mais vírus a gente tem dentro do organismo, maior é a chance que a gente tem de desenvolver uma forma mais agressiva da doença, que necessite de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que possa consequentemente levar ao óbito”, pontuou a pesquisadora.

Alerta

Arquivo pessoal

Epidemiologista e  Virologista Ana Cl�udia Pereira Ter�as Trettel

Epidemiologista e Virologista Ana Cláudia Pereira Terças Trettel explica como ocorrem  mutações da covid e alerta para necessidade de acelerar vacinações

Quando o vírus entra no corpo, ele utiliza as células do ser infectado para produzir outros vírus distintos. Se José pegou a covid-19 de Maria, por exemplo, ele será infectado por um vírus com um “adicional” de células da mulher. Por isso, mutações são consideradas normais pelo meio científico. O grande problema é que enquanto algumas são fracas e até morrem e param de se reproduzir dentro do organismo, outras têm grande capacidade de reprodução.

“Dependendo do lugar do vírus onde ocorre essa mutação, essa mutação pode ter um grande impacto, ter impacto nenhum ou impacto moderado. No local onde ocorreu a replicação da variante Delta, que é o local onde o vírus se liga na célula, ele se mudou e facilitou essa ligação”, esclareceu Pereira.

A consequência lógica da alta transmissibilidade é que mais pessoas sejam infectadas pelo vírus. Com isso, outro risco da variante Delta é que outra variante mais letal e mais transmissível seja criada. Quanto mais pessoas pegam o vírus, mais chance ele tem de se modificar e de se multiplicar.

“Se a gente mantiver a população cada vez mais vacinada com duas doses e mantiver o uso de máscaras, higiene, limpeza e distanciamento a chance de ocorrerem novas infecções vai se tornando menor. São essas as preocupações e recomendações que a gente faz frente a essa variante. Eu não vislumbro cenário muito positivo. Se a gente começar a achar que tomamos a primeira dose e está tudo resolvido, a gente pode criar um monstro maior do que o que a gente lidou até agora”.

Vacina

Estudos sobre a covid-19 acontecem de forma contínua. O que se sabe até agora é que das vacinas disponíveis no Brasil, a AstraZeneca, a Janssen e a Pfizer têm eficácia contra a variante. Já a CoronaVac ainda não ultrapassou a etapa de testes, realizados pelo Instituto Butantan. Dado deve ser divulgado nos próximos dias.

Apesar disso, Slhessarenko destacou a importância da vacinação para que a taxa de transmissibilidade caia e que os riscos de infecção e morte pela covid-19 diminuam. Dedos da SES apontam que apenas 40,2% dos mato-grossenses foram imunizados em 1ª dose e outros 14,8% em 2ª. Imunização que corre a passos lentos favorece o aparecimento de novas variantes, de acordo com a especialista.

“Mais do que nunca é importante que muita gente esteja vacinado e que isso seja rápido, porque quando a gente vacinar grande parte da população, o vírus deixa de circular entre nós e ao deixar de circular entre nós, vai ter menos casos. Eu não vou precisar estar sempre com anticorpos altos para esse vírus. É importante reforçar a necessidade de se fazer a segunda dose e de se vacinar o mais rápido possível 70% da população, que é quando se acredita que vamos diminuir a capacidade viral”, finalizou.

Fonte: RD News