Cultivo de camarão pode despontar como novo mercado do agronegócio em MT

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Um nova atividade está surgindo no ramo do agronegócio em Mato Grosso e pode se transformar a médio ou longo prazo em outro mercado para a economia regional. Trata-se do cultivo do camarão de água doce com tecnologia bioflocos que já despertou a atenção de pequenos produtores e até grandes empresários de Mato Grosso, de olho no crescimento de um mercado que promete ser muito rentoso e de quebra, influenciar na baixa do preço do produto aos consumidores do Estado.

E o primeiro passo para a introdução desta nova modalidade econômica no Estado, já tem data. O Sebrae MT promove o curso de cultivo de camarão com tecnologia bioflocos, nos dias 9 e 10 de agosto, em Lucas do Rio Verde. A capacitação será realizada com apoio da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) e da prefeitura municipal de Lucas do Rio Verde. O curso é aberto a qualquer interessado e se ingressar na produção de camarão.

A gestora do projeto de piscicultura do Sebrae MT, Valéria Pires, informa que o curso foi montado para atender uma demanda dos próprios produtores de pescado da região, que engloba ainda os municípios de Sorriso e Sinop. Segundo dados do Indea MT (Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso), conforme último levantamento realizado em 2018, Lucas do Rio Verde possui 13 propriedades cadastradas com criação de peixes. Em Sorriso, no distrito de Primavera, a 20 km de Lucas do Rio Verde, está implantado o Delicious Fish, maior frigorífico de peixes de água doce de Mato Grosso e um dos três maiores do Brasil.

O curso de cultivo de camarão será ministrado pelo engenheiro de aquicultura Bruno R. Scopel da Empesa Ecomarine, mestre na área e doutorando em ciências biológicas. A programação é composta por aula teórica, no Auditório dos Pioneiros, anexo à prefeitura; e aula prática na Piscicultura Amazonas. Ele irá tratar de cultivos superintensivos de camarões, bases da tecnologia Bioflocos (BFT) e quando usar, cultivos em baixa salinidade, balanço iônico e osmorregulação, qualidade da água, sanidade e biossegurança, entre outros.

Scopel explica que a tecnologia bioflocos é uma ferramenta que surgiu nos últimos anos, no mundo todo e tem evoluído. Ela é baseada numa microbiologia aquática muito rica que desempenha diferentes funções, tanto controle da qualidade da água, através da remoção de compostos hidrogenados, quanto para alimentação.

“Essa tecnologia possibilita um aumento considerável das densidades de povoamento e de produtividade, sem a necessidade de fazer trocas de água, o que mantém o sistema mais seguro em relação a possíveis contaminantes vindos de fora para dentro e torna o sistema ambientalmente amigável”, detalha.

Ele explica ainda que é possível criar peixes e camarões juntos e separados. “Nos sistemas multitróficos utilizamos diferentes organismos aquáticos, peixes, plantas, tudo num mesmo sistema de produção, porque um organismo cultivado é benéfico ao outro”, explica acrescentando nas técnicas mais avançadas de produção de camarão é comum o uso de tilápias como filtros. “Ela é benéfica para produzir o camarão porque tem algumas características que melhoram a qualidade de água e ajudam na redução de doenças.”

A médica veterinária Sílvia Fabiane Krause, da Secretaria de Agricultura de Lucas do Rio Verde, diz que o camarão é uma alternativa, especialmente para os pequenos produtores. Mesmo sendo uma região dominada por grandes propriedades rurais, Lucas do Rio Verde tem 150 famílias enquadradas na agricultura familiar. No total, o município tem mais de 500 propriedades rurais.

Na avaliação do extensionista da Empaer, Esmeraldo de Almeida, mais conhecido como Aldo, o desenvolvimento da piscicultura na região é bom e o cultivo de camarão é uma boa alternativa de diversificação e agregação de valor. Ele conta que há 30 anos, vivenciou uma experiência de criação de camarão na Baixada Cuiabana, trazendo espécie de Santa Catarina. “Quando cheguei em Lucas (do Rio Verde) em 2005, fui provocado a fazer um trabalho com camarão. Desenvolvo uma pesquisa fechada de monitoramento e acompanhamento do desenvolvimento de alguns exemplares de camarão, incluindo uma espécie, conhecida como pituzinho, encontrada nos rios da região”.

Camarão Forasteiro

Em outubro próximo, ocorre primeira despesca na Camarão Forasteiro, primeira e única empresa de produção comercial de camarão de Cuiabá.


A empresa foi aberta em 2018, pelos sócios Roosevelt Oceano, que é zootecnista, e Paulo Godoi, diretor administrativo. São cinco hectares de lâmina d’água e a técnica de cultivo é a bioflocos.

Roosevelt explica que as despescas mensais serão de 500 quilos de camarões do tipo grande, com 12 gramas e 12 centímetros. Os camarões, após inspeção sanitária, serão comercializados para restaurantes a um preço, segundo Godoi, 20% mais barato do que o camarão congelado que vem de fora. Ele destaca ainda que o produto é mais fresco.

Conta ainda que estão montando um centro de pesquisa para a produção de larvas para atender não só a própria produção como para venda para outros produtores. “Assim teremos um custo mais baixo, controle de sanidade e manejo”.

Roosevelt ressalta que no Nordeste, mil larvas custam R$ 10 e para chegar a Cuiabá custam de R$ 53. Além disso, as larvas compradas no Rio Grande do Norte fazem uma viagem aérea de 26 horas, que estressa bastante as peças, ocasionando perdas no tanque berçário, onde ficam por 30 dias. O ciclo completo para atingir o tamanho de 12 cm é de 90 dias. O Camarão Forasteiro tem um modelo de negócio calcado no sistema de franquia. Os sócios adiantam que tão logo fique pronto o tanque escavado começam a fazer o trabalho eu inclui montagem do sistema de produção, fornecimento de larvas, assessoria técnica no manejo e na parte comercial.

Mercado

A criação de camarão marinho em baixa salinidade ou água doce não é um negócio novo e recente no Brasil, já é feita há algum tempo. Porém, as técnicas utilizadas são mais tradicionais e não envolvem tanta tecnologia. Nos últimos anos se desenvolveram técnicas que melhorem os resultados nesse tipo de produção.

O camarão marinho vannamei, o mais cultivado no Brasil e no mundo, tem suas especificidades e necessita de alguns pré-requisitos básicos com relação à qualidade da água para que cresça e se desenvolva bem.

O especialista Bruno Scopel destaca que nos últimos anos foram criadas técnicas para que a água seja enriquecida com minerais e tenha as condições necessárias para atender os pré-requisitos para o crescimento do camarão marinho em água doce. “É isso que a gente tem feito. Não é algo tão simples, mas é possível manipular as condições de uma água doce através do balanço iônico, adicionando alguns minerais e possibilitar a criação do camarão marinho em diferentes regiões”.

Projetos de cultivo têm crescido bastante, especialmente no interior de São Paulo, Brasília, interior do Nordeste. O cultivo de vannamei cresceu bastante no interior da Paraíba. Ele ressalta que os investimentos nessas tecnologias não são baixos. “Os investimentos são recompensados pela alta produtividade e pelo valor agregado que tem o camarão fresco no interior, onde normalmente não chega esse tipo de produto”.
Necessita sim de muito conhecimento técnico, por isso é importante participar de cursos, contratar técnicos, porque são sistemas que envolvem a microbiologia, organismos vivos, qualidade de água, então o conhecimento técnico é bem importante.


Serviço:
Informações e inscrições: 0800 570 0800 ou www.mt.sebrae.com.br

Fonte: Cuiabano News/Baixada Cuiabana