‘Vou deixar o ossinho prá quem mais precisa’, diz idoso que conseguiu emprego

Fonte:

Gratidão é o sentimento que predomina no coração do idoso João Barros de Oliveira, 77. Após ter sua história de busca por emprego na fila para receber doações de ossos,  ele conseguiu trabalho. “Eu não volto mais para fila do osso. Vou deixar pra quem precisa mais. Agora vou conseguir comprar um pedaço de carne”, contou ao Gazeta Digital.

O idoso estava  na fila para receber doação da casa de carne do bairro CPA 2 quando foi entrevistado. Sozinho, ele esperava pelo alimento, pois havia chegado atrasado e os donativos entregues à multidão que espera em todo dia de ação.

Sob o sol quente, ele contou o drama vivido, com esposa doente, mais 3 pessoas em casa, tendo que sobreviver com um salário mínimo para sustentar todas as despesas. Há 5 anos ele não conseguia um trabalho fixo e os bicos esporádicos tinham pouca remunerção para inteirar com a aposentadoria e dar um pouco mais de tranquilidade à família.

Durante a pandemia, ele conseguiu um serviço mais frequente. Estava feliz com a renda extra. Porém, o trabalho acabou de forma muito triste: o jardineiro a quem ajudava morreu de covid-19.

“Quem me dera ter um trabalho, é o que eu mais quero. Já pedi pelo amor de Deus para conseguir um, mas não consigo”, clamava enquanto esperava o donativo para voltar para cada. A doação é suficiente para apenas uma refeição para as 5 pessoas, mas já ajuda muito a incrementar o almoço ou jantar, como o idoso contou.

O relato desesperado do aposentado foi publicado no dia 13 de agosto no Gazeta Digital. No mesmo dia, ele recebeu a ligação de um morador de Cuiabá interessado nos serviços de jardinagem, no dia seguinte ele começou a trabalhar.

João Barros contou que o novo patrão ligou perguntando se foi ele quem deu entrevista falando que precisava de trabalho, que tinha uma vaga para jardineiro e se o idoso se interessava. “Eu fui lá, conversei com ele e deu certo, Graças a Deus eu já estou trabalhando”, lembra.

“O trabalho é bom. Cuido do jardim da casa. Tem que aguar as plantas. Recolher folhas. É de segunda a sábado e tem almoço e merenda. Eu tenho muito que agradecer a Deus”, comemora.

Para ir e voltar do novo trabalho, o homem, que mora no bairro Doutor Fábio 2, pega dois ônibus para ir e voltar do emprego, mas nada abala a vontade e disposição de ter um serviço para garantir uma vida um pouco melhor à família.

“Graças a Deus eu consegui esse trabalho e não vou mais voltar para fila do ossinho. Agradeço muito a eles, mas vou deixar pra outro que precisa mais. Eu estava me arriscando muito. Agora posso me virar e comprar um pedaço de carne para minha família e não enfrentar aquela multidão”, contou agradecido o homem.

O empregador é Nelson Pereira. Ele conta que assim que viu o apelo do idoso entrou em contato com a proposta de trabalho. Ele tinha tentado contratar outra pessoa, mas não deu certo.

“Ele veio aqui e começou a trabalhar. Até demos um adiantamento e esperamos que ele voltasse. Tem gente que não volta, mas ele veio e está trabalhando lá em casa. Ficamos sensibilizados com a história e decidimos ajudar. Acredito que mais do que as doações, que são importantes, precisamos dar emprego para as pessoas”, relata Nelson Pereira, procurador do Estado aposentado.

Fila do osso

Há anos, o açougue faz doações de pacotes de ossinhos de gado para as pessoas mais necessitadas. O volume de doações era pouco, mas com a pandemia, desemprego e falta de dinheiro, a fila começou a aumentar gradativamente e hoje centenas de pessoas pegam os donativos entregues duas vezes por semana.

A Secretaria de Assistência Social de Cuiabá e do Estado já compareceram ao local para cadastro de pessoas nos programas de ajuda, entregaram cestas básicas e cobertores.

Organizações Não Governamentais (Ongs) também engajaram na causa com doações e ajuda para outras necessidades.

Mulheres e idosos são o público predominante da fila e muitas vezes a doação é o único alimento para servir à família.

Fonte: Gazeta Digital