‘Junto à cidade de Bom Jesus de Cuiabá, o Cemitério da Piedade ergueu seus muros de 10 palmos ainda no século XIX, entre os anos de 1817 e 1819. A morte é um mero detalhe do lugar de repouso onde estão sepultados monarquistas, republicanos, escravos, políticos e imigrantes.
Primeiro cemitério público do Estado, a Piedade é considerado patrimônio cultural representando pela sua fachada principal, que conta com duas colunas de cada lado do portão, que retrata traços neoclássicos.
Naquela época exigiu-se que as cidades adotassem novos hábitos, e para proporcionar a higienização e estruturação do espaço urbano, foi recomendado que os cemitérios fossem cercados e contassem com uma capela.
Contudo, as histórias imortais não se restringem aos mais de três mil túmulos sepultados no local. Muito do imaginário popular sobre a Piedade perpassava, principalmente, pelos moradores da região.
A história que mais bateu de porta em porta é a da “Teodora”, que saiu para dançar no antigo Clube Feminino de Cuiabá, na rua Barão de Melgaço e conheceu um estudante de direito. Quando foi embora com ele, ela pediu para ficar no cemitério, “pois era ali onde ela morava”.
É o que conta a professora e historiadora Claudia Noêmia Sousa. O costume tipicamente cuiabano de sentar na calçada pra narrar histórias também era frequente na rua Batista das Neves, com suas casas de adobe e telhas de barro. “Eu nunca entendi porque as histórias de terror sempre eram contadas de noite, talvez o fato do Cemitério estar tão perto provocasse o medo em todos nós”.
Ela compartilha que as histórias de assombração eram inúmeras e que os pais diziam que ao meio-dia as almas saiam do cemitério e pegavam as crianças acordadas. Com medo, todas as crianças acabavam de almoçar e iam dormir para não serem pegos.
Porém, um dia ela que se tornou a própria protagonista de um “causo”, quando viu um vulto com outros colegas.
“Certa vez num domingo à tarde, fomos passeando até o Cemitério. Enquanto o pai e a mãe conversavam nós fomos olhar através do portão. E para nossa surpresa, lá dentro havia um homem! Nós começávamos a falar todos ao mesmo tempo e os dois disseram que não havia ninguém lá. A mãe disse:” o cemitério está fechado e não tem como alguém estar lá dentro”. Como nós cinco vimos, não poderia ser mentira. Aí surgiu mais um motivo para ter medo daquele lugar”.
Uma das mais antigas funcionárias do Cemitério da Piedade também já teve uma experiência do tipo. Há quase duas décadas, Sebastiana Campos vê a vida passar no alto dos túmulos que ela zela. Ao todo, a mulher lava e cuida de 36 jazigos.
A reportagem do Gazeta Digital chegou no local para encontrá-la, mas Sebastiana tinha ido à sua casa – também do lado do cemitério – buscar um banco de plástico para alcançar os túmulos que lava. “O que é? De novo?”, resmunga a senhora, quando avisam que a reportagem está ali. “Já contei tanto essa história…”. Ninguém deixa Sebastiana se esquecer do causo.
Antes de sentar no banco para contar a história, uma de suas clientes subiu a ladeira um pouco cansada para conversar com ela. “Chegou com dor no coração? Achei que já estava querendo ir”, brinca Sebastiana.
Voltando ao silêncio eterno, a zeladora conta que quando tinha apenas 5 anos de trabalho no local, uma mulher a procurou para lavar um túmulo.
Confira o desfecho no vídeo
Fonte: Gazeta Digital