Sem condição de trabalho, médicos do Samu pedem para deixar plantão

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Profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) denunciaram a falta de condições de trabalho para lidar com pacientes com Covid-19, na Grande Cuiabá. Por conta disso, os profissionais estão pedindo para deixar o plantão.

A denúncia foi feita ao Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), que promete encaminhar os relatos aos Ministérios Públicos do Estado (MP-MT) e do Trabalho (MPT).

Por sua vez, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que não procede a informação.

“Muitos médicos estão pedindo para sair do plantão porque não têm os equipamentos de proteção individual (EPIs) suficientes, e as ambulâncias empregadas para o atendimento aos pacientes não são de UTI móvel”, informou a presidente do CRM-MT, Hildenete Monteiro Fortes.

“E que muitos desses pacientes, às vezes, vêm a perecer dentro da ambulância”, acrescentou. Conforme Fortes, o problema vem sendo registrado na região metropolitana.

“Há denúncia de falta de equipamentos, de que as ambulâncias usadas não são de UTI móvel, por não terem todos os equipamentos para o atendimento do paciente e que os profissionais na escala de plantão, muitos deles, estão pedindo para sair por falta de condições de trabalho. Isso é extremamente grave”, reforçou.

Outra situação, segundo a médica, é que, por vezes, as ambulâncias ficam até cinco horas rodando por toda Cuiabá para achar uma vaga, problema que ocorre por conta dos hospitais de referência para tratamento da Covid-19, e mesmo unidades de pronto-atendimento estarem lotados.

“Com isso, os profissionais ficam muito mais vulnerável a se contaminar (pelo coronavírus)”, alertou.

Hildenete Fortes reforçou que os profissionais que atuam na linha de frente contra a doença ficam ainda mais vulneráveis se não usarem os equipamentos de proteção adequados.

“O que a gente tem recebido de denúncia é justamente essa questão de falta de EPIs, da qualidade e do quantitativo dos EPIs que estão sendo oferecidos a esses profissionais. Às vezes, eles têm que usar esse EPI mais de 24 horas num plantão, sem poder fazer a troca desses equipamentos”, disse.

A denúncia foi feita durante videoconferência realizada na segunda-feira (13).

O CRM-MT informou que irá encaminhar a denúncia para aos Ministérios Públicos do Trabalho (MPT) e do Estado (MP-MT) e às secretarias Municipal (SMS) e de Estado de Saúde, neste último caso responsável pelo serviço.

“Principalmente ao secretário de Estado de Saúde [Gilberto Figueiredo], para que nos deem uma posição sobre esse tipo de denúncia e que nas ambulâncias sejam oferecidas as UTIs móveis, que esses pacientes precisam e não ambulância simples de transporte”, afirmou.

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que “não procede a informação de falta de EPIs aos profissionais do serviço móvel tendo em vista que o estoque é renovado a cada 15 dias, com todos os tipos de equipamentos de proteção adquiridos pelo governo do Estado”.

“O Samu possui três UTIs móveis, adequadas para atender a população de Cuiabá e Várzea Grande, além de uma ambulância tipo veículo de intervenção rápida com UTI, e uma aeronave que atua em parceria com o Ciopaer para realizar o transporte de pacientes”, destacou a nota.

MORTES – No Estado, pelo menos três médicos já morreram em decorrência da Covid-19. Um deles foi o pediatra Reinaldo Rodrigues de Oliveira, 73 anos. Ele trabalhou na área por 35 anos.

Nos últimos meses, apesar de compor o grupo de risco devido à idade, ele atuou na linha de frente de combate ao novo coronavírus.

Outro profissional vítima da doença foi Agnaldo Cesário da Silva, de 53 anos, que faleceu após complicações no quadro respiratório.

Ele trabalhava em um hospital de Lucas do Rio Verde (345 km ao Norte de Cuiabá) e era especialista em ultrassonografia. Agnaldo da Silva foi um dos pioneiros da medicina no município.

O óbito mais recente foi do médico Marcel Baracat de Almeida, de 39 anos, que era clínico geral. Ele estava internado em uma unidade de terapia intensiva, em Cuiabá, e morreu no último dia 9 mês.

Marcel Baracat residia em Primavera do Leste (a 240 km da Capital), onde atendia em uma clínica. Na semana passa ele já havia perdido o avô, João Baracat, de tradicional família de Várzea Grande, que também faleceu por complicações do coronavírus, no último dia 7.

Fonte: Diário de Cuiabá