Sete meses após chamar o sistema VLT de “porcaria” por causa dos custos mensais de subsídios, o prefeito Marcelo Crivella fez vários elogios ao participar, na manhã deste sábado, da inauguração da Linha 3 do modal, que liga a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont passando pelas avenidas Marechal Floriano e Rio Branco, no Centro. O prefeito fez o desabafo alegando que estimativas mostravam que o município teria que investir R$ 18 milhões mensais no sistema para cobrir o déficit de passageiros estabelecido em contrato.
No entanto, Crivella não só deu um passeio inaugural num VLT da Linha 3 como teceu elogios ao presidente do modal, Márcio Hannas. Decreto assinado pelo prefeito no dia 15 estabelece um ajuste entre o movimento diário de passageiros inicialmente esperado e a quantidade real registrada.
Enquanto isso, o pensamento majoritário no governo de Mato Grosso trata como “despesa desnecessária” a conclusão do VLT Cuiabá-Várzea Grande. E não há previsão de reninício das obras paralisadas desde fins de 2014, em Cuiabá.
Já Crivella avança, no Rio de Janeiro, com perspectiva de ampliar.
— Ele (Márcio Hannas) foi fundamental nessa negociação. Pelo contrato original nós teríamos que pagar nesse momento umas 120 mil passagens diariamente para cobrir aquilo que foi previsto lá atrás, uma demanda de 260 mil passageiros. Cento e vinte mil passagens por dia a R$ 3,80 cada uma seriam R$ 500 mil por dia. R$ 180 milhões no final de um ano. Nós tivemos uma longa conversa, foram meses de discussão para que a gente pudesse mostrar a eles que o Rio de Janeiro em crise não tem condições de atender a essa demanda. E, ao final, eles concordaram conosco. Tanto que o Rio não vai pagar nenhuma passagem adicional neste primeiro momento — comentou Crivella.
O próprio Hannas reconheceu que as primeiras estimativas foram muito além da realidade de hoje.
– Duzentos e sessenta mil passageiros foi uma previsão feita num momento em que a economia estava num crescente. Hoje, a única certeza de previsão é que ela vai estar errada. E não significa dizer que foi um erro de partida. Foi um cenário construído que tinha uma série de premissas que não aconteceram. Uma delas foi a reorganização do próprio transporte aqui no Centro, o que ainda não foi feito e está agora na discussão do grupo de trabalho formado para a gente discutir. Outra premissa que existia era o desenvolvimento da região portuária. Naquela época se achava que a região portuária estaria muito mais populada por empresas, por moradias. Isso também não aconteceu na velocidade que estava prevista lá atrás. Se as premissas de há seis anos estivessem acontecendo a gente estaria nessa demanda. Não dá para dizer que foi um erro. Foi uma previsão com suas imperfeições – ponderou.
Na solenidade de inauguração do serviço, que contou com um grande bolo e uma charanga, que tocou marchinhas e o hino do Flamengo, para surpresa de Crivella, que depois pediu, sem sucesso, que os músicos tocassem o hino do Vasco da Gama, seu time. Durante a festa, o presidente da Sociedade Amigos da Rua a Carioca (Sarca), Roberto Cury, chegou a saudar o prefeito e a chamá-lo de Marcelo Alencar, ex-prefeito e ex-governador falecido em 2014.
O decreto municipal criou um grupo de trabalho composto por técnicos da prefeitura e da concessionária que opera o VLT. O objetivo da equipe é ajustar questões contratuais. Elas serão debatidas ao longo dos próximos dez meses. Um dos pontos principais analisados pelo grupo de trabalho será o ajuste entre o movimento diário de passageiros inicialmente esperado e a quantidade real registrada. O contrato original estabelecia que a Prefeitura garantiria a demanda de 85% de 260 mil pessoas por dia. Um número que se mostrou irreal na prática e geraria prejuízo aos cofres públicos municipais.
O grupo de trabalho também vai discutir outros pontos como a possibilidade de retirar de circulação algumas linhas de ônibus no Centro do Rio, além de um possível ajuste na tarifa do VLT e do seu funcionamento 24 horas por dia. A equipe, formada por sete representantes da Prefeitura e quatro da concessionária VLT Carioca, poderá contar ainda com integrantes de outras entidades. O relatório final está previsto para ser entregue até 31 de agosto de 2020.
Com a Linha 3, o sistema passa a ter uma rede de 28 quilômetros de trilhos, 29 paradas e estações e 32 trens, que circulam desde junho de 2016 no Centro e na Região Portuária. São 10 paradas, sendo três novas: Cristiano Ottoni-Pequena África (na região da Central), Camerino-Rosas Negras (na Marechal Floriano) e Santa Rita-Pretos Novos (também na Marechal Floriano). Os nomes são homenagens a ícones da cultura africana, batizados em consenso com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e entidades do movimento negro e sociedade civil.
O presidente do VLT Carioca, Márcio Hannas, disse qiue a Linha 3 vai fazer com que o tempo do fluxo de trens na Avenida Rio Branco diminua pela metade, passando para três minutos e meio entre um veículo e outro.
– Inauguramos hoje a terceira linha. Vai fazer o trecho da Central (do Brasil) até o Aeroporto Santos Dumont, passando aqui pela Avenida Marechal Floriano e integrando com a Linha 1 na Avenida Rio Branco. Isso vai permitir o deslocamento entre o Santos Dumont e a Central em 18 minutos. Para o trânsito da cidade é mais um ganho, mais uma forma de se deslocar pela cidade. Tem um benefício muito grande porque como a gente compartilha a Linha 3 e Linha 1 na Avenida Rio Branco vai permitir com que o intervalo entre os trens seja de três minutos e meio, facilitando ainda mais o deslocamento da população de trabalhadores aqui na Rio Branco. Hoje, temos em torno de 80 mil passageiros transportados em dias úteis pelo VLT e a expectativa com a inauguração da Linha 3 é que a gente chega a 100 mil passageiros nos dias úteis. Já são 100 mil trabalhadores beneficiados por este transporte moderno, seguro, eficiente e não poluente, principalmente – salientou.
As paradas Central e Cristiano Ottoni-Pequena África terão serviço compartilhado com a Linha 2; já as paradas Candelária, Sete de Setembro, Carioca, Cinelândia, Antônio Carlos e Santos Dumont atenderão às Linhas 1 e 3. Nos trechos compartilhados, os intervalos entre os trens serão de aproximadamente 3,5 minutos, como já acontece atualmente na região da Rodoviária.
Em três anos de operação, o VLT Carioca ultrapassou a marca de 50 milhões de passageiros transportados. A expectativa com a nova linha é que, já nos primeiros meses, o total de passageiros ultrapasse a marca de 100 mil usuários por dia útil.
O novo serviço de transporte vai entrar na rotinha de Cláudia Brito, de 49 anos, funcionária de uma operadora de telefonia na Rua Beneditinos, no Centro. Para ir até a Central do Brasil e pegar um trem para Santa Cruz, onde mora, ela costumava pegar um ônibus na Avenida Presidente Vargas ou um trem da Linha 2 do VLT. Caminhava muito mais do que aconteceu na tarde deste sábado. Foram menos de cem metros até a Estação Santa Rita-Pretos Novos, onde aguardou por cinco minutos a chegada de um trem vindo do Aeroporto Santos Dumont.
_ Agora, será uma vez só e mais rápido. Costumava pegar ônibus para a Central. Sempre muito cheio. E eu andava muito até a Presidente Vargas. Descobri hoje que posso economizar um bom tempo pegando o VLT nesta estação. É um transporte muito bom, além de não poluir o meio ambiente – elogiou.
A analista de sistemas Raquel Oliveira, de 40 anos, fez um curso relâmpago de eletricidade no Palácio das Ferramentas e queria ver uma exposição em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Estava com a mão de 68 anos e descobriu a novidade da Linha 3.
_ O trem passa na Avenida Rio Branco. Para nós será ótimo. Moro em Botafogo e venho pouco aqui. Mas só em saber que agora também há esta opção é muito boa. Vamos para o CCBB com mais conforto e rapidez. Se não fosse isso teria que procurar um táxi – contou Raquel.