Pesquisador diz que Brasil segue tendência dos EUA e prevê ‘lockdown’

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Em entrevista à revista Exame no último dia 23 de abril, o biólogo, pesquisador e divulgador científico, Atila Iamarino, afirmou que “deveríamos nos preparar para outras pandemias”. Uma tarefa árdua já que, para a atual crise do coronavírus, grande parte do mundo não parece estar preparada. O Brasil, inclusive, entra na lista. Segundo predições e pesquisas mostradas por Iamarino, a infecção tende a aumentar por aqui. E o afrouxamento da quarentena é um dos principais motivos por trás disso.

“Voltamos a crescer em um ritmo em que a gente dobra de casos a cada cinco dias ou menos. O Brasil ruma a ser o novo líder de novos casos, se conseguirmos registrar esses casos e em número de óbitos”, afirmou ele em uma transmissão ao vivo em seu canal no YouTube.

Na tarde deste domingo (3), o país ultrapassou a marca de 100.000 casos confirmados e 7.025 mortes, segundo os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, e se tornou o 6º local com o maior número de mortes pela doença. Globalmente, mais de 3,5 milhões de pessoas foram infectadas. Para ele, o lockdown (iniciativa que proíbe a circulação das pessoas em determinado local) seria o ideal em capitais com maior incidência do vírus, como é o caso de São Paulo, com 31.174 casos e 2.586 mortes. “É provável que, se você mora em um local desse, você tenha que entrar em lockdown”, explicou.

A live do pesquisador  foi o assunto mais comentado no Twitter até o final de semana. “Nosso problema não foi embora e não vai embora tão cedo”, afirmou ele. “Voltamos a circular e o preço disso será muito caro.”

Pesquisador Átila Iamarino diz que Brasil pode pagar um preço muito caro por afrouxar isolamento social

Iamarino acredita que o Brasil começou bem, com as medidas de isolamento social e quarentena impostas no país inteiro. No entanto, agora, com  afrouxamento em diversos estados, a situação pode piorar. Com isso, está se aproximando dos países mais atingidos, como os Estados Unidos, que têm mais de um milhão de infectados e é, atualmente, o epicentro da doença. “O Brasil estava crescendo de forma contida e, se a gente tivesse continuado a seguir bem a quarentena, mantendo todo mundo em casa e com o isolamento social, estaríamos seguindo a tendência de contenção”, disse. “Se o Brasil estivesse caindo em número de óbitos por dia, a gente podia conversar sobre possíveis saídas da quarentena. Mas, a nossa tendência atual é de subida. A gente quase conseguiu segurar as coisas, retomou uma tendência de crescida e estamos seguindo a tendência de morte dos Estados Unidos. É simplesmente a consequência das nossas atitudes”, garantiu.

Nesse ponto da pandemia, para Iamarino, o relaxamento é muito mais nocivo. “Você provavelmente vai continuar em quarentena por um bom tempo, se não entrar em lockdown. Isso está acontecendo porque as outras pessoas que não acreditam nisso, não estão seguindo a quarentena”, afirmou. “O inverno está vindo aí, a gente está a caminho de não ter leitos, vamos ter um colapso da saúde logo mais e a gente já está em uma situação de Itália e Espanha de, logo mais, ter que escolher quem vai ter atendimento ou não.” A rede privada do Rio de Janeiro, segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), já está perto de um colapso, com uma média de ocupação total na rede filiada de 80%.

Para o biólogo, o número de mortes deve ser muito maior do que o divulgado oficialmente, por conta da subnotificação dos casos. “O Brasil está perdendo 90% dos seus casos. Se não é o pior país, é o segundo pior. A gente retomou a um crescimento que parece o começo da pandemia, com entre dois e três infectados por pessoa infectada e estamos com um caso de subnotificação seríssimo de 90%”, disse, citando um estudo feito pelo Imperial College.

De acordo com um relatório oficial do Ministério da Saúde, o Brasil tem quatro vezes mais internação por falta de ar do que o esperado para o período, sem contar os casos de coronavírus. “Isso pode aumentar de quatro a cinco vezes o número de casos confirmados que temos até agora”, disse o pesquisador. “Se estamos registrando 100 mil casos de covid, a gente tem, tranquilamente, meio milhão de casos — ou até mais.”

Fonte: Exame