Paciente com suspeita de coronavírus em MT sofre ameaças

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Um dos pacientes monitorados suspeitos de coronavírus, que mora em Alto Taquari (479 km ao sul de Cuiabá) está sendo hostilizado nas redes sociais. O clima é de tensão na cidade e há inclusive ameaças de ataques ao homem, mesmo sem a confirmação da doença. No município, as farmácias tiveram os estoques de máscaras descartáveis e álcool em gel esgotados.

Um amigo do paciente contou que o auxiliar administrativo, 33, procurou espontaneamente a unidade de saúde. Ele decidiu se apresentar porque acabou de voltar das férias, passando por várias cidades da Itália, país onde já se confirmaram mortes causadas pelo coronavírus (COVID -19).

Em nota divulgada pela Secretaria de Saúde do município, conta que o paciente apresentava problemas respiratórios, no entanto ele não deu tal informação a amigos e familiares. Apenas se apresentou de forma preventiva, pois havia frequentado área de risco.

Ele está isolado em casa e recebe a visita de agentes de saúde, que fazem coleta de material para exames diariamente. Em quarentena, o homem não pode ter contato com ninguém, exceto com os profissionais que utilizam todo equipamento adequado para evitar contaminação.

Mesmo sem qualquer definição, ainda, sobre a suspeita, o paciente tem sido atacado nas redes sociais.

“Irresponsável este sujeito, mesmo sabendo que estava com todos os sintomas do coronavirus não usou máscara, não procurou atendimento, é só procurou ajuda depois de ter faltado ar nos pulmões aí correu para o hospital. Reforço irresponsável”, diz um dos comentários.

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comentario ataque coronavirus

Problemas respiratórios são um dos sintomas do coronavírus, assim como de outras doenças virais. O amigo do rapaz disse que até foto da vítima circulou em grupos da cidade, orientando pessoas a “correrem” caso o vissem na rua.

Um internauta comentou em rede social. “Abate e queima o cara para o vírus não espalhar”. A agressividade nos comentários despertaram compaixão de outros leitores e também a preocupação quanto ao a prevenção em caso de confirmação da doença.

“Não tem necessidade de tanto alarde e ataques ao paciente, mesmo porque não tem nada confirmado e se estiver também não será atacando as pessoas que se resolverá o problema. Mais empatia por favor, gente”, diz outro comentário.

O resultado do exame do paciente de Alto Taquari deve ficar pronto em 4 dias, assim será confirmada ou descartada a contaminação pelo vírus.

Segundo o Ministério da Saúde, 132 casos são monitorados no Brasil. No total, 16 estados informaram ao Ministério da Saúde sobre os casos suspeitos, até esta quinta-feira (28).

Os critérios para a definição de caso suspeito enquadram agora as pessoas que apresentarem febre e mais um sintoma gripal, como tosse ou falta de ar e tiveram passagem pela Alemanha, Austrália, Emirados Árabes, Filipinas, França, Irã, Itália, Malásia, Japão, Singapura, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Tailândia, Vietnã e Camboja, além da China, nos últimos 14 dias.

Até o momento, 60 casos suspeitos de coronavírus já foram descartados em todo o Brasil, que permanece apenas com o registro de um caso confirmado da doença no estado de São Paulo.

 

Estoque de álcool gel acabou e moradores de Alto Taquari estão assustados

A população em Alto Taquari, interior de Mato Grosso, está assustada com a possibilidade de que um morador da cidade esteja com o coronavírus. O estoque de álcool gel nas farmácias acabou, há poucas máscaras e as pessoas se alarmam cada vez que um enfermeiro ou médico entra todo paramentado na casa do rapaz que está sendo monitorado pelas equipes de saúde.

O coronavírus virou o assunto do momento na cidade localizada a 479 km ao Sul de Cuiabá, com pouco mais de 8 mil moradores. Muita informação corre desencontrada pelas praças, bares e farmácias: as pessoas não sabem direito se o paciente só está em casa, de quarentena, ou tem transitado pela rua normalmente e existe uma grande ansiedade coletiva de saber se ele está afinal de contas infectado ou não.

“Ele [paciente] pode até estar de quarentena, mas mãe dele vem todos os dias aqui comprar remédio”, disse a farmacêutica Raissa da Silva Reis. Destacou que a mulher compra principalmente anti-inflamatórios, já que o filho, além da suspeita do coronavírus, também sofreu um acidente de moto na última quarta-feira (26). Apesar da preocupação, Raissa destacou que ela e os demais profissionais da farmácia atendem a mãe do rapaz normalmente: “Na hora eu só utilizo o álcool gel”.

Produto que, por sinal, está há dias em falta no estoque das farmácias da cidade. “O álcool gel acabou. Já solicitamos uma nova remessa para os fornecedores, mas o produto até agora não chegou. Máscaras ainda tem, mas são poucas”, destacou a farmacêutica.

“O coronavírus é o assunto da cidade e as pessoas ficam procurando a melhor forma de se prevenir. Elas querem saber onde o rapaz está e se está infectado mesmo. Eu estou muito preocupada porque acho que Alto Taquari não tem suporte pra essas coisas”, ressaltou Raissa.

A pânico que pode se espalhar entre as pessoas é uma das principais preocupações da secretária de Saúde do município, Deise Juliana Coelho Oliveira.

Destaca que há muita desinformação do caso e cada vez que o rapaz é atendido pela equipe médica em sua casa as pessoas ficam apavoradas. “Eles veem os profissionais saindo e entrando da casa todos paramentados com luvas, máscaras especiais e jalecos, e já acham que algo de muito sério está acontecendo, quando na verdade se trata de um procedimento padrão, bem normal nesses tipos de caso”, explicou a gestora.

Enfatizando que o paciente está estável e que não há motivos para o pânico. “A cidade é pequena, informações desencontradas vazam, pois é difícil de se ter controle, e isso gera muita desinformação nas pessoas. E pânico, alarde, é tudo que a gente procura evitar”.

Deise foi orientada pela Secretaria de Estado de Saúde a não divulgar boletins médicos do paciente e só se pronunciar por meio de notas de esclarecimentos, quando for necessário. A secretária só deve se manifestar sobre o assunto novamente quando sair o resultado dos exames de sangue do paciente que foram encaminhados para um laboratório em Cuiabá. Isso deve acontecer no máximo até a próxima sexta-feira (06).

O paciente

O rapaz com menos de 30 anos, cuja identidade não foi revelada por questões éticas da medicina, é monitorado desde a última quarta (26), quando procurou um posto de saúde apresentando os sintomas do coronavírus, como coriza, desconforto respiratório e corpo febril.

Ele estava de férias há 20 dias na região Norte da Itália onde ficam cidades como Veneza e Milão. Essa região é considerada o epicentro da doença naquele país, onde 14 pessoas já morreram de coronavírus. Só em Veneza 98 casos da doença já foram confirmados.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que monitora o caso e que ainda não o enquadrou nem como suspeita de coronavírus.

“Todos os casos suspeitos de coronavírus em Mato Grosso foram verificados e, até o momento, nenhum foi enquadrado nas definições preconizadas pelo Ministério da Saúde”, destacou a pasta por meio de nota nesta quinta-feira (27).

Como se prevenir

O Ministério da Saúde orienta os cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o novo coronavírus. Entre as medidas estão:

– Evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas;

– Realizar lavagem frequente das mãos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o meio ambiente;

– Utilizar lenço descartável para higiene nasal;

– Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;

– Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca;

– Higienizar as mãos após tossir ou espirrar;

– Não compartilhar objetos de uso pessoal como talheres, pratos, copos ou garrafas;

– Manter os ambientes bem ventilados;

– Evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença;

– Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.

– Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde – CIEVS-MT

Fonte: Gazeta Digital/O Estado de Mato Grosso