Historiadora resgata origem das famílias que construíram Cuiabá

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Em um trabalho de garimpagem, a historiadora e jornalista Neila Barreto registrou a origem de mais de 50 mil famílias cuiabanas através de 900 troncos familiares. O resultado de sua pesquisa está no livro “Gente que Fez, Gente que Faz Cuiabá”, lançado em abril.

Muitos eram imigrantes ou de outras regiões de Mato Grosso. Mas ao chegarem, acabaram se casando e tendo filhos em Cuiabá, criando laços com a cidade que duram até hoje.

Na medida em que formavam suas famílias, eles ajudavam na construção de Cuiabá.

Antunes de Barros, Botelho de Campos, Novis Neves, Dorileo, Borralho, Okamura, Sadako Yanauchi, Silva Campos, Palma de Arruda, Borges de Campos, Hugueney e Campos Póvoas são alguns dos sobrenomes destacados por Neila.

Na pesquisa ela também buscou registrar a genealogia de “pessoas simples”, mas que são tradicionais, como dona Eulália, o alfaite centenário Pedroso Dias, dona Elza Biancardini, primeira banqueteira da Capital e o fotógrafo Rubens Rodrigues.

“Procurei também essas pessoas ‘simples’, que não são nomes de rua ou que não exerceram cargos públicos como a primeira banqueteira, que começou fazendo bolo em casa, o proprietário da primeira concessionária de carros… As pessoas que fizeram as primeiras coisas na cidade”, explicou.

No livro, cada nome é acompanhado por uma pequena biografia de rodapé, onde Neila conta um pouco dos achados da pesquisa, que foi dividida em três períodos de tempo: Colonial, Imperial e Republicano (que vai até os dias atuais).

A historiadora contou que alguns dos leitores já conseguiram descobrir um pouco sobre a própria história através da publicação. Para Neila, esse também é um dos ganhos da obra.

“Até então essa era uma escrita desprezada. Antigamente não davam muita importância para o nome ou de onde vinham”, avaliou.

Saiba um pouco mais sobre algumas das famílias pioneiras da Capital.

Borralho 

A família Borralho é considerada uma das mais antigas de Cuiabá. Nascido em Portugal, o militar João Lício Borralho chegou na cidade em 1856.

O sobrenome aparece em ruas e outros pontos, como no Programa de Saúde da Família (PSF) João Borralho, no Bairro Despraiado.

O nome do PSF é uma homenagem ao farmacêutico João Borralho, que ficou conhecido por ajudar aqueles que não tinham condições de comprar os próprios remédios.

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Neila Barreto

Livro foi escrito pela historiadora e jornalista Neila Barreto

Grande parte da família morou na Casa Cuiabana, no Bairro Bandeirantes, onde funcionava a sede de uma fazenda. Uma das antigas moradoras, Deidâmia Borralho, dá nome ao jardim do local.

Em 2016, eles fizeram o 1º Encontro Nacional da Família Borralho na Casa Cuiabana.

Okamura 

A matriarca da família Okamura, Kaneyo Okamura, chegou ao Brasil em 1932, dois meses depois de deixar a cidade de Kobe, no Japão. Na época, tinha 17 anos.

Ela veio com os pais e quatro irmãos. Kaneyo se casou com Tadashi Okamura. Juntos eles tiveram oito filhos: Massairo (que dá nome ao parque municipal), Jorge, Nório, Tetsuo, Julieta, Marina, Jaime e Eunice.

Em Cuiabá, Kaneyo ficou conhecida como Dona Rosa. O jardim da casa na Rua Barão de Melgaço era famoso pelas samambais e orquídeas.

Ela chegou a ter um orquidário com centenas de espéceis da planta.

Tadashi repetiu os mesmos passos da esposa. De Ibaraki Ken, no Japão, ele saiu também do porto de Kobe e chegou no porto de Santos (SP) dois meses depois.

Veio com a irmão, o cunhado e o sobrinho. Assim que chegaram, foram trabalhar em plantações de café na fazenda Catharina, em Piratininga (SP).

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Pioneiros Cuiaba

Família Borralho é uma das mais antigas de Cuiabá

Ele e Kaneyo se conheceram em São Paulo. Como era topógrafo, foi convidado a se mudar com a família para Mato Grosso na década de 50 a fim trabalhar na demarcação da Gleba Rio Ferro, que serviu como assentamento para famílias migrantes japonesas.

Anos depois, já em Cuiabá, Tadashia abriu o Hotel Paraná, na Rua 13 de Junho, e montou uma fábrica de concreto na Barão de Melgaço.

Tadashi ainda trabalhou como topógrafo na Cohab-MT, onde realizou a demarcação de várias casas na Capital e no interior.

Massairo, filho do casal, nasceu em Congonhas (PR), mas viveu em Cuiabá, onde se casou com a cabelereira, professora e empresária Leonia Capriata Okamura.

Ele chegou a ser vereador na Capital e fundador da Sociedade Mato-grossense de Proteção e Defesa do Meio Mabiente, além de atuar como técnico em desenho no antigo Dner, hoje conhecido como Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Ele e Leonia tiveram três filhos.

Botelho de Campos

Osvaldo Botelho de Campos, o “Nhonhô Tamarineiro”, nasceu no sítio Buriti, em Nossa Senhora do Livramento (a 47 km de Cuiabá). Apelidado como Nhonhô por ser o caçula da família, ele foi criado no Município até 1920.

A família se mudou para Várzea Grande quando ele ainda era criança em busca de acesso aos estudos.

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Oswaldo Botelho de Campos, o Nhonhô Tamareiro, e sua família

Nhonhô Tamarineiro era filho do libanês naturalizado brasileiro Salim Homsi, descendente das famílias Gatass e Orro, que atuou como comerciante em São Paulo (SP) e em Corumbá (MS), na época pertencente a Mato Grosso.

Antes de Nhonhô nascer, Salim faleceu. Por isso, o menino foi registrado com o sobrenome Botelho de Campos, que era o mesmo de seus irmãos, filhos do primeiro casamento de sua mãe, Mariana Benta de Campos, com Francisco João Botelho.

O segundo apelido, Tamarineiro, chegou anos depois quando ele comprou a Fazenda Tamarineiro, em Rosário Oeste (a 120 km de Cuiabá), e passou a trabalhar com agropecuária.

Sardi 

De Rimo, cidade no Sul da Itália, João e seu irmão mais velho José Sardi chegaram em Cuiabá no ano de 1908. Os dois trabalhavam como construtores.

Juntos fundaram uma fábrica de ladrilhos hidráulicos, que são tradicionais nos casarões antigos da Capital. Mas, naquela época, os cuiabanos usavam tijolos batidos de barro, que logo foram substituídos pelos mosaicos de inspiração árabe.

Muitos acabaram reformando a fachada das casas, introduzindo a platibanda, colocada no telhado de uma construção, além de outros elementos “modernos”.

Conforme a historiadora, os irmãos construtores mudaram os aspectos arquitetônicos da Cuiabá das primeiras décadas do século XX.

Até o término da guerra contra o Paraguai, a Capital tinha fisionomia de uma autêntica vila do norte de Portugal.

Os irmãos Sardi também foram os responsáveis pela construção do palacete da Rua Pedro Celestino, que foi casa de governadores.

Scaff 

Filho de imigrantes libaneses, o patriarca da família Scaff, Hid Aldredo Scaff, nasceu em Corumbá (MS) em março de 1907.

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Elza Biancardini (no meio) foi a primeira banqueteira de Cuiabá

Dois anos depois da morte de seu pai, a mãe dele, Sophia Scaff, se casou novamente com Miguel Gattas, que tinha embarcações no Rio Cuiabá.

Nas férias, Hid ajudava nas tarefas de carga e descarga. Foi assim que ele conheceu o Rio Cuiabá.

Ele se casou com Lúcia Cuiabano, com quem teve quatro filhos, entre eles o médico e escritor Ivens Scaff.

Na parte em que faz a genealogia da família Scaff, Neila publicou um trecho das memórias de Hid Alfredo Scaff.

Novis Neves

Em 1920 o pai do médico e um dos fundadores da UFMT, Gabriel Novis Neves, era proprietário do Bar Moderno, que ficou conhecido como Bar do Bugre, por conta do apelido do do dono, em frente à Praça Alencastro.

O estabelecimento de Olyntho Neves era ponto de encontro de personalidades da Cuiabá daquela época, principalmente políticos.

O bar seguiu funcionando por meio século. Gabriel morou por um tempo no Rio de Janeiro, onde cursou Medicina.

A família fixou residência em Cuiabá por conta do avô, que se mudou para a Capital no final do século 19 para ajudar na construção do Palácio Alencastro.

Fonte: Midianews