Evangélicos descobrem força política e querem ocupar mais espaços no poder em MT

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Além de ter apoio consolidado no agronegócio, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem uma base muito forte em Mato Grosso: os evangélicos. Por isso, ele cumprirá duas agendas em Cuiabá, num período de dois meses. O primeiro deles, foi dia 19 de abril, quando veio para o encontro o lançamento da Marcha para Jesus e também para o encontro de pastores da Igreja Assembleia de Deus, no Grande Templo. Agora dia 18 voltará a Cuiabá para prestigiar a Marcha para Jesus.

Mesmo com muitos pontos destoantes com o cristianismo raiz de que a arma do cristão é a Bíblia e não a arma de fogo, domínio próprio ante aos xingamentos, perdão ao invés da celebração da morte, os evangélicos encontraram em Bolsonaro a defesa de pontos inegociáveis: ser contra o aborto e a defesa da família heteronormativa.

O pastor Fábio Senna, presidente da Conselho dos Ministros do Evangelho (Comec), que reúne várias denominações evangélicas em Mato Grosso, admite que Bolsonaro não é o presidente perfeito, mas foi quem abraçou os pastores evangélicos que passaram a ser achincalhados por pregar contra a homossexualidade e o direito à vida nos púlpitos, com base na Bíblia Sagrada.

Desde então, a ocupação de espaços de poder passou a ser uma estratégia, onde conseguiram barrar propostas como a criação do Conselho LGBT em Mato Grosso, por exemplo. Agora, querem reeleger Bolsonaro e novos ministros no STF para manter uma agenda conservadora no país.

Veja mais na entrevista abaixo:

Leia – Qual a importância da Marcha para Jesus?

Pr. Fábio – O Comec sempre organizou a Marcha pra Jesus, desde a sua primeira edição e essa é a 26ª edição da Marcha pra Jesus. A marcha pra Jesus um ato profético que fazemos em todo o país. Hoje já está espalhado por todo o mundo. No Brasil ocorre desde 1993, em São Paulo, quando o apóstolo Estevão trouxe a Marcha para Jesus ao Brasil. A igreja sai das quatro paredes e vai para rua declarar que Jesus é o Senhor da cidade, é o Senhor do Estado, é o Senhor do Brasil. Nós fazemos uma caminhada e paramos a cada alguns quilômetros, alguns metros e oramos pela cidade, por todos os setores, pela saúde, pela economia, pela política.

Leia – O que chama a atenção neste ano é a vinda do Presidente da República para o evento. Ele veio para o lançamento, para a reunião dos ministros da Igreja Assembleia de Deus e deve vir para o dia da Marcha, em 18 de junho. Não e uma obra do governo federal, ou algum lançamento de investimento, mas um evento religioso. Qual a sua avaliação desse prestígio do presidente ao evento?

Pr. Fábio – Eu vejo como um reconhecimento pela parceria que nós temos com o presidente da República. O presidente que teve um apoio maciço do segmento na sua eleição em 2018 e de lá em diante, ele sempre foi muito participativo né? A primeira-dama (Michele Bolsonaro) é membro da Igreja Batista Atitude no Rio de Janeiro então ele está sempre rodeado de pastores ele tem sempre pastores orando, acompanhando ele. Essa proximidade faz com que ele se sinta muito bem no nosso meio.

Leia – De qualquer forma é dificil um presidente vir a Mato Grosso. Temos um agronegócio muito forte e agora o estado mostra que tem força no segmento religioso organizado.

Pr. Fábio – Ele confirmou a participação da Marcha pra Jesus dia 18 de junho não só no nosso estado. Estivemos com ele no dia 2 de maio, no Palácio da Alvorada, a convite dele. Ele deve participar da marcha no maior número de capitais possiveis até o prazo das convenções. Para gente é um motivo de honra, ele poder participar conosco, é um convidado nosso. A Marcha não é pro Bolsonaro, eu sempre digo isso porque as vezes as pessoas acham que estamos realizando a marcha por causa do Bolsonaro. Não! É ele que vem pra Marcha pra Jesus! A Marcha tem seis anos aqui na na capital e ele é o nosso convidado e para nós é uma honra poder recebê-lo.

Leia – O senhor disse que a Marcha não era pra Bolsonaro, mas para Jesus. O senhor acha que não pode ser confundido como uma idolatria à figura do presidente, quando trazem a bandeira do Brasil pra dentro do culto, um lugar consagrado para Deus? Quando o púlpito que é para pregar o evangelho é usado para falar de política? Não pode ter essa confusão?

Pr. Fábio – Eu acho que não tem essa confusão, até porque o momento que nós estamos vivendo. Aqui mesmo, eu já fiz culto e coloquei a bandeira do Brasil no telão. A bandeira é do Brasil né? Bolsonaro é tão patriota que parece que quando você coloca a bandeira do Brasil você está falando do Bolsonaro. Mas o que é importante a gente entender é o momento que nós estamos vivendo que é o momento de se posicionar, é o momento que  Igreja precisa estar mais aberta para isso, mas é claro, de uma forma que não traga a idolatria ou algo nesse sentido, os pastores têm uma alguma influência sobre isso, não uma influência total. A gente tem tentado levar de uma forma que as pessoas passem a discutir política. Não vamos transformar os nossos altares em palanques políticos, mas a importância de cidadania, de votar de discutir política em casa e é no diálogo que vamos encontrar soluções. Claro, que há exceções de pessoas que exageram e todo exagero de um lado ou outro é ruim. Há sim uma movimentação, um trabalho para que o presidente que defende aquilo que nós cremos, que se posiciona naquilo que nós cremos, vamos trabalhar para que ele seja reeleito.

Leia – Todo evangélico é conservador ou tem os evangélicos de esquerda?

Pr. Fábio – Pela Bíblia não tem como um evangélico ser de esquerda, não tem como um evangélico comunista. As defesas deles não têm nada a ver com a Bíblia. Vamos pegar um partido de esquerda, por exemplo, o PT. O PT defende o homossexualismo, o aborto, invasão de terras, não apoia a família tradicional. Tudo aquilo que nós cremos, eles são contra. Então não tem como ser cristão. O que a direita defende é o mais próximo daquilo que nós cremos, por isso, que a população cristã se identificou tanto com Bolsonaro, por ele defender aquilo que nós cremos.

Leia – Uma das características do Bolsonaro é fazer pose simulando uma arma de fogo. Isso não é um contraste ao cristianismo? Não é um contraste aos ensinos de Jesus, que defendia que se alguém te bater uma face oferecer a outra, se alguém tirar a tua capa, não lhe impeça de levar a túnica?

Pr. Fábio – Nós não vamos encontrar um presidente perfeito. O que encontramos é aquilo mais próximo do que nós cremos, então temos dois lados polarizados: Lula e Bolsonaro. O Bolsonaro faz a arminha, tem umas palavras meio forte, no discurso dele tem palavrão, nesse sentido aí, mas do outro lado, o cara tem partido que invade igrejas, que defende o aborto. Nós não concordamos com tudo nele, mas ele tem mais coisas que alinha conosco do que o outro lado.

Leia – Como o senhor vê essa proximidade entre política e religião, a fé cristã com movimentação político eleitoral. É bom ou é ruim?

Pr. Fábio – É ótimo, né? Na realidade, nós precisamos que cada vez mais que as pessoas de bem se envolvam na política, porque senão aproximarmos e não participarmos, com certeza as mal intencionadas vão participar. A política é espaço e se você não ocupa o espaço, alguém vai ocupar o espaço. A gente tem trabalhado e dado continuidade nas gestões anteriores da conscientização para que os pastores, os líderes, a igreja se envolvesse cada vez mais com a político. Temos crescido nisso. A gente fala em eleição de parlamentares, seja na Câmara Municipal, na Assembleia, no Congresso Nacional e isso é uma demonstração de que a igreja tem acordado para esse lado e participado não só da política. A gente sempre fala que nós precisamos estar em todas as áreas. É na educação, empreendedorismo, judiciário, isso é importante pra que a gente possa ajudar o nosso país.

Leia – Existe um assédio dos políticos para trazer os evangélicos para disputar cargos eletivos ou é um desejo que cada vez mais os evangélicos entrem para a política?

Pr. Fábio – Tem os dois casos. Com certeza há um assédio por causa do da porcentagem, né? Acho que aproximadamente 30% da população se declara evangélica, e por estar muito envolvida e o Bolsonaro acabou fazendo com que isso se tornasse maior ainda, com certeza os partidos políticos que os lideres religiosos possam participar da eleição. Mas também é muito intencional também da gente participar. Nessa legislatura da Câmara Municipal de Cuiabá, se não me engano, temos 8 vereadores declarados que são evangélicos, então é um crescimento.

Leia – Religião combina com política?

Pr. Fábio – Muitos dizem que a religião não combina com política, mas o líder religioso, o evangélico também tem titulo de eleitor, também vota, também é um cidadão. Se ele pode votar porque não pode colocar o nome à disposição? Nós só estamos ocupando espaços.

Leia – Qual a importância de uma bancada evangélica mais fortalecida e representativa?

Pr. Fábio – A cada vez mais, os ativistas que têm projetos contra aquilo que nós cremos, contra os princípios cristãos, contra a família tradicional, contra a vida, os que são a favor do aborto, eles tem se organizado também neste sentido e apresentado projetos nessa linha. Então, para defender isso que nós cremos, nós temos que defender é lá na Casa de Leis, por isso essa organização, porque senão daqui a pouco seremos proibidos de falar de Jesus em nosso país. Cada vez mais o cerco tem se fechado, de pastores que foram processados por pregar no púlpito contra o homossexualismo, que é algo que a Bíblia condena. A própria Constituição nos dá direto de pregar aquilos que nós cremos no altar. Ao falar ou pregar aquilo que nós cremos está cada vez mais está mais perigoso, então nós estamos nos organizando nesse sentido para que cada vez mais projetos que atacam aquilo que nós cremos seja debatido e seja já encerrado lá na Casa de Leis.

Leia – O presidente Bolsonaro é católico e a esposa dele é evangélica. Esse apoio a ele é uma forma da aproximação da igreja evangélica com a igreja católica, pois a Igreja Católica sempre foi criticada pelos evangélicos?

Pr. Fábio – No âmbito político, é muito próxima essa relação porque a bancada da família é composta por evangélicos e católicos, a bancada  pró-vida é composta por evangélicos e católicos, então, aquilo é o que nos une. A nossa diferença é teológica, mas os princípios,  é praticamente os mesmos.

Leia – Qual que é a importância de ter um ministro do STF evangélico?

Pr. Fábio – O casamento homossexual foi uma decisão do Supremo Tribunal, não foi na Casa de Leis onde era pra ser. Então, se está sendo discutido lá em cima e é lá que está tomando decisões, precisamos ocupar o espaço lá também e por isso que que indicamos o pastor presbiteriano André Mendonça. Os evangélicos querem ocupar os espaços. Quando os cristãos chegaram no Brasil e foram crescendo muito. Para permitir o crescimento da igreja de forma abençoada, os evangélicos não se envolveram na política. Então ali veio o discurso de que a política era do diabo para que os evangélicos não participassem. Hoje não, todo mundo sabe que a política não é do diabo.

Leia – Quando foi essa virada de chave para inserção dos evangélicos na política?

Pr. Fábio – Eu acho que foi a perseguição contra os nossos princípios. Quando começou a aparecer projetos de leis lá em Brasília que vinham contra a igreja os pastores acordaram. Foi o casamento gay? Foi aquela PLU dois dois se eu não me engano que foi acho que o o marco da história que queria ou o é a criminalização da homofobia. Que não podia pregar mais isso, que na realidade os pastores até fizeram protesto. Acho que essa aí foi o acordar para para a igreja.

Leia – Quando Jesus esteve na terra como homem, os judeus eram subjugados pelo Imperio Romano. Jesus não se envolveu com a política, ele veio cumprir a missão dele. No antigo testamento, os reis de Israel eram as autoridades políticas e religiosas ao mesmo tempo, levando o povo a prosperidade e à apostasia. Hoje, os evangélicos estão mais para os tempos dos reis ou tempo de Cristo?

Pr. Fábio – Nós estamos mais um período de Jesus porque nós estamos vivendo o período da graça. Por quê? O que é não merecido e eu e quando nós vivemos debaixo da graça, nós vivemos aquilo que nós escolhemos. Jesus veio para nos dar o livre arbítrio. Jesus veio para que eu e você decidisse se nessa eleição, dia 02 de outubro, nós temos a opção de escolher aquilo que nós cremos ou o outro lado. Isso se chama graça. Deus nos deu essa a graça de podermos escolher. Então hoje nós iremos no tempo de Jesus. O tempo onde nós temos o livre arbítrio. Então nós não podemos reclamar que dia 2 de outubro elegemos o presidente da esquerda que vai contra tudo aquilo que nós cremos. Eu vejo que cada vez mais as pessoas, principalmente as cristãs, tem entendido a sua importância dentro desse processo. Então eu vejo que nós vivemos mais com certeza um tempo o tempo de Jesus porque não tem nem comparação né?

Leia – A bancada evangélica é vista como retrógrada em relação aos direitos de mulheres, aos direitos das pessoas LGBTQIA+. Não incomoda essa imagem de pessoas atrasadas e preconceituosas?

Pr. Fábio – Não, não nos incomoda porque hoje banalizou tudo. Banalizou todas as coisas que são importantes como a família que já não tem mais valor para para a atual sociedade. Estão tentando acabar com a figura do pai e da mãe. Eu fiquei sabendo de uma notícia agora de que não querem mais comemorar o dia do pai e da mãe nas escolas. Nós cremos na família tradicional, aquilo que Deus criou, Deus criou o homem e a mulher, criou a família. Como é que uma pessoa pode ter o poder de decidir ser uma pessoa vive ou não? Um juiz de Minas Gerais determinou um aborto de um bebê de seis meses porque não estava algumas coisas perfeitas e ele decidiu matar a criança. Essas coisas que nós não aceitamos e vamos nos posicionar sempre. Não estamos preocupados se a esquerda, que defende isso aí vai vir pra cima, mas o que nós não vamos mais aceitar é ficar calado.

Leia – Existe diferença entre discurso de ódio e ser contra a homossexualidade?

Pr. Fábio – Não tem. Queria ver uma notícia, um B.O de um pastor que agrediu um homossexual, que matou um homossexual, não tem! Nós pregamos o amor, mas não o amor que eles querem. Eles banalizaram até o amor.  Eles acham que amar é você aceitar tudo o que a pessoa quer. Amor não é isso, amor é falar a verdade, é dizer a verdade, é mostrar o que é certo. Nós amamos os homossexuais, mas eles têm que saber que quando reconheço Jesus como Salvador pessoal, há transformação de vida. Não há discurso de ódio, uma perseguição claro há exceções, alguns podem exceder no tom de voz algo nesse sentido. Jamais um homossexual vai deixar de ser recebido em uma igreja com amor e carinho, sempre serão bem recebidos. É necessário separar o homossexual dos ativistas que querem privilégios. Tudo o que se fala hoje é homofobia. Se xingar o pastor não é nada, não é crime, mas se você falar de um homossexual, você vai preso. Daqui um dia não vou poder pregar o que está na Bíblia e eles vão querer rasgar a Bíblia, porque vai falar que é homofóbica. Eles queriam implantar o conselho LGBT em Mato Grosso, mas graças aos deputados, nós conseguimos derrubar.

Leia – O senhor acha que o Conselho LGBT poderia ser nocivo para a sociedade?

Pr. Fábio – Sim, qual que é a briga deles? Eles querem banheiro unissex, é a luta deles e ainda mais com o dinheiro público e convencer a sociedade de que isso é normal. Você vai com a sua filha num banheiro unissex com um homem lá. Isso não é normal e nunca vai ser normal. São coisas que eles defendem e lutam e vao destruir o ser humano. Para reproduzir um ser humano, é uma mulher e um homem.

Leia – Em 2010, o Censo apontou que a população evangélica era de 22% no Brasil e 245% em Mato Grosso. A maioria é católica. O senhor acha que houve aumento dos evangélicos no Estado e no país? Qual a importância disso?

Pr. Fábio – Com certeza deve ter passado dos 30%, a Igreja vem crescendo muito. A importância é de ajudar mais pessoas. Ouvi uma fala do presidente Lula que prefere um bar do que uma igreja e nós somos ao contrário, preferimos a igreja do que o bar porque a igreja restaura e um bar destrói. A gente prefere que em cada ponto cada esquina esteja uma igreja ali pra poder ajudar a sociedade, ajudar a comunidade, ajudar as pessoas.

Fonte: Leia Agora