Escolha de Sofia à vista: MT está próximo de decidir quem terá prioridade em UTI

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Em carta recomendatória, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) solicitou ao governo do Estado e aos gestores municipais para que endureçam as regras de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus, que causa a Covid-19. A indicação foi feita devido a ascensão dos casos da doença e diante de informações quantificadas dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e de enfermaria exclusivos para pacientes com Covid-19 na rede privada, com indicativo de taxa de 100% de ocupação.

No Sistema Único de Saúde (SUS) o percentual de ocupação era de 74,7% para UTIs e de 18,1% para vagas clínicas até a última quinta-feira (11). Diante do cenário, o CRM-MT realizou uma reunião por videoconferência, no dia 09 de junho de 2020, com diversas autoridades para discutir o protocolo de manejo clínico nos hospitais referência para tratamento da infecção. Participaram da discussão membros dos Ministérios Públicos Federal (MPF) e do Estado (MPE), da Secretaria de Estado de Saúde (Ses), dos Sindicatos dos Médicos (Sindimed) e dos Estabelecimentos dos Serviços de Saúde do Estado, do pronto-socorro municipal de Cuiabá e do Hospital Universitário Júlio Muller.

“Nós temos observado o aumento muito acelerado das pessoas que estão procurando as UTIs e tivemos uma reunião na terça-feira (09) com os Ministérios Público do Trabalho (MPT) e Federal (MPF), secretários de saúde e várias outras personalidades e foi identificada questão da falta das UTIs e, nós precisamos neste momento crítico, com essa alta ocupação dos leitos de UTI e de enfermaria clínica de que haja uma rigorosa restrição quanto a abertura de comércio e uma rigorosa ação com relação ao isolamento social”, disse a presidente do CRM-MT, Hildenete Monteiro Fortes.

Diante do cenário, o entendimento é de que governo do Estado e prefeituras devem adotar ações mais rígidas em relação ao isolamento social e ao fechamento do comércio para enfrentar aquela que se apresenta como sendo a fase mais crítica da pandemia da Covid-19 no Estado. Caso contrário, não descartado que os profissionais da área médica tenham que adotar a chamada “escolha de Sofia” em um futuro próximo. “Porque não vai ter leitos de UTI para todas as pessoas infectadas pelo vírus”, frisou. “As UTIs dos hospitais privados estão todas lotadas”, disse citando também a taxa de lotação de hospitais como o de Sorriso e Sinop, informado no último boletim epidemiológico da Ses.

Também é levado em consideração uma nota técnica acerca da evolução da doença em Mato Grosso, trabalho desenvolvido pelos Departamentos de Matemática, Geografia e o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado de Mato Grosso (UFMT), onde foi projetado que Mato Grosso atingirá o número máximo de infectados pelo novo coronavírus até dia 03 de setembro, quando terá registrado 307.852 casos.

“Então, é importante que realmente seja rigorosa a ação em relação ao isolamento social e sobre a reabertura do comércio acho que os gestores têm que pensar de maneira rigorosa em relação a isso”, disse. A população também quem fazer sua parte como o uso de máscaras caseiras e de higienização. “Não é brincadeira o momento que estamos passando. É extremamente preocupante e nós precisamos tomar medidas bem rigorosas em relação a isso”, completou Fortes, em entrevista à TV Centro América.

Até a última quinta-feira (os dados são atualizados diariamente sempre ao fim da tarde), o Estado tinha 5.086 casos confirmados da Covid-19, sendo 2.887 em isolamento domiciliar e 1.792 recuperados. Entre casos confirmados, suspeitos e descartados, 174 internações em UTI e 148 em enfermaria. Isto é, a taxa de ocupação é de 74,7% para UTIs e de 18,1% para enfermarias.

O QUE É – A “escolha de Sofia” é uma expressão que invoca a imposição de se tomar uma decisão difícil sob pressão e enorme sacrifício pessoal, como a vista no filme homônimo de 1982. A trama dirigida por Alan J. Pakula, a partir do romance de William Styron, conta a história de Sofia, uma polonesa que, sob acusação de contrabando, é presa com seus dois filhos pequenos, um menino e uma menina, no campo de concentração de Auschwitz durante a II Guerra.

Um oficial nazista dá a ela a opção de salvar apenas uma das crianças da execução, ou ambas morrerão, obrigando-a à terrível decisão. A pandemia provocada pela Covid-19, especialmente na Europa, trouxe uma discussão sobre a possibilidade dos profissionais de saúde, através de protocolos específicos, escolherem para qual paciente será disponibilizado atendimento ou uma UTI em razão da ausência de condições de acesso no sistema de saúde.

APELO – A presidente do CRM-MT, Hildenete Fortes, também pediu união entre o Estado e prefeitura. Para ela, este não é momento de briga política. “É um momento de união. Os municípios e o Estado têm que se unir em defesa da população e não essa briga que está havendo. É prefeito que fala uma coisa e governador fala outra. Esse não é o momento. Eu peço que eles entendam que o momento é crítico e precisamos da união para a nossa coletividade tenha uma saúde de qualidade”, frisou.

Fonte: Diário de Cuiabá