Empresários de MT investem no mercado imobiliário em Orlando

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A empresária rondonopolitana Thaís Martins já foi mais de dez vezes para Orlando. Em algumas delas, se hospedou em hotéis. Em outras, alugou casas. Mas foi depois que se casou e teve seus dois filhos que percebeu que poderia unir ‘o útil ao agradável’: economizar nas férias e encontrar uma nova forma de investimento. Neste ano de 2019, comprou uma casa na cidade estadunidense, na planta, que, assim que ficar pronta, promete render 10% ao ano em alguéis – caso isso não aconteça, sua imobiliária paga a diferença.

“A gente decidiu comprar a casa porque, além de ser um destino frequente da família, é um local com turismo em ascensão. Ele recebe mais pessoas que qualquer outro lugar do mundo – pelo menos é a informação que passaram pra nós. A gente olhou a rentabilidade da casa, a valorização do imóvel… e o mundo converge pra lá. Então eu acredito que é um investimento que vai ter resposta e vai se pagar”, contou ao Agro Olhar.

A aposta de Thaís não é única. Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Corretores REALTORS® 2018 da International Residential Real Estate Activity, vinte por cento das casas adquiridas por estrangeiros na Flórida, Estados Unidos, foram adquiridas por brasileiros no último ano. Dos maiores compradores, em segundo lugar estão os canadenses, seguidos dos venezuelanos e dos chineses.

Ainda segundo o estudo, Orlando é a escolha de 9,4% de todos os compradores internacionais da Flórida, e os compradores estrangeiros envolveram aproximadamente 11% das 44 mil vendas de casas da área estatística metropolitana de Orlando-Sanford-Kissimmee durante o período do estudo (entre agosto de 2017 e julho de 2018).

Segundo Laura Raquel Teixeira (foto à direita), 36, mineira que se mudou para os Estados Unidos e hoje é corretora da imobiliária da Casa Orlando Properties, sede da Casa Florida Group em Orlando, existem alguns motivos para essa predileção. Estas razões foram, inclusive, mostradas por uma reportagem da revista Forbes, que colocou Orlando como o primeiro lugar em uma lista de 20 cidades nos Estados Unidos que são as “melhores escolhas para investimento imobiliário em 2019”.

Os motivos são: a economia local estar muito bem (vagas de emprego aumentaram acima da média nacional no ano de 2018); procura alta por imóveis (tanto para venda, quanto para aluguel) e o preço das casas (que, quando comparados ao salário das pessoas, ainda dá uma margem segura, uma correlação saudável).

Como corretora de imóveis, percebo que parte do crescimento imobiliário está também relacionado ao fato de Orlando ter o segundo maior centro de convenções do país. O centro de convenções de Orlando recebe anualmente aproximadamente 1.4 milhões de pessoas, público que contribui com a economia local com um valor de mais ou menos $2.4 bilhões de dólares”, explica Laura. “Orlando hoje não traz somente turistas interessados em parques temáticos e compras, mas também conta com este “novo” público de empreendedores, executivos e profissionais de diversas áreas (atendentes das convenções)”.

Foram todas essas informações, e a perspectiva de um investimento seguro, queatraíram Thaís e seu marido, Ralph Gallo. O casal comprou uma casa de nove quartos, em um condomínio, com um valor total de U$S 580 mil. Quarenta por cento do valor será pago de entrada, assim que a casa ficar pronta – foi comprada na planta – e os outros 60% serão financiados por 30 anos, com juros de 5% ao ano (nos primeiros cinco, sendo que ele varia, depois disso, no máximo 6%).

A empresária conta que decidiu comprar uma casa maior porque, segundo uma pesquisa de mercado que realizou, já havia muitos imóveis com até seis quartos na cidade, e eles, consequentemente, não tinham uma garantia grande de rentabilidade. Para a casa que escolheram, a imobiliária garantiu uma rentabilidade de 10% ao ano e, mesmo que não atinja este número, eles cobrem a diferença.

Mas de onde vem a renda?

A principal forma de conseguir que a casa ‘se pague’ é alugando por temporada. Segundo Thaís, é até possível administrar estes alugueis por conta própria, mas o ideal – e o que ela optou por fazer – é pagar um ‘property manager’ que cuidará disso. “O negócio é tão profissional, que eles colocam seu imóvel ao mesmo tempo pra ser alugado em mais de 180 sites diferentes. Ou seja, o número de vezes que sua casa vai ser alugada, paga o quanto você deve para eles, e muito mais”, declara.

A compra de imóveis para aluguel de temporada é uma característica brasileira. De acordo com Alexandre Fraga, sócio-diretor da Nord Holidays (empresa especializada em venda e locação de imóveis na região), que atua no ramo desde 2015, enquanto os canadenses e ingleses tendem a comprar um imóvel privado para uso exclusivo em férias, os brasileiros tem perfil investidor. “Comprar uma casa nos Estados Unidos se tornou atrativo para os brasileiros, principalmente pela oportunidade de obter um imóvel com rentabilidade, com aluguel fixo ou temporada”, explica. A mato-grossense, por exemplo, poderá usufruir de sua casa de 30 a 45 dias por ano.

Burocracia

Como o valor de investimento em um imóvel é alto, é necessário uma série de documentos. Para ajudar com o financiamento, o casal contratou um profissional que deu todas as instruções. Eles optaram por dar uma entrada de 40%, com juros – pelos primeiros cinco anos – de 5% ao ano. “Eles pedem muitos documentos pra financiar com juros baixos. Mas se você chegar lá só com seu passaporte, você consegue comprar uma casa com juros de 13,5%, 16%”, explica.

Para ter os juros baixos, no entanto, o processo foi mais complicado. Foi necessário apresentar: imposto de renda, comprovante de residência, visto, passaporte, carta do gerente do banco, extrato de três meses, carta do cartão de crédito e extrato de três meses do cartão. Se o cliente trabalha, é preciso apresentar holerite, carta do empregador dizendo que não será demitido, que não está cumprindo aviso, que não é estagiário, há quanto tempo trabalha na empresa, qual o salário e se recebe algum bônus anual. Ainda é necessário ter na conta o equivalente a 12 meses de parcela da casa mais os 40% da entrada, e uma carta de um contador dizendo a procedência do seu dinheiro.

“O governo americano quer clareza e transparência na sua documentação. Eles não querem problemas. Então todo o seu dinheiro tem que ter origem comprovada”, explica Thaís. “Lá eles te dão uma pastinha pedindo os documentos. E quando você está lá, parece que é uma coisa muito fácil. Mas quando você chega aqui, é difícil, porque, por exemplo, um contador nunca escreveu uma carta atestando que você é idôneo… seu gerente também… seu cartão de crédito também. Apesar de você ter o modelo, é uma coisa que é um pouco burocrática sim. Não é facinho. Mas se você tem procedência e é um bom pagador, você consegue”.

Comprar a casa na planta também foi uma opção da empresária. Normalmente elas são mais baratas, e dão garantia de que será construída e vai funcionar como o cliente quiser, já que a casa já vem com os eletrodomésticos, como máquina de lavar e secar. Os ‘contras’ estão na necessidade de decorar e mobiliar tudo, e também em algumas taxas extras que são necessárias nestes casos.

Ainda é preciso colocar na conta da compra a forma de enviar o dinheiro para os Estados Unidos, e possíveis gastos com contadores e com o profissional que vai auxiliar com a papelada do financiamento – o que, segundo Thaís, é imprescindível.

Família de Thaís na Disney, em Orlando (Foto: Arquivo Pessoal)

No final das contas, no entanto, o investimento tem sido válido – pelo menos é isso que mostram os números. “Muitos investidores compram uma segunda casa em menos de um ano após a aquisição da primeira”, afirma Alexandre Fraga, sócio-diretor da Nord Holidays. “Atualmente, existem cerca de 50 casas à venda em Orlando e é interessante ressaltar que há um rígido controle de lançamentos de novos empreendimentos para evitar a desvalorização dos imóveis”, finaliza.

Fonte: Olhar Conceito