Doleira e ex-secretário tentaram dar golpe em lobista, que revidou com ameaça

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O ex-secretário de Estado de Ciências e Tecnologia e Inovação de Mato Grosso (Seciteci), Nilton Borgato, a doleira Nelma Kodama e o empresário Cláudio Rocha, tentaram dar um golpe no ex-lobista e empresário Rowles Magalhães Pereira da Silva. O episódio é narrado pela Polícia Federal no pedido de prisão preventiva feito pela instituição junto à Justiça Federal, que culminou na deflagração da Operação Descobrimento, no último dia 19 de abril.

Segundo a Polícia Federal, no final de novembro de 2020, Borgatto, Kodama e Rocha teriam acertado juntamente com Ricardo Agostinho, sócio de Rowles, a contratação de um vôo para o transporte de drogas entre o Brasil e Portugal. Eles pretendiam fazer o carregamento e envio sem a participação do ex-lobista, que acabou descobrindo todo o plano, o que resultou no cancelamento da empreitada.

O contratempo gerado pelo desentendimento dos integrantes da organização com Rowles gerou um grande problema para o grupo. Isso porque a droga que seria enviada para a Europa já estava com integrantes da quadrilha, pronta para embarcar. O plano desandou após o ex-lobista ter descoberto um depósito de R$ 130 mil em uma conta do grupo, o que seria um indicativo de que um novo vôo seria realizado.

Por conta disso, Rowles armou um contragolpe, juntamente com Ricardo Agostinho. Eles esquematizaram uma forma de receber o pagamento do vôo entre Brasil e Portugal, mas o mesmo não seria feito. Como justificativa, eles apontariam o fato de que Kodama, Rocha e Borgatto estariam armando para trair o ex-lobista.

“Visando concretizar o golpe, durante as tratativas da contratação do voo, Rowles liga para Kodama, perguntando se tem alguma coisa acontecendo e afirmando que não quer ser traído pelo grupo. Kodama afirma, em regra, que nada está acontecendo. Nos áudios do Rowles enviado ao Ricardi ele se orgulha de ser “filho da puta” em razão do golpe que estão prestes a dar em Kodama e associados. Ricardo responde que os dois é que são filhos da puta. As conversas sobre esse assunto seguem”, diz o relatório da Polícia Federal.

A investigação aponta ainda que, no dia 27 de novembro de 2020, Nelma Kodama realizou a entrega de 200 mil euros a Ricardo, como parte do pagamento do vôo que estava sendo contratado. O dinheiro foi retirado em um apartamento em Lisboa (POR). Após a confirmação do recebimento, Ricardo Agostinho repassou um print com as informações para Rowles.

A pessoa que recebeu o dinheiro em Portugal foi apontada como Wonder Magalhães Pereira da Silva, irmão de Rowles e residente no país europeu. Somente após a realização de todos os pagamentos, o ex-lobista entrou em contato com Kodama, informando que descobriu toda a traição, fazendo o mesmo com Rocha e Borgatto, na sequência.

“Amigo, boa tarde. Sou eu, o que vocês chamam de louco. Descobri tudo. Não imaginava que você estava com a japa nas minhas costas. Não vai acontecer nada! Eu avisei que da forma que vocês querem, não rola. Ela fez dois pagamentos pelas minhas costas e afirmando que não. Tenho tudo”, desabafou Rowles a Borgatto, e confirmando que o envio de drogas para a Europa não seria feito.

Rowles chegou a afirmar, em tom de ameaça, que poderia acionar um delegado da Polícia Federal ao qual é amigo (e não tem participação no esquema). O ex-lobista deixou claro que se o grupo tentasse buscar a droga no Brasil, iria denunciÁ-los e que o mesmo estaria apenas esperando um comando dele para dar o bote na organização.

OPERAÇÃO DESCOBRIMENTO

A Operação Descobrimento foi deflagrada pela Polícia Federal para desbaratar um esquema de envio de drogas de Mato Grosso para Portugal. Ao todo foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.

No país europeu, com o acompanhamento de policiais federais, a polícia portuguesa cumpriu três mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva nas cidades do Porto e Braga. As investigações tiveram início em fevereiro de 2021, quando um jato executivo Dassault Falcon 900, pertencente a uma empresa portuguesa de táxi aéreo, pousou no aeroporto internacional de Salvador (BA) para abastecimento.

Após apresentar problema em um dos três motores e ser inspecionado por equipes de mecânicos da empresa responsável pela manutenção, foram encontrados cerca de 595 quilos de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave. A droga era transportada no avião de uma empresa privada ligada ao lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva, que ficou conhecido por denunciar um esquema de propinas nas obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Além dele, também foi preso na operação o ex-secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Nilton Borgato. A partir da apreensão feita em Salvador, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa atuante nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar o entorpecente), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).

Fonte: Folhamax