Volta da torcida: “Politizaram esse tema; bares e shopping estão lotados”

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O vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, saiu em defesa da volta da torcida aos estádios, de forma gradual e respeitando as normais de biossegurança contra a Covid-19. Ele citou a incoerência de se manter o público longe das arenas enquanto shoppings e bares “estão lotados”.

“A gente vê bar lotado, shopping, transporte público. Não vejo o porquê o futebol não ter voltado até hoje. Acho que foi politizado esse tema da torcida nos estádios”, afirmou o cartola em entrevista ao MidiaNews.

Nesta semana, o governador Mauro Mendes (DEM) sancionou a Lei 11.483/2021, que autoriza o retorno de 35% do público nos estádios de futebol em Mato Grosso. No entanto, mesmo com a lei, os jogos do Cuiabá na Série A do Brasileirão seguirão sem a presença dos torcedores. Isso porque existe uma regra da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que prevê a volta da torcida somente após todos os estados brasileiros concederem o mesmo aval de permissão.

Sem os rendimentos dos ingressos nos estádios, e ainda sem saber qual posição o time irá concluir o Brasileirão, ele afirma não ser possível definir se terminará o ano no “azul” em suas contas. Ele também falou sobre a atuação do novo técnico, Jorginho Campos, e do Dourado no campeonato, novas contratações, investimentos na base e mais.

Confira os principais trechos da entrevista: 

MidiaNews – O Cuiabá está enfrentando bastante dificuldade nesta primeira metade do campeonato. Toda essa dificuldade já era esperada?

Cristiano Dresch – Na verdade, o Cuiabá só jogou 12 partidas (a entrevista foi concedida na quarta-feira). Quer dizer, ainda faltam alguns jogos para concluir a primeira metade do campeonato. É normal para um time como o Cuiabá que está disputando a Série A pela primeira vez. Fizemos, nesta semana, o primeiro jogo da história contra o Corinthians. Também tivemos duelo histórico contra o Flamengo, o Atlético-MG, o São Paulo. O Cuiabá é um clube muito novo e a Série A é uma divisão do campeonato brasileiro que é muito mais difícil que as outras. É a elite do futebol realmente e a dificuldade era esperada, com certeza. Mas não só para o Cuiabá. Todas as outras equipes que subiram estão tendo dificuldades.

Tivemos alguns problemas no início da competição, principalmente, por ter trocado o treinador. Isso, com certeza, tem um reflexo dentro do campeonato. Mas estamos no caminho certo. O time está melhorando bastante o conjunto. A performance nos jogos tem melhorado e isso dá um horizonte positivo.

MidiaNews – A maior queixa sua, quando da saída do Alberto Valentim, era que o time não tinha um padrão de jogo e que, se continuasse daquele jeito, fatalmente iria voltar para a segunda divisão. Houve uma melhora com o Jorginho?

Cristiano Dresch – Não tem como fazer uma análise do Cuiabá e do Alberto Valentim na Série A, porque ele fez um jogo só. Mas, os próprios resultados dizem. O Cuiabá vem de uma crescente nos últimos jogos desde a chegada do Jorginho. Na verdade, desde que o Luiz [Iubel] assumiu, a gente vem fazendo bons jogos. Fizemos vários jogos fora de casa em sequência e conseguimos vários empates. Série A é um campeonato de pontos corridos e você tem que estar somando pontos. Óbvio que não pode só empatar, tem que ganhar também. Mas, somar pontos sempre é importante.

MidiaNews – Jorginho admitiu que faltou intensidade na derrota para o Corinthians na última segunda-feira. Concorda que está faltando alguém para dar mais velocidade e criar as jogadas?

Cristiano Dresch – Não, não acho que… Jogar no calor de Cuiabá é muito difícil. A gente veio de um jogo contra o Atlético-GO muito difícil. Tivemos vários jogadores que tiveram abaixo do normal. Alguns jogadores que vinham jogando melhor e nesse jogo contra o Corinthians não jogaram bem. Tomamos os dois gols em duas falhas nossas.

Como eu disse: o Cuiabá está numa crescente dentro da competição, melhorando aos poucos. Sabemos de algumas limitações que temos até na questão do elenco, que estamos buscando melhorar. O que vai trazer um pouco mais de tranquilidade para o trabalho do Jorginho é a partir do momento que as contratações que estamos buscando começarem. Ele terá mais opção de escalar o time, porque tem problemas de jogador suspenso por causa de cartão ou alguma lesão. Por isso, é importante ter opções para conseguir manter o nível nas partidas.

MidiaNews – Vocês estão buscando contratações em que posições?

Cristiano Dresch – Não posso passar posições. Contratações de jogadores dentro da Série A é complicado. São negociações longas, delicadas, que envolve muitas partes. Por isso, não podemos abrir informações antecipadas para não atrapalhar.

MidiaNews – O Cuiabá contratou o colombiano Yesus Cabrera, que ainda não estreou. Em que acha que ele pode melhorar o time?

Cristiano Dresch – Temos expectativa de que todos os jogadores que contratamos melhorem o time. Toda contratação tem uma expectativa positiva e precisa ser colocada em prática para saber se vai dar certo ou não. O Yesus é um meia de origem, é um camisa 10, um jogador que joga por dentro do campo e que tem uma função de articulação, chega bem na frente, finaliza para o gol. Consegue dar passes, assistências, colocar os companheiros na condição de fazer o gol.

É um jogador com uma característica que não temos hoje. O Clayson está jogando improvisado na meia. Ele não é um meia, é um atacante de lado. Ele está quebrando um galho, vamos dizer assim. A gente espera que a partir do momento que o Yesus possa estar em campo que a gente consiga melhorar um pouco essa parte ofensiva.

MidiaNews – Com apenas duas vitórias até o momento, acredita que há condições reais de se manter na primeira divisão?

Assessoria

CRISTIANO DRESCH

“A gente precisa ficar com o alerta ligado do começo até o fim”

Cristiano Dresch – O campeonato é longo. A gente precisa ficar com o alerta ligado do começo até o fim. Vai ser uma disputa bem complicada. Têm várias outras equipes brigando pela mesma coisa. Hoje, a gente tem na zona de rebaixamento dois grupos gigantes do futebol brasileiro: Grêmio e São Paulo. São equipes que, com certeza, vão evoluir durante a competição.

A gente precisa estar ligado, atento, corrigindo os erros que vierem a acontecer, reforçar o time. Fazendo um bom trabalho, temos condições de continuar na Série A.

MidiaNews – Jogadores da base tem feito diferença em grandes clubes nesta temporada. O Cuiabá tem planejamento de investir mais nessa categoria?

Cristiano Dresch – Tem, sim. Começamos investir mais forte desde o ano passado na estrutura, na formação de categorias. Hoje, temos categorias desde sub-13 até o sub-19. Estamos participando do Campeonato Brasileiro sub-23, com a base de jogadores praticamente sub-20. A base é o futuro do clube. O Cuiabá, para fortalecer, precisa ter uma base forte. Você precisa formar o atleta dentro de casa. Isso traz uma série de benefícios, tanto financeiro como esportivo para o clube. Cria uma identificação muito maior com a cidade, com o Estado, porque você vai ter mato-grossenses as principais divisões pelo Cuiabá.

Iniciamos nesse ano a construção do centro de treinamento, que será utilizado pelos profissionais e pela base. São pequenas que estão sendo feitas todos os dias que irá melhorar o futuro do Cuiabá. Com certeza, vamos começar a ter resultados em curto e médio prazo. Jogadores formados pelo Cuiabá estarão jogando no time principal.

MidiaNews – Nesta semana, o Governo do Estado sancionou a lei que permite 35% de público nos estádios. Mas a lei não vale para o Brasileirão. Defende o retorno do público aos estádios?

Cristiano Dresch – Com certeza absoluta. A gente vê que hoje a vida está praticamente voltando ao normal, com o respeito da biossegurança. A gente vê bar lotado, shopping, transporte público. Não vejo o porquê o futebol não ter voltado até hoje. Acho que foi politizado esse tema da torcida nos estádios. São ambientes a céu aberto. Na Arena Pantanal, por exemplo, que cabe 46 mil pessoas, dá para colocar 15 mil pessoas espalhadas pelos setores que ela comporta, conforme a lei que o governo sancionou.

Para poder entrar no estádio, a pessoa vai ter apresentar um PCR negativo ou vacinado com as duas doses. A gente vê que em outros lugares, bar, shopping, não precisa de nada disso. O estádio vai ter que ter. Então, assim é um ambiente totalmente seguro.

MidiaNews – Os clubes têm conversado com a CBF ou mesmo os governos para que haja uma retomada gradual da torcida aos estádios?

Cristiano Dresch – A previsão da CBF é ter público já a partir das quartas de finais da Copa do Brasil, que vai acontecer no final do mês de agosto.

No Campeonato Brasileiro, a previsão é trabalhar com público no início de setembro quando começa o returno. É lógico que terá uma série de restrições, com capacidade reduzida, exame negativo de PCR ou comprovação de vacinação.

MidiaNews – Passada quase a metade do campeonato, é possível dizer que o Cuiabá – que é um clube empresa – vai fechar no azul este ano?

Cristiano Dresch – Não. As finanças da Série A são muito variáveis. Ela depende muito da colocação que o clube vai terminar no campeonato. Tem a possibilidade da volta do público, da arrecadação do ingresso, sócio torcedor que é uma receita muito boa que o clube tem. Não dá para prever hoje se vai fechar no azul ou não. O grande objetivo do Cuiabá é terminar na Série A.

MidiaNews – Pelo que se especula no mercado, o Cuiabá vai receber neste ano, somente em direitos de televisão, cerca de R$ 22 milhões. É um dinheiro suficiente para o atual patamar do time?

Cristiano Dresch – Não. Temos outras fontes de recursos também. Temos os nossos patrocinadores. Só o dinheiro da televisão não é suficiente para fazer uma Série A. Os clubes da Série A a média do orçamento é de R$ 50  milhões a R$ 70 milhões.

MidiaNews – O Cuiabá está conseguindo fechar novas parcerias após o acesso à Série A?

Cristiano Dresch – Com certeza. O Cuiabá divulga o nosso Estado no Brasil e no mundo. Hoje, o Campeonato Brasileiro é transmitido para o mundo inteiro. É muito benéfico ter um time daqui disputando o principal campeonato no Brasil, divulgando a Capital e o Estado. A gente fez acordo de patrocínio com algumas empresas ligadas ao agronegócio. O Sicredi é um banco que tem na sua maioria clientes do agronegócio. Fechamos também uma parceria muito boa com o Governo do Estado.

É uma pena não podermos receber público ainda. A Arena Pantanal é um excelente ambiente para divulgação e para os empresários receberem os seus clientes.

Mas acho que isso aí só tende a melhorar. Obviamente, depende muito do trabalho que a gente vai estar fazendo, da credibilidade que o Cuiabá passa.  É muito importante que os investidores saibam que o dinheiro realmente está sendo revertido para o clube. E isso, é algo que o Cuiabá consegue passar para os seus parceiros.

MidiaNews – Como tem sido a recepção dos cuiabanos com o time na série A? Falta uma valorização?

Cristiano Dresch – Muito boa. Torcer para o time da sua terra é diferente de torcer para um time de São Paulo, do Rio de Janeiro. É muito diferente. Você tem uma proximidade muito maior com o time da cidade. Teve vários casos de torcedores, por exemplo, que torcem para o Flamengo, São Paulo, Corinthians, mas que no confronto contra o Cuiabá, torceram para nós, porque tem o apego da terra, do local que você nasceu, do local que você mora, local que você ama. O Cuiabá tem tido um retorno muito bom da torcida. O engajamento com o clube vem crescendo muito.

Fonte: MidiaNews