Consultoria classifica risco de contaminação por estado no Brasil

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Mato Grosso do Sul, Paraná e Distrito Federal são os três únicos estados do Brasil ainda considerados zonas de baixo risco para índices descontrolados da Covid-19. Os dados que ainda revelam que Mato Grosso migrou da verde para a amarela, fazem parte de um estudo exclusivo desenvolvido por uma consultoria americana que capta investimentos de organizações mundiais para o Brasil. Um dos pontos que colabora, é a baixa densidade habitacional.

O levantamento lembra que medidas de relaxamento ou reforço do isolamento social adotadas por diferentes estados devem contribuir para a manutenção das atuais taxas de contágio no País nas próximas semanas.

No entanto, vale lembrar que a pesquisa foi feita no dia 28 de maio e desde então estes três estados estão avançando muito no total de casos. Ou seja, a situação é boa por enquanto.

O estudo da Bain & Company classifica o risco de cada estado ante a pandemia como Baixo (verde), Médio (amarelo) ou Alto (vermelho) (confira no mapa abaixo), levando em conta a taxa de contágio (R0) e a taxa de ocupação de leitos de UTI destinados ao Covid. Essas duas métricas são importantes: hoje, elas são as mais usadas pelos governos estaduais para tomar decisões de flexibilização ou reforço das medidas de isolamento social.

Nas últimas semanas, estados até então considerados como baixo risco (verde), como Tocantins e Goiás, tiveram uma piora e hoje se encontram na zona de Médio risco (amarela). De forma similar, estados antes na zona vermelha, de Alto risco, como Ceará e Pará, apresentaram melhoras consideráveis nos dois indicadores e estão na faixa de médio risco.

Hoje, 19 das 27 unidades federativas do país, já convergiram para a chamada zona amarela – de médio risco. O que explica esse movimento é a busca pelo equilíbrio entre as medidas de abertura e restrição e entre o contágio e a capacidade hospitalar, de forma a atingir uma situação mais balanceada do ponto de vista econômico e epidemiológico.

“Conforme os estados tentam balancear medidas de controle da doença com a reabertura econômica, o cenário que se desenha é o de um platô: um número estável de casos e nível de ocupação das UTIs relativamente alto, mas controlado. Alguns estados, que antes estavam na zona verde, onde se inclui Mato Grosso, relaxaram as medidas e viram seus números piorarem nas últimas duas semanas. Por outro lado, outros estados em situação crítica apertaram as restrições e saíram da zona vermelha também para a amarela. A tendência nas próximas quatro a seis semanas é que estados continuem alternando medidas de reabertura e reforço para se manter nesta zona amarela, com a abertura econômica pautada pela situação da doença controlada”, diz Ricardo Gold, sócio e líder de Macro Trends Group South America da Bain.

Contaminação é diferente

Segundo a análise divulgada em 28 de maio, é muito claro que, no Brasil (bem como em outros países da América do Sul), o novo coronavírus possui uma curva de contaminação diferente da registrada em outros países da Ásia e da Europa. Nessas regiões, o pico foi atingido entre 15 e 30 dias após a adoção de medidas de isolamento social e a regressão da doença ocorreu após mais 30 a 50 dias.

Isso ocorreu, de acordo com o levantamento, por uma série de razões, como perfis demográficos favoráveis e menor uso de transporte público (Áustria e Suíça); uso disseminado de tecnologias para testes, identificação rápida e isolamento de pessoas doentes (Coreia do Sul e Hong Kong); e medidas rígidas de restrição de movimentação (acima de 70% de queda na mobilidade) durante um longo período, casos da Itália e de Nova York, nos Estados Unidos.

“Mesmo tendo começado cedo com medidas de restrição, após quase dois meses dessas ações, ainda não vemos sinais de que atingimos o pico da doença no Brasil. Dado este panorama, o cenário mais provável para o Brasil é que a doença ainda continue em um longo platô ao menos pelas próximas 4 ou 8 semanas, principalmente puxada ainda pelas regiões mais atingidas no Norte, Nordeste e Sudeste. Durante este período devemos ver reaberturas parciais e controladas de parte da economia, mas devemos continuar convivendo com boa parte das medidas de distanciamento social que foram implementadas”, analisa Gold.

Diferenças entre regiões

Em média, as áreas de maior risco no País são as mais densas, o que torna desafiador manter baixo os índices de contaminação. Fatores demográficos, como alto uso de transporte público e número de habitantes por domicílio ajudam a explicar este cenário.

“A densidade mais baixa das capitais do Sul e Centro-Oeste e das cidades do interior é um fator que contribui para um perfil de contaminação mais controlado”, explica Gold.

Poucos testes – Os indicadores do Brasil relacionados à Covid-19 demonstram que o País também não tem testado de forma suficiente a sua população, gerando um atraso crítico nos números e entendimento da situação no combate à doença. O País tem apresentado um dos piores níveis de testes em todo o mundo, já que a testagem acontece em cerca de duas pessoas para cada caso confirmado. O número mais amplamente considerado como mínimo para se atingir uma testagem adequada seria de 10 para 1, sendo que outros países têm números muito acima desta barra, como Coréia do Sul (86 para 1), Dinamarca (60 para 1) e até mesmo a Itália (hoje já em 18 para 1).

Outro ponto é que devido à falta de disponibilidade de testes, o Brasil tem priorizado pessoas com sintomas graves e assim, o número total de casos confirmados torna-se altamente subestimado, com atraso nas notificações de mortes pela Covid-19.

O levantamento da Bain mostra que apenas alguns estados estão em um nível de teste mais próximo ao adequado, o que também representa um grande desafio para medidas de relaxamento no País sem novos surtos.

Cenários

Ainda que o Brasil não tenha necessariamente atingido o pico da contaminação, a velocidade de propagação da doença nas capitais e regiões metropolitanas dos Estados do Norte, Nordeste e Sudeste contribui para o atingimento um nível estimado de exposição (e provavelmente imunidade) na população que pode começar a contribuir para desaceleração da doença. (Exemplos: PA – 22%; CE – 20%; AM e RJ – 14%; SP – 9%).

“Assumindo que a velocidade de propagação da doença siga estável e que as principais medidas de mitigação e controle continuem existindo, a maior parte destas cidades ainda precisaria de 30 a 50 dias para atingir níveis de imunidade suficientes para que o R fique abaixo de 1 e a curva de propagação da doença comece a cair”, projeta o sócio da consultoria, explicando o cenário de platô esperado para o país.

(Com informações de Bain/Campo Grande News)