Após 44 anos, sonho da ferrovia até Cuiabá está próximo da realidade

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No final dos anos 90, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul oficializaram a denominação como Ferrovia Vicente Vuolo, os trechos da Ferronorte, nos dois territórios. Justa homenagem e reconhecimento ao homem que, como deputado federal, pela Arena, em 1975, apresentou o projeto que previa a inclusão da construção de uma ferrovia interligando São Paulo – Rubinéia (SP) – Aparecida do Taboado (MS) – Rondonópolis (MT) – Cuiabá (MT) no Plano Nacional de Viação. No ano seguinte, o projeto foi sancionado pelo então presidente da República, Ernesto Geisel.

Se ainda estivesse vivo – Vicente Vuolo faleceu em maio de 2001 – hoje, 44 anos depois, o ex-senador teria a satisfação de ver o sonho dele, cada dia, mais próximo de ser concretizado.  

Em 27 de novembro, deste ano, o Tribunal de Contas da União (TCU), autorizou  a renovação antecipada do contrato de concessão da malha ferroviária paulista Rumo, que venceria em 2028. O contrato agora será renovado por mais 30 anos e valerá até 2058. 

Mato Grosso tem parte da rede ferroviária de 14 mil km administrados pela Rumo. Os trilhos também passam pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Tocantins. 

A proposta é ampliar o escoamento da produção agrícola e industrial de Mato Grosso, via malha paulista que vai de Santa Fé do Sul (SP), quase na divisa com o Estado do Mato Grosso do Sul, até o Porto de Santos, em São Paulo, .

Os trilhos vão sair de Rondonópolis e chegar até Cuiabá, depois seguem para o médio norte do Estado, que concentra a produção de grãos em Mato Grosso. Ao todo, o projeto prevê a construção de três novos terminais, com um  investimento da Rumo, nos próximos 5 anos, de R$ 15 bilhões na ampliação e melhoria da malha ferroviária. 

Coordenador do Fórum Pró-Ferrovia, uma instituição suprapartidária formada por nove entidades – Federação das Indústrias (Fiemt), Federação do Comércio (Fecomércio), Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), Federação das Câmara de Dirigentes Lojistas (FCDL), Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Associação das Empresas do Distrito Industrial de Cuiabá (Aedic), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MT), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT), Associação de Produtores de Soja (Aprosoja) Associação de Criadores (Acrimat), Porto Seco de Cuiabá,Sindicato da Construção Civil (Sinduscon) e Sebrae.

Francisco Vuolo, acompanha de perto este processo, não só com homem público mas, principalmente, como um dos filhos do ex-senador Vicente Vuolo. A ferrovia até a Capital mato-grossense é uma conquista que traz consigo a emoção de quem esteve ao lado do pai acompanhando esta luta. Em entrevista ao PNBonline, Francisco Vuolo fala dos próximos passos e já tem planos para continuar o embate para a integração com outras ferrovias que vão cruzar Mato Grosso. Confira!

 Confira a entrevista com Vuolo

PNBonline – O que representa a renovação antecipada do contrato de concessão da malha ferroviária paulista Rumo  de concreto para Mato Grosso?

Francisco Vuolo – Este é o elemento fundamental para resolver o entrave que havia em relação aos investimentos. Existem duas concessões da concessionária Rumo: a Malha Paulista (Aparecida do Taboado a Santos – SP)  e a Malha Norte (MT e MS). A concessão da Malha Paulista venceria em dez anos e a Malha Norte vence em 50 anos e é uma ferrovia moderna de bitola larga, com dormentes de concreto, as obras são todas novas. O trem sai de Rondonópolis até São Paulo, em uma velocidade média de 80 a 100 km/hora,  uma velocidade fantástica para trem de carga mas, quando ele entra no estado de São Paulo, encontra a antiga Ferroban-Fepasa, a primeira ferrovia do país. Os investimentos a serem feitos lá são de, no mínimo, R$ 7 bilhões.

Porém, se a Rumo investe na Malha Paulista sem a prorrogação do prazo corria o risco de uma outra concessionária e ele perder tudo que investiu. Por isso, há quatro anos a empresa deu início a um processo junto ao governo federal alterando a legislação, permitindo que houvesse de forma antecipada a prorrogação de prazo de uma concessão mediante investimentos.

O último passo para  concluir este processo era, justamente, o TCU. Passou pelo Ministério dos Transportes, pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), pelos órgãos reguladores e foi aprovado, restava a aprovação do Tribunal de Contas. Isso significa que a Rumo vai investir e vai saltar de 30 milhões de toneladas para o transporte de 75 milhões de toneladas. Vai deixar de andar em determinados locais 5 a 10 km/hora para andar a uma velocidade de 40 a 80 km/hora. Ou seja, passa a ter a condição ideal para ampliar a sua movimentação e o maior volume de carga vem de Mato Grosso o que vai garantir que a empresa faça investimentos no trecho de Rondonópolis vindo a Cuiabá e indo até Sorriso. Isso é resultado do trabalho feito nos últimos quatro anos.  

PNBonline –  Por que esta decisão demorou tanto?

Francisco Vuolo – Sem dúvida alguma poderia ter sido mais ágil. Mas, se nós olharmos pelo prisma de que é uma decisão inédita para um modal ferroviário e vai acabar implicando no modal rodoviário,a análise dos projetos tem que ser minuciosa porque outras ferrovias e outras concessões,  a partir desta decisão do TCU também poderão ter a prerrogativa sem passar pela licitação. Abre um precedente mas, no nosso caso, é mais do que justificado, porque se nós fossemos esperar dez anos para fazer uma licitação para contratar. Se fosse a mesma empresa era uma situação se fosse outra seria diferente. Teríamos um atraso de, no mínimo 40 anos, no modal ferroviário e Mato Grosso seria o maior prejudicado.   

Por ser o primeiro processo acredito que este tenha sido este o motivo maior da demora. Pra você ter uma ideia o processo tem 40 mil páginas. Para São Paulo, por exemplo, foram apresentados todas as obras de arte, viadutos, os desvios das cidades, todo o projeto executivo, com valores e cronograma definidos foi entregue. É um projeto muito minucioso até porque o aporte de recursos que envolve requer mas, tenho certeza  de que a qualidade do que foi apresentado, em que pese ficou um ano no TCU, tem o resultado favorável.  

PNBonline – Quais os primeiros passos agora?

Francisco Vuolo – O cronograma começa a ser executado no ano que vem. A expectativa de conclusão das obras em São Paulo é em torno de cinco a oito anos. São investimentos de grande monta, cujas licenças e autorizações estão, praticamente, consolidadas.E, em até oito anos, o investimento de R$ 7 bilhões vai estar consolidado.

 

Os projetos, estudos ambientais e adequações técnicas devem ser concluídos em 2020. Os estudos precisam ser aprovados para o início das obras. A expectativa é de três a cinco anos de obras em, aproximadamente, 280 km de Rondonópolis até a Capital. Obviamente, pode acelerar ou atrasar em função dos entraves burocráticos. Na parte técnica e de investimento não há problema. Estou prevendo o mesmo prazo que demorou para sair de Alto Araguaia a Rondonópolis. Foram cinco anos para fazer 200 e poucos quilômetros. O mais difícil é sair do papel.

PNBonline – Quais os reflexos deste investimento no volume de carga transportado de Mato Grosso? 

Francisco Vuolo – Junto com a Rumo tem a Brado Logística que, recentemente, investiu R$ 30 milhões na instalação do sistema de vagões double-stack também conhecido como vagão de pilha dupla, é um tipo de vagão ferroviário especialmente projetado para transportar contêineres. Isso já em chega em Mato Grosso no trecho Sumaré – São Paulo – Rondonópolis o que garantiu um aumento de 60% no volume de carga. Com mais R$ 7 bilhões na malha ferroviária como um todo, a capacidade vai aumentar ainda mais. 

PNBonline –  A ampliação em Mato Grosso já está oficializada?

Tchélo Figueiredo – SECOM/MT

Francisco Vuolo – A Rumo já entrou com o pedido, em 2017, junto a ANTT solicitando a ampliação do trecho ferroviário, já existe o estudo de investimentos para executar as obras e estava aguardando a decisão do TCU sobre a Malha Paulista para definir um cronograma das etapas para esta fase de expansão, Agora, vamos iniciar o trabalho pela autorização da expansão da ferrovia com um investimento estimado em mais R$ 6 bilhões no trecho ligando Rondonópolis a Sorriso (médio norte) passando por Cuiabá.

A fase de elaboração de projetos, definição de onde serão os terminais ferroviários, modelo e capacidade, ainda vão ser definidos. Em Cuiabá, há um diferencial em relação à carga que vai ser transportada, a tendência são produtos para o mercado consumidor e a indústria de transformação. A Capital vai ser um grande hub (ponto de integração) comercial, industrial e social com mais empresas, vai gerar mais empregos e atrair mais gente e aumento de população. 

PNBonline – E por quê a escolha de Cuiabá? 

Francisco Vuolo –  Porque nós temos abundância de energia com a Usina de Manso, termoelétrica, gasoduto, as principais faculdade formando mão de obra qualificada para ser absorvida pelo mercado de trabalho. Aqui está o entroncamento rodoviário das BRs 163-364-070, uma estação aduaneira, o Porto Seco onde você pode importar e exportar direto da Capital, não preciso desembaraçar no Porto de Santos, posso exportar daqui e vai para Santos para embarcar no navio. Além disso, temos o maior mercado consumidor.

Com a chegada da ferrovia vamos ter a redução do custo do frete com muitos dos produtos que vinham por caminhão vindo de trem. Aliás, já temos material de construção, bebida, produtos de higiene pessoal, os testes para transporte de eletrodomésticos vão começar e bolo de queijo produzido aqui vai pelo trem para ser exportado para China. Só que 80% dos produtos que chegam em Rondonópolis vêm para Cuiabá. Por isso a importância do terminal em Cuiabá. 

A própria Rumo apresentou os estudos, em 2018, que mostram a viabilidade de carga na Capital e Baixada Cuiabana. O estudo apontou cerca de 22 milhões de toneladas de movimentação de produtos. De imediato, assim que chegar em Cuiabá, cerca de 8 milhões de toneladas vão ser agregados, totalizando 30 milhões de toneladas com a vantagem de serem produtos diversificados, não apenas grãos. 

PNBonline – Não há mais nenhum entrave em relação à ferrovia até Cuiabá?

Francisco Vuolo – O que faz com que a ferrovia se viabilize em um determinado local é a capacidade econômica, É diferente de rodovia que se faz uma estrada transita por ela quem quiser. Na ferrovia, você para implantar um terminal tem que ter a movimentação de cargas. Nunca tivemos dúvidas quanto a isso e agora, a própria empresa que vai fazer o investimento e já disse que quer vir até aqui porque há viabilidade econômica. E por isso a certeza de que a ferrovia vai chegar aqui. O dinheiro é da Rumo, não tem recurso público  e, por isso, toda a preocupação em investir em algo que tenha retorno. Quando Cuiabá entra no radar é porque toda a Baixada Cuiabana tem viabilidade econômica.

PNBonline –  Quando tem início a construção desta etapa da ferrovia?

Francisco Vuolo –  Os projetos, estudos ambientais e adequações técnicas devem ser concluídos, em 2020. Os estudos precisam ser aprovados para o início das obras. A expectativa é de três a cinco anos de obras em, aproximadamente, 280 km de Rondonópolis até a Capital. Obviamente, pode acelerar ou atrasar em função dos entraves burocráticos. Na parte técnica e de investimento não há problema. Estou prevendo o mesmo prazo que demorou para sair de Alto Araguaia a Rondonópolis. Foram cinco anos para  fazer 200 e poucos quilômetros. O mais difícil é sair do papel.  

 

PNBonline – Para o senhor que tem a vida ligada à este assunto, qual é a sensação ao ver o sonho do seu pai, o ex-senador Vicente Vuolo, realizado ?

Francisco Vuolo – A sensação é única. Para quem viu, como eu acompanhando meu pai, ainda pequeno, atravessando o rio Paraná, que não tinha ponte e a gente atravessava de balsa aquele rio de três, quase quatro quilômetros. O meu pai falava: nós vamos construir uma ponte aqui. Eu olhava pra ele… E nessa ponte vai passar caminhão e vai passar o trem (dizia o pai). Naquela época, eu estava começando a entender as coisas e meio que duvidava, pensando: será que é possível? E, hoje, é a maior ponte rodoferroviária do mundo. São mais de 3,7 mil metros de ponte. Quando você vê isso acontecer, uma pessoa que trabalhou com um ideal, sem interesse nenhum, uma pessoa que enfermo, você mesmo (Suzi) quantas vezes acompanhou meu pai, com problema de saúde, sem mandato,  lutando e a gente vê isso se realizando, pra gente (faz uma pausa emocionado) é bacana. O que a gente espera (continua ainda com a voz embargada) que de tudo isso que ele sonhou, se materialize, não seja só o transporte da carga. O que ele (Vicente Vuolo) falava é que tão importante quanto o transporte da carga é transportar o desenvolvimento (pausa) é fazer com que o cidadão seja o maior beneficiado. É o que a gente quer.

Ao chegar em Cuiabá, produtos que nós consumimos com frete mais barato, geladeira, fogão, com preços reduzidos, gerando emprego, isto é o que ele (o pai) sempre imaginou. Aquilo que era um sonho, que ninguém acreditava, que chamavam ele de louco, de sonhador, hoje é o que todo mundo quer. Fico feliz, primeiro por ter participado desde o começo, por presidir um fórum suprapartidário e por ver sendo materializado por uma empresa que é séria e competente. A ferrovia nunca operou com tanta eficiência. Temos a certeza que a ferrovia vai começar a responder de forma positiva para o país e para Mato Grosso e para a sociedade. Existem muitas etapas, o fórum vai acompanhar de perto e a cidade precisa se planejar.

PNBonline –  Quais as prioridades neste planejamento?

Francisco Vuolo –  Para receber o terminal ferroviário é preciso definir local, o impacto que isto vai causar, preparação da mão de obra e uma série de elementos que estão envolvidos para que a ferrovia possa cumpir o seu objetivo que é transportar desenvolvimento. Dentro do Plano Diretor do município já tem uma previsão para o modal ferroviário. Agora, com estas sinalizações vamos fazer o desdobramento, as etapas necessárias para manter o impacto positivo. 

PNBonline –  Quanto ás outras duas ferrovias que também estão prevista para passar passar por Mato Grosso, qual é a situação?

Francisco Vuolo – São projetos, por enquanto. A Ferrogrão que vai ligar Miritituba, no Pará a Sinop, norte de Mato Grosso. Segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas a previsão é que em julho do ano que vem seja feito o leilão da ferrovia, um investimento de R$ 12 bilhões. A outra ferrovia, é Ferrovia de Integração do Centro Oeste (Fico) que vai ligar a Norte-Sul, da cidade de Campinorte, em Goiás, à Água Boa e Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. No planejamento do governo Federal, a proposta é na ordem de r$ 4 bilhões, a Vale do Rio Doce, como contrapartida da concessão dela faça a construção da Fico e depois se faz a concessão, Boas notícias, neste sentido, também são esperadas em 2020. 

E, neste caso, o Fórum abre uma nova discussão que é a interligação deste corredores. Não é possível que o governo Federal faça o desenho que eles querem aqui, sem escutar a sociedade. Nós queremos a integração no Estado e as ferrovias têm que ser interligadas. Nós (Fórum) vamos fazer este movimento cobrando do ministério de Infraestrutura e do Planejamento.  

Fonte: PNB Online