Alta dos combustíveis deve refletir nos alimentos e virar um problema ‘de todos’

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Apesar de o impacto econômico negativo causado à economia pela pandemia da covid-19, responsável por grande parcela da inflação que assola o país, não dá para desconsiderar a responsabilidade da política de preços da Petrobras para justificar as altas sucessivas no preço dos combustíveis, que logo vai deixar de ser uma preocupação dos motoristas e atingir toda sociedade, já que deve começar a refletir em aumento no preço dos alimentos.

Com o aumento de 7,04% sobre a gasolina e de 9,15% sobre o diesel nas refinarias, e o etanol acompanha essas altas por tabela, somente em outubro os combustíveis sofreram aumento duas vezes.

A Petrobras, desde 2016, quando o presidente Michel Temer comandava o país, passou a calcular o preço dos combustíveis baseando-se no mercado internacional, ou seja, no dólar.

Fica fácil entender que quanto mais o real se desvaloriza em relação ao dólar, mais caro fica os combustíveis para o consumidor final na bomba. Além de as variações nos preços serem bem mais recorrentes, pois, e o preço é ajustado conforme a variação do dólar, e essa diferença é repassada mais frequentemente à população.

Com a mudança das políticas de preço da estatal em 2016, os combustíveis sofreram a maior alta da história do país nos últimos cinco anos. Ruim para o motorista e empresas de transporte, mas bom para a Petrobrás, que conseguiu, dessa forma, reverter os prejuízos acumulados nos anos anteriores. A companhia teve lucro líquido de R$ 42,9 bilhões apenas no segundo trimestre deste ano.

Economista avalia cenário atual

De acordo com o professor de economia Maurício Munhoz, esses aumentos nos combustíveis devem deixar de ser preocupação apenas de motoristas e empresas de transporte e virar dor de cabeça para população em geral, já que deve refletir logo nos preços dos alimentos e os cidadãos descobrirem isso nas prateleiras dos supermercados.

Ainda de acordo com o especialista, a curto prazo não há uma luz do fim do túnel e perspectivas de queda no preço dos combustíveis.

“A agricultura brasileira é muito dependente das rodovias, consequentemente do diesel, utilizado como combustível em caminhões, carretas responsáveis pelo transporte dos alimentos, e isso deve impactar no aumento geral dos produtos no mercado. Então assim, a curto prazo não vejo uma saída para isso”.

Sobre medidas para minimizar esses impactos negativos, Maurício exemplificou com o pacote de medidas anunciadas pelo Governo de MT que vai baixar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre uma gama de produtos e serviços no estado.

Para se ter uma ideia, a proposta do governador para ajudar a conter o preço dos combustíveis é de baixar o imposto da gasolina de 25% para 23% e do diesel de 17% para 16%, que até pode não parecer muito, mas vai representar uma diferença positiva e ajudar a segurar os aumentos, porém, os novos índices devem entrar em vigor apenas em 2022.

“O Governo do Estado fez uma redução de impostos bastante significativa e a gente espera que a economia se aprume e podemos esperar isso a médio e longo prazo, no curto que eu não vejo essa possibilidade”.

Sobre 2022, segundo o professor, por ser ano de eleição tráz incertezas aos investidores, que não veem o período com bons olhos, e com isso a tendência é a economia continuar “travada”. Maurício ressaltou ainda que no caso do Brasil que tem enfrentado posicionamentos políticos tão fortes e uma polarização que divide o país, o impacto pode ser ainda mais grave.

“O ano da eleição não é bom para a economia. O posicionamento político das pessoas num país como o Brasil que está tão polarizado, não vejo com bons olhos, isso não é bom, coloca num momento de muitas incertezas econômicas que prejudica ainda mais. No entanto, não tem como ter bola de cristal, apesar de não ser um quadro positivo, pode acontecer algo que a gente não espera e mude as coisas, mas até então a tendência é essa”.

Sobre a “tal luz no fim do túnel”, Maurício explicou que no “a longo prazo” podemos ter esperança nas comodities alimentares, como soja, principalmente, que estão supervalorizadas no mercado internacional e pode ajudar a economia brasileira superar essa crise, mas voltou a reforçar a importância de regularizar essa questão dos combustíveis.

“O ideal seria regularizar essa questão dos combustíveis, que estamos atravessando agora, junto dessa supervalorização das comodities alimentares, seria uma boa forma de reação econômica”.

O professor ainda explicou que o momento é de incertezas e que a população tem que ter cautela, mas “cautela demais”, nesse momento, atrapalha a economia a voltar a crescer, afinal o consumo faz o dinheiro girar, gera empregos e move a economia.

“A população tem que segurar as pontas, estamos num momento de incertezas. Por outro lado, se segurar demais atrapalha a economia a reagir, pois, quando se consome, a economia gira, gera empregos, é mais dinheiro circulando e contribui para atravessar a crise. Então tem que ter cautela sim, mas não uma cautela excessiva. O consumo consciente é o ideal para ajudar a economia reagir”.

Fonte: Repórter MT