Juliana Rodrigues, de 26 anos, viveu um pesadelo no dia 17 de fevereiro. Ela recebeu a pior notícia da vida dela: o filho que ela esperava havia morrido ainda na barriga dela. A família dela acusa dois hospitais de Cuiabá de negligência médica.
Juliana e o marido, Leandro Eduardo de Souza Queiroz, de 23 anos, já haviam escolhido o nome do filho: Leandro Junior Rodrigues Queiroz, como o pai. O casal também já tinha preparado cada detalhe em casa para receber o filho. No entanto, o filho nem chegou a nascer.
“Foi uma madrugada de terror mesmo. Minha mãe chamava os médicos e ninguém vinha me ver. Eu não conseguia andar direito, estava perdendo líquido e sangue, mas mesmo assim eles não pareciam se importar com o que acontecia comigo”, lembrou.
Depois de quase duas semanas, a jovem tenta assimilar tudo o que aconteceu
Pais mostram parte do enxoval feito para a chegada de Leandro Júnior — Foto: Matheus Maurício
No dia 16 de fevereiro, ela chegou ao Hospital Santa Helena por volta das 10h com dores e pediu atendimento, mas não houve atendimento.
Contou que, ao dizer aos médicos sobre as dores que sentia, uma profissional realizou o toque para saber o quanto tinha de dilatação. Depois, uma médica da unidade concluiu que não havia condições de que fosse feito o parto normal e mesmo assim não autorizou a cesárea e pediu que Juliana ficasse andando pelos corredores do hospital fazendo agachamento e caminhada das 10h às 14h, sem almoço.
Ela contou que a primeira profissional que a atendeu tinha aceitado fazer a internação para encaminhá-la para um parto cesárea. Após a troca de médicos, outra profissional que lhe atendeu disse que a dilatação havia evoluído, e, segundo ela, fez isso de uma forma irônica. Destacou ainda que chegou a ser cogitada a liberação dela para voltar caso a dor aumentasse.
Por volta de 17h, a grávida e a mãe resolveram ir para o Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá, acreditando que as coisas se resolveriam de uma forma mais tranquila.
Com as mesmas dores que já estava sentindo, a jovem foi atendida por uma profissional que disse o mesmo que ela já tinha ouvido na outra unidade de saúde: “que não poderiam fazer nada, pois a dilatação estava pouca. No entanto, após a bolsa estourar, Juliana foi internada, mas ficou sem atendimento durante toda a noite, segundo ela.
Já no outro dia, um profissional percebeu que a dilatação havia saltado e pediu que ela fosse internada imediatamente. Naquele momento a jovem percebeu que algo estava errado.
“Eles foram fazer ultrassom e tentaram com cinco equipamentos diferentes, em nenhum desses dava pra ouvir as batidas do coração do meu filho. Depois uma médica que estava na sala e acompanhou o procedimento disse que o coração dele havia parado”, expõe.
A jovem acredita que o bebê morreu na madrugada. Após saber que a criança tinha morrido, ainda precisou ficar cerca de 4 horas para que o bebê fosse retirado.
Depois de tudo, Juliana e Leandro foram à polícia e registraram boletim de ocorrência.
Já estava tudo pronto para chegada da criança — Foto: Matheus Maurício
Para o casal, que tinha tudo planejado para a chegada do primeiro filho, nada disso vai substituir a ausência que o bebê fará na vida deles. No entanto, chamará a atenção em situações como essas e alertará muitos.
Posicionamento dos hospitais
Veja as notas emitidas pelo Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá e do Hospital Santa Helena na íntegra:
Hospital Geral
“O Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá informa que recebeu na tarde de ontem a gestante J.R., depois de vários dias de procura por assistência em outras maternidades de Cuiabá. No nosso pronto atendimento obstétrico foi avaliada e imediatamente internada para assistência. Infelizmente por causa ainda desconhecida a criança evoluiu a óbito antes de nascer. O RN foi encaminhado para o SVO para constatação da causa mortis. A paciente ainda encontra-se internada e assistida.
O HG se solidariza com a família neste momento de dor e reafirma que atende a todas as gestantes seguindo as orientações para um atendimento humanizado e que preza pelas boas práticas obstétricas”.
Santa Helena
“Diante dos fatos relatados pelo site de notícias “Primeira Página” em relação a paciente Juliana Rodrigues, o Hospital Beneficente Santa Helena (HBSH) esclarece que a paciente foi prontamente atendida nas dependências do hospital, sendo que em seguida foram realizados todos os exames necessários na paciente, os quais confirmaram a vitalidade fetal.
Esclarece ainda que foi recomendada a reavaliação para verificar a possibilidade de cesárea a pedido da paciente, porém ela se recusou a reavaliação pelos profissionais do hospital e optou por deixar o local, dirigindo-se a outro serviço de saúde.
Neste momento de dor dos familiares e da paciente, o Hospital Santa Helena se solidariza com todos e lamenta profundamente o ocorrido.
O Santa Helena reforça ainda seu compromisso com o atendimento de qualidade de sempre em prol dos seus pacientes, seguindo as recomendações médicas.
Por fim, em relação a todas as ponderações, a unidade manifesta-se no sentido de estar absolutamente à disposição para maiores esclarecimentos.”
Fonte: G1 MT