Para fugir da crise política, econômica e dos desastres naturais que assolam o Haiti, Dionel Chaleston, de 34 anos, deixou o país em 2014 junto de sua esposa para tentar a vida em Cuiabá. Para isso, o casal precisou deixar seus dois filhos, na época com 3 e 10 anos, sob os cuidados dos avós.
Desde então, eles têm contato apenas por chamada de vídeo. Com a vida já estabelecida no Brasil, casal sonha em trazer as crianças, que já têm 10 e 17 anos, para que possam, finalmente, viver em família.
“É muito doído, muito complicado. Muitas vezes nós chegamos do serviço em casa com muita saudade. Quando a gente não consegue falar com os filhos, a gente não consegue nem jantar. É muito complicado saber que eu deixei eles lá e que meus filhos estão crescendo e eu estou aqui no Brasil”, contou.
Esta é a situação de aproximadamente 250 famílias haitianas que vivem na Capital mato-grossense. De acordo com a Associação de Defesa dos Haitianos Imigrantes em Mato Grosso (ADHIM-MT), há anos imigrantes tentam conseguir o visto para seus familiares. Contudo, passam por entrave burocrático junto da Embaixada Brasileira no Haiti.
Rodinei Crescêncio
Presidente da ADHIM-MT, Clercius Monestine: haitianos tentam obter vistos para parentes
Lei de Migração, criada em 2017, prevê que todos os imigrantes brasileiros têm dinheiro à reunião familiar. Ou seja, podem trazer familiares com determinado grau de parentesco ao Brasil para que possam viver juntos.
Conforme explicou o presidente da ADHIM-MT, Clercius Monestine, todas as famílias têm a documentação e o dinheiro necessários para trazer seus parentes, mas não recebem a liberação.
“Temos praticamente todos os documentos que a Embaixada pediu, mas a instituição infelizmente falhou na demanda deles. O site para cadastrar, fazer agendamento, não existe, quando você consegue agendar e vai lá, eles falam que você não agendou”, disse.
“A lei prevê isso, nós queremos que a lei seja cumprida para que os pais e os irmãos possam ver um ao outro”, complementou.
Veja depoimento
Ação coletiva
Para que tenham seus direitos assegurados, haitianos ingressaram com uma ação coletiva junto a Justiça Federal para que seus parentes sejam autorizados a entrar no Brasil sem a necessidade do visto. Eles têm dinheiro suficiente para pagar um avião fretado.
Rodinei Crescêncio
Advogado José João Vitaliano Coelho diz que não é só uma questão legal, mas humanitária
Responsável pela defesa da associação, advogado José João Vitaliano Coelho pontuou que para além do direito assegurado na Lei da Migração, questão também é humanitária.
Isto porque, a crise política no Haiti se intensificou durante os últimos anos e, por isso, moradores do país precisam de refúgio.
“Mais do que o direito, existe a necessidade. Com a morte do presidente, houve uma maior desordem política, então não se sabe quem está governando o Haiti. Consequentemente, houve o aumento das gangues, então as crianças não podem ir para escola, não se pode mais sair nas ruas”, explicou.
História que se repete
Erislim Monestine, de 31 anos, é irmão do presidente da ADHIM-MT. Há 6 anos, com a ajuda de Clercius, que chegou antes ao Brasil, conseguiu se mudar para o país. No entanto, deixou a sua esposa e o filho de 2 anos no Haiti.
Ouça o relato
Ele não conseguiu acompanhar de perto o crescimento do filho e hoje sonha com o momento em que poderá viver junto de sua família.
“É uma grande tristeza. Eu estou sem família e só falo por chamada de vídeo. É uma grande dor e a gente não tem como viver assim. Por isso eu estou pedindo um grande apoio para trazer nossa família. Estamos todos trabalhando aqui no Brasil e a gente quer ter uma oportunidade de dar uma vida melhor para eles aqui”.
Rodinei Crescêncio
Erislim Monestine, de 31 anos, é irmão do presidente da ADHIM-MT, veio para MT e deixou no seu país a esposa e o filho de 2 anos: é uma grande tristeza
Outro lado
O RD News tentou contato com o Itamaraty, que não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem. Espaço segue aberto para eventuais considerações.
Fonte: RD News
