O prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (MDB) foi o único dos candidatos a prefeito de Cuiabá a apresentar um programa inédito no horário eleitoral gratuito da manhã desta quinta-feira (29). Os demais postulantes – Gilberto Lopes (Psol), Roberto França (Patriota), Gisela Simona (Pros), Julier Sebastião (PT), Abílio Junior (Podemos), Paulo Henrique Grando (Novo) e Aécio Rodrigues (PSL) – repetiram programas de dias anteriores.
Emanuel falou pela primeira vez, em seu programa eleitoral, sobre o episódio do paletó, em que ele foi filmado colocando maços de dinheiro no bolso, dentro do Palácio Paiaguás, quando ele era deputado estadual.
Como tem feito desde que o vídeo veio à tona, o prefeito voltou a falar que o dinheiro era referente a uma dívida do grupo do ex-governador Silval Barbosa com seu irmão Marco Polo Pinheiro, o “Popó”, por pesquisas de opinião realizadas pelo seu instituto.
“Ele [Popó] estava precisando, me pediu para ajudar a cobrar e eu concordei. Recebi apenas parte da dívida em dinheiro. O resto do pagamento seria feito em três cheques, que depois foram devolvidos porque estavam sem fundo”, disse o emedebista.
O programa exibiu o depoimento do então servidor do gabinete de Silval, Valdecir Cardoso, que foi o responsável por instalar a câmera que filmou deputados no Palácio Paiaguás. Valdecir relatou que quando chegou ao Palácio foi avisado por Sílvio Correa, ex-chefe de gabinete de Silval, que os deputados iriam à sala onde a câmera estava instalada.
“Como eu tinha sido usado para centralizar a câmera, imaginei que seriam gravados todos que estavam lá atrás. Adentrei na sala do Sílvio e falei: ‘o Emanuel está aí e veio pela recepção. Ele quer falar com você sobre a dívida do Popó’”, afirmou.
Ainda em seu depoimento, Valdeci garantiu que já tinha conhecimento sobre a dívida contraída por Sílvio com o irmão de Emanuel.
“Emanuel não estava na lista para ser gravado lá. Com Emanuel acho que foi injustiça. Eu ia fazer o que? Eu não podia tirar o Emanuel de lá, falar pra ele… falar nada. Porque empregado é empregado né. Quando eu vi o vídeo na televisão, em casa mesmo já falei pra minha esposa: ‘Emanuel não tem nada a ver com o pessoal que estava lá atrás’”, disse Valdecir.
Silvio e Silval desmentem Pinheiro em CPI
Contudo, tanto Sílvio Corrêa, ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa e mesmo o ex-governador atestaram – por duas vezes na Comissão Parlamentar de Inquérito, CPI do Paletó -, na Câmara de Vereadores de Cuiabá, que o prefeito emedebista, no período em que foi deputado estadual, estaria, sim, na lista dos parlamentares da Assembleia Legislativa, que recebiam mensalinho como forma de não investigarem os desvios milionários realizados pelo governo do Estado, na época, nas obras da Copa do Mundo de 2014.
Silvio Corrêa chegou a assegurar que ‘Emanuel Pinheiro foi pra receber propina do acordo’, após ser perguntado sobre outra suposta finalidade da entrega do dinheiro ao político.
O ex-chefe de gabinete ainda chegou a afirmar na Câmara de Vereadores, que algumas vezes, o dinheiro foi entregue diretamente a Pinheiro e, em outras, repassadas a outros deputados para que fosse feita a entrega. E que no dia da gravação ‘Emanuel levou R$ 20 mil, por ser menos volumoso, mas depois voltou para pegar o resto’.
Igualmente, o ex-governador Silval Barbosa revelou na Casa de Leis cuiabana, que o dinheiro recebido por Emanuel era ‘mensalinho’. Um ‘tipo de acordo’ [pagamento de propina em troca de apoio político] que já existia na gestão do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que o antecedeu no Palácio Paiaguás. E Maggi, na época, desmentiu com veemência as afirmações de Barbosa.
A CPI apurou a suposta quebra de decoro e obstrução da Justiça por parte de Pinheiro, à época em que ele era deputado estadual, mas acabou sendo arquivada pelos vereadores que fazem parte da base de Emanuel, na Câmara.
O vídeo foi divulgado há um pouco mais de três anos em rede nacional. Além de Pinheiro aparecem outros deputados recebendo dinheiro em espécie, cujas cenas acabaram sendo adicionadas como documentos, nas delações premiadas de Silval Barbosa e de Sílvio Corrêa, por fazerem parte de um esquema de pagamento de propina, para garantir a governabilidade do ex-governador. Os vídeos foram entregues ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Veja vídeo do programa eleitoral