Surpreso e ao mesmo tempo ‘baqueado’, o juiz da Vara de Execuções Penais, em Cuiabá, Geraldo Fidélis, voltou ao túnel do tempo sobre o que aconteceu no dia 7 de julho de 2013, na audiência realizada por ele na última terça-feira (25), no Fórum de Cuiabá.
Dar a liberdade a um criminoso frio em um dos casos que mais chamou atenção da população de Mato Grosso e, o ‘pior’ a execução foi contra uma colega de trabalho, em que Fidélis segurou a alça do caixão, prestou apoio à família e jurou punição aos entes queridos da juíza Glauciane Chaves de Melo.
No dia do fato registrado dentro do Fórum de Alto Taquari (479 km ao sul de Cuiabá), Evanderley de Oliveira entrou armado no ambiente de trabalho da companheira e por um minuto de ciúmes executou a vítima na frente de sua assessora, enquanto a mesma despachava alguns processos no gabinete.
Evanderley ficou escondido por três dias e foi preso em um matagal da cidade. No dia do interrogatório, ele confessou o crime e disse que chegou no local para conversar com a mulher. Mas, como ela não quis ouví-lo, então decidiu matá-la.
Assim, ele foi transferido para a Penitenciária Central do Estado (PCE) e foi condenado há 18 anos e seis meses de prisão por assassinato duplamente qualificado. Mas, Evanderley cumpriu uma parte da pena e passou para o regime semiaberto com assinatura da magistrada Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, da Segunda Vara Criminal.
AUDIÊNCIA – Durante a audiência, como em um dia comum, Fidélis contou que ao olhar para os presidiários não se atentou ao fato de que um dos condenados que iria ganhar ‘liberdade’ era justamente Evanderley, com quem ele tinha certo envolvimento emocional, já que na época do crime, foi convidado como juiz da Vara de Execuções Penais para conhecer alguns presídios de Minas Gerais, cidade Natal da juíza.
No percurso para as visitas ouvindo a rádio Central Brasileira de Notícias (CBN), um chamado importante: “Juíza de MT é executada pelo ex-marido durante expediente”. A audição se focou. “Opa, juíza de MT? Provavelmente é uma colega”, lembrou.
Ao ser informado o nome da vítima, Glauciane, Fidélis contou que rapidamente a memória boa como sempre o fez lembrar que ele a conheceu durante um curso para magistrados e que o sorriso bem característico da loira não tinha como se esquecer, pois a magistrada era uma pessoa simpática e fez amizades com vários outros colegas de trabalho no dia.
Diante da informação divulgada, a Associação Mato-grossense de Magistrados (Amam) ligou para o juiz e pediu que ele ficasse na cidade para prestar apoio à família, após o corpo ser também velado na Capital e, possivelmente, ser transladado para a cidade natal da vitima.
“Carreguei o corpo em solo mineiro junto com o doutor Jorge Tadeu. Passei a noite no velório, fui ao enterro e voltei para casa. A família estava abalada. Clamava por Justiça. O suspeito foi condenado e pra minha surpresa acabei sendo eu o juiz responsável por conceder o regime semiaberto”, disse.
Após receber outra ligação de um jornalista perguntando sobre a opinião pessoal do juiz sobre a audiência, Fidelis contou à reportagem que rapidamente se lembrou do fato e interrompeu a audiência admonitória.
“Olhei para ele e disse carreguei o caixão da sua esposa. Sabia? Senti o peso daquela família! Ele só abaixou a cabeça e usei um pouco da minha fala de 23 minutos para explicar que trabalhei muitos anos na área de violência doméstica. O tema é delicado e dói muito. Mas, ainda disse que trato todos iguais se não jamais poderia exercer a magistratura. Mas, é uma situação lamentável. Só posso fazer alguma coisa diferente se a lei mudar, caso contrário nada posso fazer porque ele cumpriu dois quintos da pena e com os trabalhos realizados dentro da unidade prisional conseguiu remissão da pena. Além disso, passou por todos os exames necessários e conseguiu os requisitos exigidos por lei”, justificou o magistrado.
COLÔNIAS PENAIS – Sua opinião enquanto juiz sobre o que precisa mudar na lei de execuções penais, Fidélis afirmou que não se cansa de dizer que Mato Grosso precisa rapidamente da implantação de colônias penais.
“No regime semiaberto o preso não pode pôr tornozeleira e ir pra casa. Precisa se internar para dormir à noite e ter atividades e trabalho durante o dia para que a mente dele não vire uma máquina de projetos malignos, assim como ocorre nas cadeias. O investimento na segurança não é apenas com policiais nas ruas ou investigação, e, sim também um bom sistema penitenciário, pois é lá dentro que surgem as ordens para roubarem bancos, supermercados, carros, entre outros. Então o ponto de partida está ai para as coisas tomarem outro rumo”, finalizou.
Fonte: Cuiabano News