O juiz da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Pierro de Faria Mendes, determinou a transferência de um Toyota Corolla GR-S CVT (2021/2022) “vendido” por um estelionatário que se apresentou como “pastor” a uma vítima, que agora terá a propriedade do veículo. A decisão é do último dia 8 de junho.
Segundo informações do processo, a vítima fechou contratos de investimentos e de compra do Toyota Corolla com Flávio Leite Martins Mendes – estelionatário suspeito de pirâmide financeira e outros golpes, e que responde a diversos processos no Poder Judiciário de Mato Grosso.
O negócio fechado em 2022 previa o pagamento de R$ 240 mil — com o repasse de R$ 135,2 mil pelo Toyota Corolla e o restante em “investimentos”. Flávio Leite prometia altos retornos de juros, mas no final dava um “calote” com o dinheiro e os bens daqueles que acreditavam em suas propostas.
A vítima relata no processo que pagou integralmente o acordo, porém não conseguiu que o estelionatário fizesse a transferência do veículo. “Alega que, passado o prazo previsto em contrato, o autor manteve contato com os requeridos para que efetuassem a transferência do bem para o seu nome, oportunidade em que foi informado de que já estariam providenciando.
Como tinham diversas operações financeiras em andamento, conforme se depreende do depoimento do autor junto à Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor de Cuiabá/MT, o autor então aguardou a transferência do bem para o seu nome, devidamente quitado”, diz trecho do processo.
Na decisão, o juiz Pierro de Faria não deixou passar que Flávio Leite Martins Mendes era alguém “famoso”, conhecido em Mato Grosso por operações financeiras fraudulentas “amplamente noticiadas”. “A recusa dos requeridos em promover a transferência da propriedade, aliada ao contexto de suas supostas atividades fraudulentas e esquemas de pirâmide financeira, amplamente noticiadas e objeto de diversas investigações e ações judiciais, demonstra a má-fé e o inadimplemento contratual por parte dos alienantes”, asseverou o magistrado.
A história, no entanto, está longe de ter um final feliz. O comprador do Corolla descobriu posteriormente que, na verdade, foi vítima de um “golpe duplo”. Segundo a decisão, o veículo possui duas restrições: um registro de alienação fiduciária (tipo de hipoteca) com a Caixa Econômica Federal e, ainda, está atrelado a um processo da esfera penal na Justiça.
O juiz Pierro de Faria Mendes orientou a vítima de que as restrições de alienação fiduciária e da ação penal deverão ser discutidas em outros processos.
“A presente sentença apenas formaliza a transferência da propriedade do veículo dos requeridos para o autor, em razão do contrato de compra e venda quitado, sem adentrar no mérito ou na validade das restrições preexistentes, que deverão ser tratadas nas esferas próprias”, orientou o magistrado.
O “pastor fake” sequer se defendeu no processo, sendo julgado à revelia. O juiz admitiu nos autos a dificuldade para citação do suspeito, o que pode indicar que ele esteja foragido da Justiça.
GOLPES
Flávio Leite Mendes Martins e sua esposa, Marina Baricelli Mendes, são suspeitos de um esquema de pirâmide financeira no Estado — além de outros golpes. O casal ficou conhecido em Mato Grosso depois que reportagens publicadas pelo FOLHAMAX, em fevereiro de 2023, denunciaram fraudes que consistiam em se apossar de bens e altos valores de vítimas, sob a promessa não cumprida de retorno dos investimentos.
Diversos boletins de ocorrência foram registrados a partir das denúncias das vítimas do casal, que também responde a ações no Poder Judiciário. Além da Zion Enterprise, envolvida no golpe do Corolla, outra organização citada recorrentemente nas denúncias — e que faria parte do “ecossistema” de empresas fantasmas utilizadas nas fraudes — é identificada como Zion Go Smart Business.
Além de investimentos em dinheiro, o casal também é suspeito de utilizar imóveis e carros de luxo de terceiros nos golpes.
Flávio Leite Mendes Martins se apresentava como “pastor” e costumava gravar “mensagens religiosas” e de “superação” em suas redes sociais. Numa delas, ele diz esperar as pessoas no “topo” — sem revelar se o “topo” seria o da pirâmide financeira que é suspeito de comandar. “Bora para o topo. Os desafios são para nos fazerem mais fortes”, diz ele ao lado da esposa num vídeo. O casal, que se apresentava como pastores, pregava numa igreja neopentecostal de Cuiabá conhecida como “Paz Church”. (Folhamax)