Xômano vence câncer em pandemia e diz que página é motivo de felicidade no dia

 Com 107 mil seguidores só no instagram, a página do “Xômano que mora logo ali” tem contas no facebook e instagram que movimenta a vida digital dos internautas. Administrada pelo comunicador José Didier, ela completa sete anos de seu lançamento, e transformou-se de um passatempo experimental em uma aula de publicidade em uma influência contemporânea do cuiabanês através de vídeos com dublagens dos áudios de whatsapp, dueto do tik tok e outras intervenções criadas pelo Didier. Há um ano, além da pandemia, o influencer descobriu que precisaria de quimioterapia para tratar o recém descoberto câncer. Desde então, em isolamento e quimioterapia, ele usou seus perfis do personagem Xômano como um remédio para a própria vida e pessoas que buscavam distrações virtuais para rirem um pouco nos dias mais intensos da Covid-19.

Confira os melhores trechos da entrevista!

Como você está pós a última sessão de quimioterapia?

A quimioterapia é pesada e acaba com o cara. Ainda estou sem pelos no rosto, sobrancelha ou no nariz, isso faz eu espirrar toda hora. Tenho me isolado bastante, neste tempo, além dos exames, devo ter saído de casa uma única vez. Estou melhor a cada dia, me cuidando.

Suas páginas têm cronograma de publicação ou você é mais instintivo?

Não tenho cronograma, o que der vontade ou eu achar bacana vou publicando, sem horário, manhã ou madrugada. Digo que do nada vem uma ideia, que o Xômano é um personagem, um anjinho ou alguma coisa que baixa em mim (risos). As inspirações surgem e vou produzindo.

Acredita que suas páginas viraram um tipo de fuga da realidade, inclusive da pandemia?

Acredito que sim. Todos os dias recebo mensagens de pessoas dizendo que a página é um motivo de felicidade no dia. Ao menos um sorriso e também na superação da depressão. Isso me surpreendeu um pouco porque não foram poucas mensagens nesse sentido, mas muitas. Por isso, todos os dias, por mais que eu esteja muito cansado – eu posto.

Sente que isso também pode ter ajudado no seu tratamento, além da quimioterapia?

A página foi um remédio, porque além de ter descoberto o câncer um dia antes de entramos na primeira quarentena, eu teria que enfrentar a quimioterapia sem nenhuma certeza – foi muito angustiante. Tinha dia que eu começava a querer fazer algo, e logo desistia. Na mesma semana que internei, operei. No retorno para casa, comecei a minha rotina de publicações, e com ela descobri que sabia fazer coisas que eu nem imaginava, como gravar esses vídeos. Posto pouca coisa feita pelos outros, a grande maioria é criação minha.

Em um momento que maior parte das pessoas compartilham um sentimento de tristeza e preocupação, é também mais delicado fazer humor?

Acho que em todo caso, quando se trata de humor, é preciso se observar muito o que está fazendo. Quando sinto que algo pode ferir alguém – eu apago. Quando vejo que mais de cinco pessoas falam, eu tiro mesmo. Procuro entender onde foi que errei. O cancelamento pode acontecer até por coisas simples, as vezes são detalhes que podem passar despercebidos, mas as pessoas quase sempre te avisam.

Sobre o cavalinho do Fantástico, como tudo aconteceu?

Eu não havia assistido Fantástico aquele dia, mas as pessoas vieram me perguntar a opinião e tinham dito que a dublagem estava ruim. Que eu quem deveria dublar, mas lá são dois caras que fazem os cavalinhos de todos os times do país. Pra ajudar, descobri quem era que fazia e marquei ele em uma publicação. Depois ele me mandou um direct dizendo que já estava me seguindo e estudando melhor o sotaque do cuiabano. Hoje em dia ele interage bastante nas minhas publicações.

Sente que sua página e personagem junto com outros humoristas resgatam o orgulho de ser cuiabano?

Com certeza, além de mim tem muitos outros, a começar por uma das minhas primeiras referências – o Liu Arruda. Depois o Nico e Lau e os mais contemporâneos, como por exemplo os personagens do ator Thyago Mourão. Quando comecei também foi com outra página importante, a do Kabeça Pensante. Tem várias pessoas que somam nessa questão de reverter a vergonha pelo amor à cuiabania. Além dessas pessoas, minha vivência contribuiu muito, observando a gurizada de bairro e também meus familiares – que falam com um tom mais arrastado do cuiabanês.