Completando 299 anos neste domingo (08 de abril), a capital mato-grossense ainda não vislumbra o grande sonho de seu tricentenário, que é a conclusão das obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). A obra que deveria ser entregue na Copa 2014, sofreu inúmeros embargos da justiça e se encontra paralisada por imbróglio entre o Governo do Estado e o consórcio responsável pela construção. Enquanto de um lado o Governo insiste na rescisão do contrato com o consórcio para poder realizar nova licitação, do outro lado a empresa acionou a justiça para continuar à frente das obras, com aditivos.
Enquanto perdura o impasse, torna-se cada vez mais certo de que as obras ainda se arrastarão por muito tempo – isso se de fato forem retomadas – ao mesmo tempo em que os vagões ficam expostos à degradação e a ferrugem vem tomando conta dos trilhos já implantados. Tudo isso, sem contar no ‘rasgo’ feito na área central de Cuiabá e nos transtornos ocasionados por esse fator. Pior do que o ‘marasmo’ parece ser a falta de boa vontade para resolver o problema.
Enquanto não há qualquer expectativa de quando será inaugurado o VLT cuiabano, essa espécie de modal vai se tornando uma referência a nível mundial como um sistema limpo e que funciona bem, em um momento em que se busca de soluções tecnológicas para trazer mais bem-estar aos usuários e aumentar a qualidade dos serviços prestados. Sistemas como o BRT (corredores de ônibus) estão cada vez mais ultrapassados e rejeitados nas grandes cidades.
Tecnologia só avança
“Os veículos autônomos são uma das grandes ‘ondas’ que devemos ver nos próximos anos em termos de transportes no Brasil”, diz Luiz Carlos Néspoli, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). Nos países desenvolvidos, a disseminação desses veículos sem condutor já é uma realidade. Além da popularização do Tesla, modelo pioneiro no segmento de veículos sem motorista, o sistema de compartilhamento de carros Uber começou recentemente a operar caminhões autônomos em algumas rodovias dos Estados Unidos.
Embora funcione de maneira diferente, o transporte sobre trilhos do Brasil já conhece uma tecnologia driverless (sem condutor) há alguns anos. Desde a sua inauguração, em 2010, a linha 4-Amarela do metrô de São Paulo é operada remotamente por meio de um sistema driverless que evita falhas humanas e ajusta a quantidade de trens, o intervalo entre eles e a sua velocidade. As portas de plataformas, associadas a esse sistema, funcionam de maneira sincronizada com a chegada dos trens e aumentam a segurança do sistema, impedindo o acesso dos indivíduos aos trilhos.
VLT carioca
O VLT Carioca, que interliga a região portuária do Rio de Janeiro ao centro financeiro da cidade e ao aeroporto Santos Dumont, é outro sistema de transporte sobre trilhos que usa a tecnologia para aumentar sua eficiência. Um exemplo é o seu modelo de alimentação elétrica, feito pelo solo (APS) em vez da fiação aérea, o que aumenta a segurança e preserva a paisagem urbana.
O sistema conta ainda com supercapacitores, que são como superbaterias embarcadas nos veículos. “Elas recuperam energia, por exemplo, nos momentos de frenagem, e permitem que uma composição chegue à próxima parada mesmo em caso de pane ou alagamento extremo”, afirma o diretor de Operações do VLT Carioca, Paulo Ferreira.
Já para o fluxo de passageiros, o VLT Carioca usa câmeras de contagem que indicam entradas e saídas em cada parada e ajudam no controle de evasão. Mesmo sem catracas ou cobradores, algo pouco comum no transporte coletivo brasileiro, o VLT apresenta um índice de evasão abaixo de 10%, um número visto como positivo por Ferreira.
Desafios para o futuro
Com os avanços tecnológicos ocorrendo cada vez mais rapidamente, e levando a conquistas que antes pareciam inalcançáveis, um dos desafios dos sistemas de mobilidade urbana do Brasil é se manter atualizado com o que acontece no exterior.
Além dos carros autônomos, que devem se tornar uma realidade por aqui dentro de alguns anos, Luiz Carlos Néspoli, da ANTP, vê o maior uso da energia renovável como outra mudança importante nos sistemas de mobilidade do Brasil para um futuro próximo.
Em termos de transporte sobre trilhos, o superintendente da ANTP ainda espera a disseminação no Brasil das tecnologias de levitação magnética, que já são usadas em outros países, como Alemanha, China e Japão, em trens rápidos de longa distância. No Japão, um trem operado com essa tecnologia chegou a atingir 603 km/h em 2015.
No Brasil, a Coppe/UFRJ desenvolveu uma tecnologia de trem de levitação magnética chamada Maglev-Cobra, que já está sendo operada em fase de testes em um trecho de 200 metros dentro do campus da Ilha do Fundão, no Rio. A tecnologia ainda não está certificada para uso comercial, mas a coordenação da Coppe acredita que seja viável construir uma primeira linha usando esse sistema em um prazo de três anos após a certificação.
Fonte: Da Redação/Com G1