Parece inofensivo, mas viver em um centro urbano exposto a ruídos de buzinas, veículos, sirenes e outras sonoridades pode levar à depressão, causar estresse e até prejudicar o sistema cardiovascular. Para combater esses danos, é importante encontrar um espaço na agenda para desacelerar e curtir a tranquilidade que a natureza oferece.
Atualmente, o Governo do Estado dispõe de três parques urbanos em Cuiabá que recebem mensalmente cerca de 40 mil pessoas. Nas férias de dezembro e janeiro de 2017, a expectativa da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) é que esse número chegue a 50 mil. O que o biólogo e analista da Superintendência de Educação Ambiental, Francisco Tadeu Paroli, avalia como muito positivo. “Estar perto do verde da natureza é comprovadamente relaxantente e calmante”.
Francisco Paroli acrescenta que ouvir o som dos pássaros, das folhas levadas pelo vento, observar os pequenos animais e ter um tempo para contemplação, em silêncio, traz alívio, melhora o humor, além de outros benefícios à saúde física e mental, que impactam diretamente no relacionamento profissional e familiar.
Com a proposta de relaxar, a família Dias reuniu filhos, netos, genro e nora para um piquenique no Parque Mãe Bonifácia. Eles acreditam que faz bem pisar na grama e se desligar das preocupações cotidianas. “Uma pediatra disse que as crianças que têm dificuldade para andar precisam pisar na terra, na grama. Assim elas ganham mais estabilidade”, lembra a advogada Ana Flávia Dias, 26 anos, mãe da Valentina, 4 anos, e filha da aposentada Izabel Dias, 56 anos. Ambas adoram frequentar o parque.
Valentina mora longe da mãe, em Pontes e Lacerda (448 km a oeste de Cuiabá), mas sempre que vem para a Capital pede para ir ao parque e Ana Flávia realiza seu desejo por acreditar que o contato da filha com o meio ambiente fará dela uma criança solidária. “Aqui ela interage com outras crianças, aprende a compartilhar os brinquedos, cuidar da natureza. Se um coleguinha cai, ela ajuda a levantar. Mesmo que a gente reúna toda a família em casa, a diversão não é a mesma, porque o apartamento é pequeno”.
Está estressado? Vai caminhar!
A vida agitada da modernidade tem levado muitas pessoas para caminhos quase que irreversíveis. Para mudar a rota, Francisco acredita que bastam atitudes simples, como caminhar nos parques ao invés de caminhar na rua. “O ambiente da rua é mais poluído e os barulhos atrapalham a concentração. Já em meio à natureza o ambiente é mais fresco e o ar é mais puro”.
Quem sabe muito bem disso é a assistente social Daniela Oliveira, de 24 anos. Ela sempre gostou de exercícios físicos, mas ficou parada por alguns anos e voltou a caminhar e fazer atividade aeróbica há cerca de três meses. Daniela confessa que era muito estressada e que apesar do pouco tempo fazendo caminhada já sente a diferença no corpo. “Antes eu saia do serviço ia direto para casa, jantava e dormia. Agora venho ao parque. Me sinto mais alegre e disposta”.
Para o professor universitário Marcílio Lucas Bambirra, 65 anos, a caminhada evita problemas de saúde, é um remédio que não custa nada, só o esforço e disciplina. “Sinto que descarrega a energia negativa, evita diabetes, pressão alta e colesterol”. Marcílio participa de um grupo de aposentados que caminha quase que todos os dias no Parque Mãe Bonifácia.
Além da caminhada, os parques urbanos estaduais também são muito usados por aqueles que estão ali só para contemplação. É o que sempre faz a dona de casa Lúcia Luiza de Farias, 62 anos, quando acompanha a filha diariamente. Enquanto a filha caminha, Lúcia fica sentada apenas observando a natureza, vendo as crianças brincarem e ouvindo o som dos pássaros. “Eu me sinto melhor quando estou aqui. Fico tranquila, calma e feliz, não abro mão desses momentos”.
Lugar de criança é na grama
A correria do cotidiano não afeta negativamente apenas o adulto, as crianças também estão vulneráveis a essas doenças, por isso é imprescindível incentivar os pequeninos a manterem o contato com a natureza, levando-os aos parques para brincar, fazer piquenique ou mesmo caminhar. “Os pais estão deixando as crianças muito tempo em casa jogando vídeo game e vendo filmes. Muitos não sabem, mas a tecnologia motiva as crianças a ficarem isoladas e sedentárias”, afirma Francisco Paroli.
A dona de casa Stella Trevisan, 25 anos, é de Curitiba (PR) e está de férias em Mato Grosso hospedada na casa de parentes em Várzea Grande. Mãe de duas meninas, uma de nove meses e outra de 7 anos, ela defende a bandeira de que criança feliz é criança pisando na grama. “Na nossa cidade sempre levamos as meninas para visitar os parques naturais. Para mim, é necessário que elas se desliguem da tecnologia para se relacionar com a natureza e outras crianças”.
Atrações
O fato de os parques estarem localizados em pontos estratégicos, facilita o acesso de toda a população cuiabana. Situado na Av. Miguel Sutil, nas proximidades do Bairro Santa Helena, o Parque Mãe Bonifácia dispõe de uma estrutura ampla, com uma área de 77 hectares. Além dos 9 km de trilha para os simpatizantes da caminhada, o local ainda oferece equipamentos multifuncionais para prática de exercícios físicas, playground infantil com área de 300 m² e adaptado a crianças com deficiência (cadeirantes), áreas para piquenique em baixo das árvores ou na Concha Acústica e um casarão com algumas salas de reuniões que pode ser usado para leitura, estudo e palestras menores.
Com 66 hectares, o Zé Bolo Flô possui 3,1 km de trilha e está localizado na região do Coxipó. Já a unidade de conservação Massairo Okamura possui a menor área, com apenas 53 hectares e cerca de 2 km de trilha. Por estar situado na Av. do CPA, o local recebe moradores da região da grande Morada da Serra e bairros adjacentes. Dentro do parque existe um espaço com equipamentos para prática de atividades físicas. E para amenizar o calor passam no local duas nascentes do Rio Cuiabá que junto das árvores contribuem com o clima do ambiente.
Além de conferir esses atrativos, os visitantes também podem reservar um momento para descansar e contemplar os animais. Segundo a coordenadora de Unidades de Conservação da Sema, Paula Andrade, inúmeros bichos da fauna silvestre vivem nos parques estaduais, que são unidades de conservação protegidas pelo governo do estado, dentre eles: pássaros, cutias, macacos, tamanduás-mirins, quatis, iguanas, répteis e anfíbios. “O legal é que eles estão em fase de reprodução nesse período. Seria muito divertido os pais levarem as crianças para verem os animais e seus filhotes”.
Cuidados
Não existe contraindicação quando o assunto é curtir as férias e relaxar, mas vale destacar alguns cuidados necessários ao passear pelos parques. O gerente do Mãe Bonifácia, o coronel da PM Celso Benedito Ferreira, pede atenção redobrada aos responsáveis pelas crianças. Por se tratarem de unidades de conservação com animais silvestres, árvores com galhos secos e pontiagudos, pedras, buracos e outras situações que podem levar a quedas e ferimentos, Celso recomenda que haja supervisão de um adulto durante toda a permanência dos filhos em qualquer um dos ambientes dos parques.
Ele pede aos responsáveis que coloquem nas crianças algum tipo de identificação. “É interessante que a criança ande com alguma fita no braço, pode até ser adesiva, informando o nome dos responsáveis e telefone. Assim facilita em qualquer eventualidade”.
Outro alerta é dado pelo gerente do Zé Bolo Flô, Fernando Augusto da Silva. Ele pede que os visitantes respeitem a fauna e flora local e reforça o aviso da Portaria n° 49 da Sema, que proíbe a entrada de animais de estimação nas unidades. “Entre as principais ameaças estão caça aos animais silvestres e a transmissão de zoonoses”. Quem desrespeitar essa normativa pode receber uma multa de até R$ 10 mil.
Policiamento reforçado
Para garantir mais segurança aos usuários dos parques, a Sema em parceria com a Polícia Militar (PM) reforçou o policiamento nos locais. Quatro policiais farão rondas diárias nos horários de maior circulação de pessoas nas unidades: das 6h às 10h; e das 15h30 às 19h30. Conforme Paula, a presença da segurança pública nos parques resultará na diminuição significativa do uso indevido dos locais. “Muitas pessoas vão até os parques em buscar de descanso e lazer, mas há quem usa o local de forma imprópria e para prática de delitos, então, com a presença da polícia vamos diminuir esse tipo de ocorrência”.