Caderno apreendido revelou regras, apelidos e hierarquia de grupo formado por alunas em MT — Foto: Reprodução
Um caderno apreendido pela Polícia Civil após uma estudante de 12 anos ser agredida e torturada por colegas, dentro da Escola Estadual Carlos Hugueney, em Alto Araguaia, a 415 km de Cuiabá, revelou como funcionava o grupo criado pelas alunas, inspirado em facções criminosas, segundo o delegado responsável pelo caso, Marcos Paulo Batista de Oliveira.
A vítima foi agredida após negar um “geladinho” – suco de pacotinho – a uma das colegas. Para o delegado, a ação da aluna foi contra uma das regras descritas no caderno, o que teria motivado a agressão.
No caderno apreendido na casa de uma das alunas, constava a hierarquia, normas e apelidos, como ocorre em facções. De acordo com o delegado, as estudantes usavam pulseiras com cores diferentes para identificar a função de cada uma dentro do grupo.
Aluna fica ajoelhada enquanto é torturada por 4 colegas em escola de MT — Foto: Reprodução
“Durante os depoimentos, elas disseram que tinham algumas regras básicas, como respeitar, ser leal e não tirar a pulseira de pano que elas criaram, cada uma com uma cor diferente para definir a hierarquia. Cerca de cinco delas eram identificadas como diretoras e tinham as outras, que possuíam outras atribuições , explicou.
Segundo a Polícia Civil, o grupo, que também inclui a vítima, era formado por cerca de 20 alunas. Na apuração dos fatos, foram ouvidas cerca de 10 pessoas, além das menores envolvidas, os pais, a diretoria da escola e a vítima prestaram depoimento.
Nesta quarta-feira (6), a Justiça determinou a internação de três adolescentes envolvidas nas agressões. A quarta menina identificada tem 11 anos e deve ficar à disposição do Conselho Tutelar, já que não pode responder pelo ato, conforme a lei.
O secretário de Estado de Educação, Alan Resende Porto, anunciou que a escola será transformada em uma unidade cívico-militar. Segundo ele, o processo de recrutamento dos militares que irão atuar na unidade já está em andamento.
A agressão foi registrada em vídeo pelas adolescentes e divulgada nas redes sociais. As imagens mostram uma das alunas ajoelhada, sendo encurralada e agredida por outras meninas.
Além de tapas, socos, chutes e puxões de cabelo, as estudantes usaram um cabo de uma vassoura para bater na vítima.
Veja como foi a agressão
Investigação
Durante os depoimentos, as suspeitas confessaram ter agredido outras quatro colegas em situações semelhantes. Os celulares das adolescentes foram apreendidos e os vídeos das agressões foram localizados pela polícia.
A investigação também revelou que algumas das alunas envolvidas têm histórico familiar ligado a facções criminosas, o que pode ter influenciado a criação do grupo dentro da escola. Uma das adolescentes já havia sido conduzida à delegacia por estar em companhia de membros de uma facção, um deles portando drogas.
Para o delegado, a agressão sofrida pela vítima é semelhante ao “salve”, um tipo de punição interna comum entre membros de facções, após desrespeitar regras impostas pelo grupo. Outra regra imposta era que a vítima não poderia chorar durante a agressão, sob pena de sofrer ainda mais violência.
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) informou que equipes da gestão da escola e da Diretoria Regional de Educação foram mobilizadas para prestar apoio psicológico à vítima, aos envolvidos e às famílias dos estudantes. O estado de saúde da vítima não foi divulgado. (G1 MT)