O homem então levou Fabrycio para a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Maracanã e no local a vítima teria sido atendida rapidamente por um funcionário. O profissional teria solicitado raio X do braço esquerdo e feito a imobilização imediata do membro. Entretanto, durante o atendimento, uma equipe da PM, comandada pelo tenente Alexandre, teria chegado ao local, intimidando e constrangendo Fabrycio e o profissional da saúde.
Fabrycio sofreu uma fratura no braço por conta da queda.
O BO descreve que em “voz alta e com arrogância” o militar teria questionado ao profissional da saúde se ele conhecia Fabrycio. O profissional teria dito que ‘não’ e que estaria fazendo seu trabalho. O militar teria continuado com os questionamentos e perguntado onde estaria a motocicleta, onde Fabrycio estava e onde ele teria caído. “Em um verdadeiro interrogatório, dando pressão psicológica e usando de abuso de sua autoridade”, segundo o Boletim de Ocorrência.
A mãe do universitário acredita que o filho sofreu o constrangimento por ser negro e por estar desacompanhado dos responsáveis. O pai de Fabrycio é policial, mas estava em Nova Olímpia. Já a empresária estaria fazendo uma especialização profissional em Cuiabá.
O militar ainda teria tirado o universitário da UPA sem comunicar os profissionais do local, sob argumento que precisava fazer a checagem da motocicleta. Mesmo com braço fraturado, o jovem foi colocado na viatura e levado até o local do acidente. Depois da checagem do veículo (que não tinha pendências) e da ficha criminal do rapaz, que não possui passagens pela polícia, o tenente teria liberado o estudante.
Durante a conversa com o tenente, Fabrycio teria dito várias vezes que estaria voltando do trabalho quando sofreu o acidente. Inclusive, ele estava com uniforme do local onde faz estágio.
“A todo momento se identificava e ele [tenente] sempre interrogando, intimidando com preconceito racial por ele ser negro, não respeitando sequer o momento em que se encontrava sozinho, sem presença dos pais”, acrescenta o B.O.
A cirurgiã-dentista diz que o filho foi marginalizado, tratado como criminoso e desrespeitado pelo tenente. Na ocorrência, ela manifestou desejo de representar criminalmente contra o militar. Janete também denunciou o caso na Corregedoria da Instituição.
“Somos pessoas de boa índole, não temos passagem na polícia. Mesmo sabendo que o senso da impunidade soa mais alto, eu continuo acreditando na justiça”, pontuou a empresária ao Olhar Direto.
Casos envolvendo tenente
Em julho de 2020, o tenente foi filmado agredindo um advogado criminalista da cidade de Pontes e Lacerda (445km de Cuiabá). Depois da repercussão do caso, ele foi transferido para Barra do Bugres.
Na nova cidade, já em fevereiro deste ano, ele foi filmado agredindo um adolescente de 16 anos com um tapa no rosto. O militar xingou e chamou o garoto, que estava de bicicleta, de vagabundo.
A família afirmou que o menino trabalhava em um mercado de menor aprendiz e não tinha passagens pela polícia.
Outro lado
Procurada, a Polícia Militar informou que contra o militar há uma sindicância instaurada pelo 7ª Comando Regional que segue em instrução. Referente à denúncia de abuso de autoridade, a Corregedoria disse que que coloca-se à disposição para receber a denúncia ou, caso não queira se identificar, sugere que denuncie por meio do disque-denúncia da PM – 0800.65.3939 número onde poderão detalhar a ocorrência mantendo a identidade em sigilo.