“Eu vou te responder como cidadão. Eu não gostaria de acreditar que a motivação que foi dada para a não realização do evento na Arena Pantanal tivesse qualquer outro motivo que não aquela que foi justificada. Eu não consigo conceber que exista outra motivação se não aquela que foi dada”. Esta é a crença do secretário de Comunicação da Prefeitura de Cuiabá, Junior Leite. Ele, que esteve envolvido no projeto do Festival dos 300 anos desde o início, não acredita em motivações políticas, mas afirma que, caso haja, isso não atinge o prefeito.
“Não vai atingir a administração, a gestão do prefeito Emanuel Pinheiro. Ela [a motivação] já atingiu, seja ela qual for, a população, o cidadão, que não tem, muitas vezes, a condição de sair aqui da nossa cidade pra ter a oportunidade de ter acesso a espetáculos, shows, alguma coisa nesse sentido. Aqueles que têm a condição de pegar um avião e ir pra Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, que bom que eles tem essa condição. Agora, o cidadão que mora no Pedra 90, no Tijucal, na Grande CPA, que não tem condição sequer de pegar um ônibus pra ir num evento, quanto mais pagar o ingresso… e muito menos ainda de ver um espetáculo como esse, que ia ter praticamente uma réplica de uma abertura de Copa do Mundo, ou Olimpíadas, esse, talvez, está sendo privado de uma geração inteira de ver um espetáculo como esse. Nem aqui, quando teve a Copa do Mundo, a maioria da população não teve dinheiro pra ir”, lamentou.
O Festival foi cancelado na última quinta-feira (21), quando o Governo atendeu a notificação do Ministério Público Estadual, em razão do temor de que o evento causasse danos ao gramado da Arena. A comemoração teria shows de Leonardo, Zezé de Camargo, Jota Quest e Chitãozinho e Chororó, dentre outros, com entrada gratuita, além de uma projeção mapeada no gramado, contando a história da capital, um show de luzes e tecnologia.
“Quantas mil pessoas não conhecem a Arena Pantanal, porque quando abre a Arena eles têm que pagar o ingresso do jogo e não tem condições de ir?”, questiona Leite. “ Quantas mil pessoas ajudaram a construir a Arena pagando seus impostos, suas obrigações tributarias, e até hoje não puderam ter acesso à Arena, e teriam a possibilidade, nesse momento, até pelo atrativo, que seria o evento, teriam a condição de entrar e conhecer aquela maravilha de obra, aquele espetáculo de equipamento público, e infelizmente, em virtude dessa decisão, a gente vai privar o cidadão de ter acesso a cultura, a lazer?”.
A festa seria realizada com patrocínio de uma série de empresas, por meio da Iniciativa Privada. Por este motivo, segundo o secretário, não é necessário fazer críticas ao uso do orçamento. “E esse discurso de que a saúde está ruim, a educação está ruim, eu até entendo. Nós estamos todos imbuídos [nessa questão], o prefeito tem feito aquilo que é possível e impossível, colocado como prioridade a questão da saúde, da Santa Casa. Mas as pessoas não podem ser confundidas. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tanto que era tudo da Iniciativa Privada”, explica.
Ainda na quinta-feira (21), o governo do Estado publicou que o Festival teria sido transferido para o Sesi Papa. A Prefeitura, no entanto, afirmou que nunca houve uma discussão neste sentido, e que o festival só poderia ser realizado na Arena, pois foi planejado por oito meses para que acontecesse ali. Leite, ainda, acredita ser muito difícil que o cancelamento seja revertido.
Fonte: Olhar Direto