
Mesmo com histórico de eficácia e segurança consolidada, as vacinas perderam espaço entre as prioridades das famílias nos últimos anos no Brasil. A consequência é preocupante: em 2024, o país voltou a figurar entre as 20 nações com mais crianças não vacinadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Enquanto isso, algumas doenças em processo de erradicação ou até erradicadas têm ameaçado retorno.
O cenário acende um alerta: somente nas Américas, mais de 7 mil casos de sarampo foram registrados, em 2025, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O Brasil, que recuperou o certificado de eliminação da doença em novembro do ano passado, corre o risco de novamente perder essa certificação. Também chamam atenção os 4.406 casos de meningite já confirmados em 2025, já que – segundo diretrizes do Ministério da Saúde – o objetivo é reduzir epidemias e diminuir os casos da doença até 2030. Além disso, a baixa cobertura vacinal contra poliomielite tem gerado preocupação: embora o país não registre casos há três décadas, não atinge a meta de 95% de imunizados contra a doença desde 2016.
A enfermeira responsável pelo serviço de vacinas do Sabin Diagnóstico e Saúde em Manaus, Jéssica Paulino, afirma que a recente queda na busca por imunizantes tem várias causas. “Muita gente deixou de vacinar os filhos na época da pandemia, por medo de contaminação pela covid-19, e acabou não retomando depois. Também houve influência da desinformação sobre a segurança das vacinas”, comenta.
Outro fator que ajuda a explicar a queda na vacinação infantil é a rotina cada vez mais comprometida dos responsáveis, que muitas vezes não conseguem levar os filhos para vacinar por falta de tempo. “Deixar de buscar a imunização é um perigo para as crianças, porque o vírus não desaparece para sempre da sociedade, ele continua existindo”, ressalta. “É a vacinação que mantém o controle. Quando esse índice cai, o risco de surtos aumenta e a população fica mais suscetível a transmitir a doença e também a adoecer”, acrescenta.
Calendário vacinal infantil
A vacina contra a poliomielite deve ser aplicada ainda nos primeiros anos de vida, em um esquema que começa aos 2, 4 e 6 meses, com reforços aos 15 meses e 4 anos. No caso do sarampo, a proteção é indicada a partir dos 12 meses de idade com a tríplice viral, que também protege contra caxumba e rubéola. O reforço é aos 15 meses com a tetraviral, que inclui a varicela. Já a vacina contra meningite tem a primeira dose aos três meses, segunda dose aos cinco meses e um reforço entre 12 e 15 meses.
Na rede privada, a vacinação é uma alternativa a quem precisa de mais praticidade ou tem viagens programadas. O atendimento costuma ser mais rápido e, na maioria das vezes, não exige agendamento.
Algumas imunizantes também produzem menos reações adversas por serem acelulares, como por exemplo as vacinas contra difteria, tétano, coqueluche, poliomielite dos tipos 1, 2 e 3 e hepatite B. “Esses imunizantes são produzidos com partes de células dos agentes causadores da doença, com isso, se reduzem as chances de reações indesejadas”, comenta.
Também existem imunizantes disponíveis apenas nesse segmento, como a vacina meningocócica B, que protege contra o grupo B de bactérias causadoras da meningite.
Outra vantagem é a possibilidade de adquirir vacinas combinadas, uma opção especialmente útil para crianças com vários imunizantes em atraso. Com apenas uma aplicação, se previne várias doenças. “No caso da poliomielite, por exemplo, é possível receber a vacina em uma versão combinada com a tríplice bacteriana, que protege também contra difteria, tétano e coqueluche”, comenta a enfermeira, reforçando que o principal é não deixar de vacinar, buscando as opções disponíveis que melhor se encaixem na rotina da família.