O aumento do número de eventos antissemitas e correlatos, mesmo que nem todos com violência física, reflete o aumento da quantidade de células neonazistas. É o que aponta um relatório lançado este mês pelo Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil. Havia em 2022, pelo menos 1.117 de células desta natureza em todo país. Destas, 10 estavam em municípios de Mato Grosso.
No topo da lista, encontra-se o estado de Santa Catarina, com um número assustador de 320 células nazistas identificadas. Em segundo lugar, vem São Paulo, com 268 células, seguido pelo Paraná, com 197. Rio Grande do Sul ocupa o quarto lugar, com 159 células, enquanto o Rio de Janeiro aparece em quinto, com 61 células nazistas.
O sexto lugar é Minas Gerais registra 32 células nazistas, seguido de Goiás, com 12. Mato Grosso ocupa a oitava colocação. Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Pernambuco têm oito células, seguidos pelo Distrito Federal, com seis. Bahia, Pará, Sergipe, Acre, Alagoas, Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Tocantins possuem apenas duas células nazistas cada.
Os dados sistematizados integram a pesquisa desenvolvida pela antropóloga Adriana Dias, que foi pesquisadora da FioCruz e uma das mais importantes no monitoramento de grupos criminosos de extrema-direita no Brasil. Adriana morreu em janeiro, vítima de câncer. Seus estudos apontam um crescimento de quase 1500% no número de células entre 2015 e o ano passado.
As células identificadas como neonazistas são grupos que atuam em plataformas “comuns” como o Facebook, o Instagram, o Twitter ou o Telegram, mas também em outras menos conhecidas, como as redes sociais VK (russa) ou a Gab (norte-americana), e em fóruns on-line e endereços da deep web. Nestes espaços proliferam discursos antissemitas, racistas, xenofóbicos, misóginos, homofóbicos, em que, em geral, pessoas declaradamente neonazistas se expressam livremente.
Um dos episódios citados pelo relatório como exemplo de atuação desses grupos relembra quando no final do ano passado, em mensagens enviadas a eleitores do PT por meio do WhatsApp e do Telegram, estava escrito “Atenção petistas, coloquem esse adesivo [estrela símbolo do PT] na porta do seu negócio. Mostre que você tem orgulho de quem elegeu”. No dia 7 de novembro de 2022 mais de 120 estabelecimentos fecharam as portas após as ameaças em todo o país. Em Mato Grosso, uma das vítimas foi um cirurgião-plástico que confirmou estar se sentindo ameaçado.
Fonte: PNB