Projéteis que mataram advogado eram da Polícia Militar

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A perícia técnica apontou que os projéteis retirados do corpo do advogado assassinado Renato Gomes Nery, 72, são oriundos da Polícia Militar de Mato Grosso, em lote destinado ao Batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam). Apontou ainda que a pistola Glock, também das forças de segurança do Estado, usada pelo assassino de Nery, foi entregue por policiais militares da Rotam 6 dias depois da execução do advogado, após uma ocorrência de um suposto confronto policial.

Os 4 militares que participaram deste suposto confronto, e estão entre os presos desta quinta-feira (06), teriam implantado a pistola na ocorrência, atribuindo a propriedade dela às vítimas do confronto. Os 4 PMs também são investigados pela ação em que deixou um morto e um ferido.

Os policiais presos ontem são Wailson Alessandro Medeiros Ramos, que até a última quarta-feira (5) atuava na segurança pessoal do governador Mauro Mendes, o sargento PM Leonardo de Oliveira Penha, o sargento PM Jorge Rodrigo Martins e o soldado Wekerlley Benevides de Oliveira. Além dos 4, foi preso o homem apontado como autor dos disparos que mataram Nery, Alex Roberto de Queiroz Silva. O marceneiro atuava como caseiro em uma chácara no bairro Capão Grande, em Várzea Grande.

A chácara estava alugada pelo policial militar Heron Teixeira Pena Vieira que, na data em que Nery foi executado, atuava no setor de inteligência do Batalhão Rotam. Heron também teve a prisão decretada e é o único que se encontrava foragido, pois deixou a residência horas antes da deflagração da Operação Office Crimes – A Outra Face, da Polícia Civil. Disse para a esposa que iria pescar e não foi localizado até o início da noite.

Situação aponta para o vazamento da operação, já que horas antes, Wailson Alessandro, foi desligado da equipe de segurança especial do governador Mauro Mendes e conduzido para a sede do Batalhão, onde permaneceu.

Durante as buscas realizadas na manhã de quinta-feira (6), na chácara alugada pelo militar, foi localizada uma placa de identificação da unidade especializada, com a logomarca da Rotam. O local é apontado como sede de encontros e reuniões da associação criminosa.

Heron e mais dois policiais investigados pelo assassinato do advogado também respondem ações penais por outros homicídios ocorridos em supostos confrontos investigados na operação Simulacrum. Heron tem condenação de oito anos de reclusão por crime de tráfico, em investigação da Polícia Federal. (Leia mais na Página 2B).

Até o momento, as investigações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontam a disputa de terra como a motivação para a execução do advogado.

O policial militar Heron Teixeira teria sido contratado para executar o advogado, mas o PM teria terceirizado a pistolagem para o seu caseiro Alex, seu funcionário e comparsa no crime de tráfico de drogas.

Heron teria emprestado a moto e a arma para Alex e o ajudou a planejar a fuga. A motocicleta foi apreendida durante as buscas, nesta quinta-feira. Estava parcialmente desmontada em uma empresa na cidade de Barão de Melgaço. A imagem da moto pilotada pelo assassino foi captada por câmeras de segurança poucos minutos após a execução do advogado, seguindo para Várzea Grande.

O delegado Caio Albuquerque, titular da DHPP, afirmou à imprensa que durante a operação foi possível ainda o esclarecimento da rota de fuga do executor e as investigações seguem para conclusão do caso. Sobre supostos mandantes, a Polícia Civil não falou.

Renato Nery era ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso (OAB-MT) e foi atingido por disparos, um deles na cabeça, enquanto chegava em seu escritório de advocacia, localizado na avenida Fernando Corrêa, no dia 5 de julho do ano passado. Ele chegou a ser socorrido e submetido a uma cirurgia, mas morreu horas depois.

Operações

Essa é a terceira fase da operação que busca esclarecer e prender os envolvidos na morte do advogado. Em fevereiro deste ano, a Polícia Civil realizou a segunda fase com diligências em um escritório de advocacia no bairro Quilombo, em Cuiabá.

Em novembro de 2024, a DHPP também cumpriu cinco mandados de buscas em endereços residenciais e comerciais dos investigados nas cidades de Cuiabá e Primavera do Leste.

18 dias antes de ser assassinado, Renato Nery havia feito uma denúncia sobre um escritório do crime e citou os colegas de profissão.

Nery acusava ainda o advogado Antônio João de Carvalho de agir ilegalmente na disputa de terra em Novo São Joaquim e ainda citava uma organização criminosa que era composta por advogados, desembargadores, médico e jornalista. Renato chegou a alertar, citando a morte do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023.

Família

Na busca por justiça, a família de Renato Nery instalou outdoors em Cuiabá para exigir a prisão dos envolvidos e cobrar respostas das autoridades. Por meio de nota, os filhos informaram que estão acompanhando os resultados das operações da Polícia Civil e que aguardarão o desdobramento das prisões para outras manifestações.

Em nota, a PM confirmou o envolvimento dos policiais e a prisão de 4. Informou ainda que a Corregedoria-Geral acompanha os fatos. “A corporação reforça que não coaduna com nenhum tipo de crime, seja dentro da corporação ou fora dela”, diz a nota.

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) foi procurada. A reportagem tentou falar com o secretário, o coronel César Augusto de Camargo Roveri, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

Leia reportagem completa na edição do jornal A Gazeta  (Gazeta Digital)