Pombos já mataram três pessoas no estado este ano, sendo duas só em Cuiabá

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Eles fazem parte da paisagem urbana, pousam em marquises, praças e fachadas de prédios públicos, passam quase despercebidos na rotina das cidades e revelam um risco invisível no estado, agora em crescimento. Mato Grosso registrou aumento no número de mortes por doenças associadas à contaminação ambiental por fezes de pombos. Em 2025, três pessoas morreram vítimas de meningite fúngica causada por fungos que se espalham pelo ar, enquanto em 2024 foram registrados dois óbitos no estado, segundo dados oficiais da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT).

Além dos óbitos, os registros oficiais mostram a circulação contínua da doença no estado. Entre 2024 e 2025, Mato Grosso confirmou 15 casos de meningite fúngica, a maioria causada pelo fungo Cryptococcus, conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Trata-se de um micro-organismo presente no meio ambiente que encontra nas fezes de pombos condições ideais para se desenvolver e se dispersar no espaço urbano.

Em Cuiabá, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou três casos de meningite por Cryptococcus somente em 2025. Dois deles evoluíram para óbito. As vítimas eram mulheres entre 30 e 40 anos; uma delas era imunossuprimida. Um terceiro paciente, homem entre 20 e 30 anos, também imunossuprimido, segue em tratamento.

Os sintomas da criptococose podem começar de forma inespecífica, com febre, tosse e mal-estar, e evoluir para quadros neurológicos graves, como dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos, rigidez na nuca e não é transmitida de pessoa para pessoa.

Segundo a professora Adriana Borsa, da área de Saúde Pública Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a contaminação não ocorre pelo contato direto com o animal, mas pelo ambiente. Quando as fezes secam, partículas microscópicas do fungo permanecem suspensas no ar e podem ser inaladas sem que a pessoa perceba. A exposição acontece em locais comuns do cotidiano, como praças, calçadas, áreas externas de prédios públicos e, em alguns casos, ambientes fechados, por meio de sistemas de ventilação e ar-condicionado.

Para Adriana, o pombo não deve ser tratado como vilão. “O animal só permanece onde encontra abrigo, alimento e água. Quando a cidade oferece essas três condições, a população cresce”, afirma. Segundo a professora, a prevenção passa pelo bloqueio de locais de nidificação, como marquises, beirais e caixas de ar-condicionado, além da redução da oferta de comida e água, medidas que afastam as aves.

“Para reduzir a população de pombos, tem que se excluir os “AAA”. Ambiente, todos os locais onde os pombos possam fazer os seus ninhos, caixas de ar condicionado e beirais de telhado. Então, o ambiente é o primeiro local que se deve evitar o abrigo dos pombos. Depois, nós vamos ter a questão da oferta de alimento, a população deve ser desestimulada a ofertar alimento entre os pombos. E por último, restringir a oferta de água para esses animais, né? Então essas aí seriam as medidas eficazes de controle de pombos”, explicou.

Você sabia que é proibido alimentar pombos urbanos, manter abrigos para essas aves e comercializar alimentos destinados a elas em vias públicas? Em Cuiabá, a prática é vedada pela Lei Municipal nº 6.340/2019, que também obriga proprietários de imóveis com infestação a instalar redes e outras barreiras físicas para impedir o pouso e a nidificação. O descumprimento pode resultar em advertência e multa.

Ainda assim, praças, prédios públicos e fachadas comerciais continuam oferecendo condições favoráveis à permanência das aves, mantendo ativo um risco que não é visível a olho nu. Para especialistas, a ausência de ações contínuas de conscientização e manejo ambiental contribui para que a contaminação siga ocorrendo de forma silenciosa. O aumento no número de mortes em 2025 em relação ao ano anterior reforça que o problema vai além do incômodo urbano e se impõe como uma questão de saúde pública.

“O pombo precisa de abrigo para fazer ninho, ele não vive exposto ao tempo. Quando esse abrigo é bloqueado com telas, espículas ou outras barreiras físicas, o animal simplesmente vai embora”, afirma um empresário do ramo de controle de pragas urbanas. Segundo ele, a eliminação do acesso a alimento e água completa a estratégia, já que o uso de venenos ou o extermínio das aves é proibido por lei.

Com o aumento de óbitos em 2025, os dados oficiais indicam que a exposição ambiental associada aos pombos deixou de ser um problema pontual e passou a exigir atenção permanente das autoridades de saúde e da gestão urbana. (Estadão de MT)