A Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou, nesta segunda-feira (24), o casal dono de um berçário no Centro de Sorriso, a 420 km de Cuiabá, preso no dia 14 deste mês, suspeito de torturar bebês e crianças que ficavam sob os cuidados do estabelecimento. O local, que estava legalizado, atendia crianças de 0 a 5 anos e cobrava cerca de R$ 948 a mensalidade.
Ao g1, a defesa informou que no momento não vai se manifestar, pois ainda não teve acesso ao relatório do inquérito. Segundo a delegada Jéssica Assis, responsável pelo caso, a mulher foi indiciada por cinco crimes de tortura e três de maus tratos, e o homem por um crime de tortura, cinco de omissão perante tortura e um de ameaça contra ex-funcionário.
A delegada ainda disse que, depois que o casal foi preso, a polícia pediu a interdição do berçário, mas o poder judiciário indeferiu, pois avaliou que não haviam elementos para isso.
Casal responderá por 15 crimes
Juntos, eles devem responder por 15 crimes. Como explica a delegada Jéssica Assis, após o fim das investigações, 33 testemunhas foram ouvidas sendo que nove delas eram ex-funcionárias do berçário e sete eram crianças que frequentavam o local.
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Com isso, o casal deve responder por 15 crimes ao todo, dentre eles: tortura, maus-tratos, omissão perante tortura contra oito crianças e ameaça contra ex-funcionária. Ainda de acordo com a delegada, a mulher deve responder oito crimes e o homem por sete.
Jéssica afirma, ainda, que as investigações continuam para esclarecer a ação de outros suspeitos, que também estariam envolvidos nos crimes. Por isso, a delegada explica a importância da atuação da população, para que pais e mães que tenham tido crianças que frequentaram o berçário, procurem a polícia para dar mais informações sobre os casos.
Apesar das prisões e investigações, o estabelecimento, que funciona como hotelzinho e berçário para crianças entre zero e cinco anos, vai continuar funcionando no centro da cidade.
Outras vítimas
Na última segunda-feira (17), os pais de uma das crianças que, supostamente, teriam sido vítimas de agressões em um berçário em Sorriso, a 420 km de Cuiabá, conversaram com a reportagem da TV Centro América. Segundo o casal, a filha, de 3 anos, passou a ter comportamentos diferentes e chegava em casa contando que teve o cabelo puxado por uma professora e foi trancada em um quarto escuro.
Entre as agressões narradas por outras testemunhas à polícia, há relatos de tapas nas nádegas e na boca, mordidas, puxões, golpes com raquetes, empurrões e beliscões contra as vítimas. A alegação era de os atos serviam para disciplinar as crianças. Mas, as agressões eram imputadas a outras crianças, pela proprietária da creche, quando questionada pelos pais.
Além disso, testemunhas e uma das vítimas relataram a existência de um “cantinho do pensamento”, que consistia em um corredor escuro, que dava acesso ao quarto da proprietária, onde ela trancava as crianças que se comportavam mal e as deixava sozinhas, por até duas horas.
Testemunhas contaram ainda ter sofrido ameaças de morte do proprietário do estabelecimento.
O outro lado
O advogado de defesa do casal preso, William Puhl, alegou à reportagem que os proprietários do berçário são inocentes e que uma das mães teria agido de má-fé ao denunciá-los à polícia, apresentando imagens de ferimentos ocorridos fora da unidade de educação.
A defesa também negou que as crianças eram trancadas em um quarto escuro e que ainda não teve acesso ao relatório completo do inquérito policial após o indiciamento desta segunda-feira.
Entenda o caso
De acordo com a Polícia Civil, o berçário era investigado há alguns meses após denúncias de pais que apontavam fatos graves de abusos físicos e emocionais contra as crianças.
Entre as agressões narradas pelas testemunhas à polícia, estão tapas nas nádegas e na boca, mordidas, puxões, golpes com raquetes, empurrões e beliscões contra as vítimas.
Os donos alegavam que os atos serviam para ‘disciplinar’ as crianças. No entanto, as agressões eram imputadas a outras crianças, pela proprietária da creche, quando questionada pelos pais.
“Ex-empregadas do local também trouxeram imagens que mostram boca de criança cortada, marcas de tapas na bunda das crianças. Tem um acervo probatório bem robusto que sustenta a denúncia”, ressaltou a delegada Jéssica Assis.
Jéssica ainda disse que ouviu ex-funcionárias do berçário, que confirmaram as agressões. Elas afirmaram à polícia que não denunciaram antes, porque eram ameaçadas pelo dono do imóvel.
O advogado de defesa afirmou que a relação entre os donos e as funcionárias era amigável e que está juntando mensagens trocadas entre eles para entregar à Justiça.
Após as investigações, a delegada Jéssica Assis representou pela prisão preventiva dos investigados, que foi deferida pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Sorriso.
Fonte: G1 MT/Página Única