Policial de carreira da Polícia Federal (PF), bacharel em Direito (advogado), o atleticano (torcedor apaixonado do Atlético Mineiro), o mineiro da Capital, Alexandre Bustamante dos Santos, hoje titular da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT), o segundo homem mais importante depois do governador na hierarquia da segurança pública do Estado, não esconde seu fascínio pela investigação policial.
Segundo Alexandre, para se chegar aos culpados de um crime com mais segurança, a investigação tem que ser feita com inteligência para não se fabricar culpados. O secretário de Segurança de Mato Grosso é dono de um QI impressionante, que não deixa dúvidas de sua inteligência, mas o que mais a atenção é o que pode ser considerado um fenômeno: a sua popularidade. Ele é quase unanimidade dentro de sua Pasta quando o assunto é tratamento entre pessoas.
A meta do secretário é baixar a violência, principalmente os crimes contra a vida: os homicídios, o tráfico de drogas e os roubos. Para tanto, o secretário conta com duas armas poderosíssimas: um “espião” que os bandidos nem imaginam que exista, mas que os vê e os segue dia e noite pelos quatro cantos da cidade e uma Secretaria de Inteligência, uma mais modernas do País.
Para Alexandre, as provas investigativas, principalmente as com a ajuda de imagens de vídeo e as gravações, além, é claro, das testemunhais, e as periciais, uma das mais importante também as mais contundentes. Para tanto, o secretário luta para modernizar ainda mais a Segurança Pública do Estado, as polícias Civil (PC), Militar (PC) e os setores também importantes como o Instituto Médico Legal (IML) e a Perícia Oficial do Estado, a Politec.
Para quem não sabe, dentro da sede da SESP, no Centro Político Administrativo (CPA), existe uma “arma poderosa contra o crime”. Um telão ligado à um sofisticado controle de câmeras espalhadas pelos principais pontos da Grande Cuiabá e rodovias. Câmeras que vê, ouve e grava com muita nitidez tudo que você, seu carro e sua moto estão fazendo, principalmente se estiverem cometendo crimes de roubo, furto, tráfico de drogas, assassinatos ou infrações no trânsito.
Confira a entrevista do secretário
CUIABANO NEWS – Desde 2016 Mato Grosso, principalmente sua capital saiu da “Lista Negra” da violência dos crimes contra a vida: assassinatos como homicídios e latrocínios – roubos seguidos de morte -, crimes que deixavam o Estado sempre entre os mais violentos do País. Qual foi o segredo? Foi um milagre? Ou foi o quê?
BUSTAMANTE – Não tem milagre na segurança pública. Se tem é muito suor. Na segurança pública os reflexos são sentidos com o tempo. Quando os índices começaram a baixar, foi fruto de políticas implementadas por outras administrações e que foram dadas continuidade pelos gestores públicos atuais. O foco no uso da inteligência, georreferenciamento da criminalidade, uso de mapa de Kernel, uso de câmeras auxiliando as investigações, cruzamento de dados operacionais com os dados obtidos pela inteligência resultam numa melhora significativa dos números. Contudo, ainda temos muito a caminhar. Mais do que termos números em queda, é necessário obtermos uma sensação de segurança que seja sentida pela sociedade. Essa sensação é a nossa maior busca cotidiana.
CUIABANO NEWS – O senhor foi secretário-adjunto e também secretário de Segurança Pública no Governo Pedro Taques. E hoje é o titular da Pasta. Foi uma surpresa para o senhor o convite do governador Mauro Mendes?
BUSTAMANTE – Na realidade fui secretário adjunto de segurança pública no Governo Blairo Maggi e Secretário de Estado nos últimos dois anos do Governo Silval Barbosa. Após sair da SESP, em dezembro de 2014, após a realização dos jogos da copa, o então prefeito da capital me fez um convite para conduzir a Agência Municipal de Serviços Públicos Delegados – ARSEC, onde tive a honra de trabalhar por 4 anos. Eu me aposentei na Policia Federal no início do ano de 2.105 e me preparei para exercer a advocacia. Mas gosto de novos desafios. Ao ser convidado pelo Governador Mauro Mendes para mais esse desafio, realmente foi uma grata surpresa. O estado de Mato Grosso é muito prodigo em pessoas capacitadas para a Gestão Pública. Na área de segurança temos diversos profissionais que tem plena capacidade de fazer a condução da pasta. Mas o convite me foi feito, e eu fiquei muito feliz.
CUIABANO NEWS – A meta de todo o Governo e de todo o secretário de Segurança é baixar a violência. O senhor se considera preparado para essa empreitada? O Governo vai dar apoio ou já está dando apoio?
BUSTAMANTE – Sempre que se aceita a condução de uma pasta da envergadura da Segurança Pública o apoio do Governo é fundamental para o êxito. Fazer mais do mesmo é fácil, difícil é atingir as metas propostas gastando menos. Essa foi a missão passada pelo governador. Ele foi claro e objetivo: temos que melhorar de forma linear a segurança, dentro dos limites financeiros que temos disponíveis. Assim está sendo feito. Todos os contratos estão sendo renegociados, os custos baixando. Mas ainda temos muitos problemas herdados da última administração como o caos das viaturas. Temos ainda muitas unidades com problemas de viaturas que só vão ser resolvidos com mais tempo, devido ao grande imbróglio nos pagamentos deixados em atraso. Quando toda engrenagem estiver funcionando, acredito que o controle dos índices vão cada vez mais continuar baixando.
CUIABANO NEWS – Muitas pessoas criticam os preços absurdos que o Governo paga para locar veículos. O senhor concordar que locar veículos para a Segurança é melhor, traz economia ou senhor preferiria que sua Pasta tivesse uma frota de veículos própria?
BUSTAMANTE – Eis um grande dilema que temos que resolver. Por ordem do Governador estamos realizando estudos para verificar se a locação, como está posta, traz economia ou apenas posterga um problema. Acredito que as viaturas operacionais devam ser locadas, por causa do uso intenso a que elas são submetidas. Normalmente são utilizadas em áreas não urbanas. Tendo um maior desgaste, trazendo grande despesa na manutenção. Em contrapartida, as viaturas de caráter administrativos podem ser próprias. Com um custo de manutenção menor, este passaria a ser do Estado. Mas na realidade, apenas o resultado do estudo que foi solicitado vai apontar qual o melhor caminho a seguir. Antes são apenas conjecturas.
CUIABANO NEWS – O senhor vestiu a camisa e abraçou a bandeira e o brasão da Polícia Federal desde 1987 como agente e fez sua carreira com muita competência. Fez curso de delegado e até Academia. Agora o senhor veste a camisa da Segurança Pública de Mato Grosso. Tem alguma diferença? É o mesmo amor?
BUSTAMANTE – Nunca na minha vida imaginei ser policial. Quando fiz o primeiro concurso em 1.987, procurava a estabilidade que o serviço público oferecia. Nem o salário era razoável. Mas ser policial, em qualquer força, é uma coisa que vicia e entorpece. Se realmente a pessoa gostar de ser policial, isso nunca mais deixa sua vida. Não importa se você é Federal, Civil, Militar, ou outra qualquer, ser policial é um sacerdócio, que faz com que você possa entender o frenesi que a carreira traz. A diferença que sinto hoje para quando eu entrei, é o nível de maturidade que a experiência e o “tempo de janela”, que faz você errar menos e pensar mais antes de agir. Mas a vontade de sair em operação ainda corre nas minhas veias. Ver as operações faz com que todo policial que um dia esteve naquela condição sinta saudade das loucuras que só a vida policial proporciona. Não vejo diferença entre os uniformes. Ser policial é estar acima disto. O que vale é a vitória do bem contra o mal.
CUIABANO NEWS – O senhor já faz parte da história de Mato Como secretário de Segurança por duas vezes. O senhor planejou e implantou em sua gestão o Centro Integrado de Comando Controle Regional CICCER, batizado pela reportagem do Jornal Centro Oeste Popular como o “Espião” uma ferramenta importante no combate ao crime organizado e às facções criminosas. O que “Espião” representa em sua gestão e no combate aos bandidos?
BUSTAMANTE – O CIOSP não é uma ideia minha ou de ninguém. É fruto da necessidade de integração das forças de segurança, com a utilização dos meios disponíveis. Após o “11 de setembro” nos Estados Unidos, foi sentido a necessidade de atuação em conjunto das diversas agências de segurança naquele pais. Esse conceito foi difundido como boa pratica. E durante os grandes eventos que o Brasil essa cultura foi recepcionada. Durante a Copa de 2014 foi umas das principais ferramentas da área de segurança. Se tornou fundamental nos últimos anos. Acredito que vai ser ainda melhor com os projetos que temos para agregar a essa ferramenta que auxilia a atividade policial.
CUIABANO NEWS – Hoje, qual é o maior entrave e o maior problema que a Pasta enfrenta para se modernizar ainda mais e combater todos os tipos de crimes, principalmente o do “colarinho Branco”?
BUSTAMANTE – Com o decorrer do tempo as ferramentas de investigação vão se modernizando diante da necessidade. Um grande exemplo é a delação premiada. Esse instituto veio a ajudar nas principais investigações a nível estadual e federal. Contudo ainda temos muito a evoluir na nossa legislação brasileira. O policial infiltrado é uma ferramenta que acredito que está próxima de ser implementada. É certo que a investigação financeira tem dado uma resposta aos crimes que envolvem grandes volumes de dinheiro como tráfico de arma, tráfico de drogas e os crimes de colarinho branco, especialmente os de corrupção. Neste sentido cada vez mais o estreitamento entre as agências de fiscalização e investigação se tornam preponderante. O sucesso da batalha contra o crime passa pela necessidade de interação das Instituições, reduzindo ao máximo o protagonismo individual e aumentando o ganho da sociedade.
CUIABANO NEWS – O senhor e a Pasta da Segurança Pública recebem apoio de políticos e das outras Pastas e das autoridades do Estado? Ou eles enchem o saco e fazem pressão na hora em que precisam de alguma coisa?
BUSTAMANTE – Vivemos em um mundo político. A função de Secretário de Estado é uma função eminentemente política. Nesta seara, temos de saber lidar e conviver com a política. Mas sabemos mediar a parte técnica com a política, e é o nosso papel institucional saber dosar. Quanto a apoio, cobro sempre um maior apoio de todos envolvidos. A pasta da Segurança Pública é uma das maiores do Estado. É um tema recorrente em campanhas eleitorais, inclusive tem os que falam que elegeu até um presidente recentemente. Mas por determinação do Governador Mauro Mendes, o núcleo do atual governo tem ajudado de sobremaneira a situação orçamentaria/financeira caótica por que nós estamos passando.
Outra coisa digna de se registrar é a total parceira que temos com os poderes estaduais. O Poder Judiciário, o Poder Legislativo e o Ministério Público sabem da seriedade que implantamos na pasta, e todos, todos, tem dedicado um apoio incondicional ao trabalho dos profissionais que aqui trabalham. O resultado desse apoio e a velocidade com que estamos dando uma resposta (em números), mesmo com grande crise financeiro que o estado atravessa.
CUIABANO NEWS – Como o senhor se livra da encheção de sacos e das pressões diárias?
BUSTAMANTE – Na realidade tenho o maior prazer em receber as pessoas na minha sala. Muitos podem dizer que não é o papel do Secretário de Estado receber todos como eu faço. Mas sou um servidor público. A determinação que foi dada pelo governador é atender a sociedade da melhor forma possível. Quanto as pressões, minha experiência de vida me ensina que a paciência e bons argumentos rechaçam qualquer pressão que possa vir.
CUIABANO NEWS – O senhor está entre o que acreditam a mola mestre e a raiz da violência passam pelo tráfico de drogas?
BRUSTAMANTE – Sim, uma delas. Tenho que a deterioração da família é a principal. Nos últimos tempos vemos que a família não consegue dar conta da educação dos filhos e transfere para a escola. Por sua vez a escola não consegue fazer o papel da família e entram os entes religiosos. Logo em seguida, após a falencia da família, da escola, das entidades religiosas, vem a falha da sociedade. A partir desse momento, vira coisa de polícia, que tem a obrigação de consertar todas as mazelas sociais. A droga é um dos principais indutores da desordem social. Mas temos que ver que a principal falha está no seio familiar. O estado moderno obriga que pai e mãe tenham que sair para trabalhar, deixam seus filhos à mercê de terceiros, que nunca vão conseguir passar os valores que são necessários para a vida. Mas isso é tema para uma entrevista mais longa.
CUIABANO NEWS – Para finalizar. Existem diferenças entre ser PF e ser secretário? E o que a reportagem não perguntou, mas que o senhor gostaria de falar?
BUSTAMANTE – Sem dúvidas que existem muitas diferenças. Na Polícia Federal eu desenvolvia um papel operacional, de rua, totalmente investigativo, coordenando pouco policiais. Já na Secretária sou um executivo. Me preocupo muito mais em dar as condições para que os profissionais de segurança possam desempenhar suas atividades com melhor qualidade. Tenho que registrar e agradecer o empenho e a força de trabalho dos profissionais da Segurança Pública do Estado de Mato Grosso. Um estado continental, em desenvolvimento, com diversos contraste entre municípios ricos e outros pobres, mas mesmo assim atuam de forma a valorizar o uniforme que usam. Estando presente em todos os municípios e quase todos os distritos. Sabemos que sem eles, o ser humano abnegado, seria impossível levar o que mais que o cidadão mato-grossense deseja que é paz social.
Fonte: Cuiabano News