Pastor acusado de ter feito mais de 50 mil vítimas é preso no Tocantins

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O pastor Osório José Lopes Júnior, apontado como líder da organização criminosa que causou prejuízo de quase R$ 156 milhões em mais de 50 mil vítimas e que estava foragido, foi preso na noite desta quinta-feira (21/9) em um racho da zona rural do município de Gurupi, no Tocantins.

Osório é investigado no âmbito da operação Falso Profeta, desencadeada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, vinculada ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (DOT/Decor) do Distrito Federal. De acordo com a polícia, em troca de “bênçãos” financeiras, o grupo — que possuía cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas — induzia as vítimas a depositar valores em falsas operações financeiras e projetos de ações humanitárias inexistentes.

Cinco estados

A operação ocorreu na manhã de quarta-feira (19/9) e mobilizou mais de 100 policiais civis do Decor e de outros cinco estados. Os 16 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça do DF foram cumpridos na capital federal, em Goiás, no Mato Grosso, no Paraná e em São Paulo. Além disso, a Justiça mandou bloquear valores, redes sociais e proibiu que suspeitos de envolvimento no grupo se comuniquem em mídias digitais. Uma mulher foi presa em Jaraguá do Sul (SC). Ela ocupava o cargo de missionária em uma igreja evangélica e é suspeita de ser a principal comparsa de Osório.

Conforme informações de policiais, a investigação foi feita durante mais de um ano, de forma a se  delimitar e descobrir o forte esquema de estelionato, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e falsidade ideológica comandada por Osório. O pastor já é alvo de vários processos anteriores por crimes semelhantes.

Em dezembro do ano passado, a prisão do influencer Paulo Salomão, também pastor, escancarou a organização criminosa liderada por Osório. Na ocasião, Salomão foi preso em flagrante por uso de documento falso e por adulterar documentações particulares no momento em que apresentava um extrato com o saldo de R$ 17 bilhões em uma agência bancária da 516 Sul. Mas, mesmo após a captura, o grupo continuou a aplicar golpes e entrou na mira da polícia.

O golpe

Pelas redes sociais, como YouTube, Telegram, Instagram e WhatsApp, o grupo de religiosos angariava as vítimas, a maioria delas fiéis e frequentadores de igrejas evangélicas e pregava uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara” para convencê-las a investir as economias em falsas operações, com a promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.

A PCDF detectou, por exemplo, a promessa de que somente com um depósito de R$ 25, as pessoas receberiam de volta nas “operações” o valor de “Um octilhão de reais”. Se investisse R$ 2 mil ganhariam 350 bilhões de centilhões de euros. Em cinco anos, o grupo de criminosos movimentou ao menos R$ 156 milhões.

“O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas”, afirmou o delegado Leonardo de Castro, coordenador do Decor.

Empresas fantasmas

Como instrumento da fraude, os pastores constituíam empresas “fantasmas” e de fachada, simulando serem instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado. Na tentativa de “dar aparência” de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebraram falsos contratos com as vítimas, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Quanto às empresas de fachada, a polícia identificou cerca de 40 delas e mais de 800 contas bancárias suspeitas.

Osório era considerado foragido da Justiça e havia mandado de prisão preventiva expedido contra ele. Os alvos da investigação poderão responder, a depender da participação no esquema por cada um, pelo cometimento dos crimes de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crime contra a ordem tributária e organização criminosa.

Fonte: Correio Brasiliense