O padre de Carlinda (a 724 Km da Capital), Ramiro José Perotto disse ao site RD News, na manhã desta quinta-feira, que queria apenas deixar claro que a Igreja Católica é contra o aborto em uma postagem nas redes sociais. Ele foi alvo de um “bombardeio” de ofensas virtuais, após publicar em seu perfil pessoal que a garota de 10 anos, brutalmente estuprada pelo tio e que engravidou, compactuou com o crime sexual. Atacado, reclamou de distorções e afirmou ter sido hackeado.
Em uma das postagens, o padre questionou a inocência da criança, moradora do Espírito Santo, que passou por um aborto autorizado pela Justiça em Pernambuco. “Duvido uma menina ser abusada com 6 anos por 4 anos e não falar. Aposto minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de ‘dar’ então assuma as conseqüências”. O post repercutiu mal.
Como justificativa, alega que apenas multiplicou a mensagem Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entidade máxima dos líderes católica no país. “A palavra do bispo, a carta da CNBB, é a minha palavra. Qual é a palavra, que a igreja sempre será contra o aborto. Mas existem casos que precisam ser refletidos”.
Em nota, a CNBB havia se posicionado contra o aborto. Presidente da entidade, dom Walmor Oliveira de Azevedo, lamenta, na carta, que a Lei e o Estado, com a missão de defender a vida, tenham decidido “pela morte de uma criança de apenas cinco meses, cuja mãe é uma menina de dez anos”.
Em uma conversa por telefone, o padre de Carlinda confirma que fez três postagens. Uma em que replicou a carta da CNBB de dom Walmor. A segunda foi um vídeo que ele gravou, mas que em seguida acabou excluindo, quando algumas pessoas começaram a atacá-lo e também à igreja. “Daí eu postei assim: Se você é católico, se você é cristão, pense na sua fé antes de ser a favor do aborto. As três postagens são minhas. E tiveram inúmeros comentários, foi nisso aí que começam a atacar a gente”, conta.
O sacerdote frisa que os ataques são sem fundamento. Na rede, o chamaram de pedófilo, corrupto e disseram que a igreja esconde pedofilia em baixo da batina. “Fui me defender, fui me defendendo, até que apaguei as postagens, porque não queria mais ofender ninguém e nem ser ofendido. Mas eu peço desculpas por aquilo que é meu, e onde eu errei, até de entrar em assuntos delicados como esse, mas não consigo me responsabilizar por palavras que não disse, pois isso aí foi uma armada”, apontou.
Questionado sobre as três postagens, se não era aquilo que ele queria dizer, o padre falou que a intenção das três postagens era de deixar claro que a Igreja Católica é contra o aborto. E que em dado momento isso fugiu do controle, quando algumas pessoas rebateram dizendo que o conheciam e que o mesmo até aliciava crianças.
“Poxa! Tenho 15 anos de padre. Olha pelas paróquias que trabalhei. Meus coroínhas, nem dou as mãos para eles. Evito ao máximo. Me chamaram de pedófilo. Alguém postou lá o corpo é meu. Transo com quem eu quero. Você que é homem não pode falar de aborto. Mas eu posso. Eu acho engraçado que as pessoas não postam todas as coisas, mas postam aquilo que os interessam e ainda destorcem as coisas”, afirma.
Questionado especificamente sobre a mensagem que gerou mais polêmica – “Duvido uma menina ser abusada com 6 anos por 4 anos e não falar. Aposto minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de dar então assuma as consequências” – se era dele, o padre disse que foi destorcido.
“Hackearam. Quem me conhece sabe que defendo criança, trabalho com criança, dou palestras sobre a sexualidade para crianças, pois tenho especialização em psicologia. É uma crueldade que fazem com a gente. O desejo de atacarem e derrubarem a igreja porque a igreja defende a família. E hoje existe uma milícia que quer derrubar a família. Um excesso de liberdade e querem reverter os valores”, frisou.
O perfil de Ramiro José não está mais ativo. Em seu nome, somente as últimas postagens em felicitação ao seu aniversário, dada por fieis e seguidores que expressaram palavras de carinho a ele no último dia 2 podem ser vistas.
Sobre o caso
Vítima de abuso sexual praticado pelo próprio tio, a menina de 10 anos que descobriu uma gravidez decorrente do crime que sofreu, foi autorizada pela justiça a realizar o procedimento de aborto legal.
A criança foi internada no Hospital São Matheus, em Recife (PE), no último domingo (16) onde equipe médica deu início ao processo para retirada do feto. Ela realizou o procedimento na segunda (17), e teve alta nesta quarta (19).
O tio, acusado de aliciar, ameaçar e abusar e menina está preso no Estado do Espírito Santo, onde a família vive.
A Igreja
A reportagem do RD News entrou em contato com a Diocese de Sinop (a 500 km de Cuiabá), responsável pelas paróquias de Carlinda, e foi atendido pelo bispo Dom Canísio Klaus. Ele respondeu que ainda não há posição para o caso. O site segue aberto a um posicionamento da igreja.
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