Além da devastação causada em milhares de famílias que perderam entes queridos, a Covid-19 está deixando rastros de destruição em órgãos vitais, especialmente nos pulmões.
Pacientes do pós-Covid estão superlotando consultórios e clínicas especializadas em pneumologia. Eles buscam a recuperação ou amenização dos danos respiratórios causados pela doença.
O médico Clóvis Botelho, presidente da Sociedade de Pneumologia em Mato Grosso, diz que na clínica dele as sequelas deixadas pela Covid já representam 80% dos pacientes atendidos.
Professor aposentado do curso de Medicina da UFMT e tutor da mesma graduação na Univag, Botelho explica que a infecção provocada pelo vírus leva à formação de fibroses.
“Quando a infecção cicatriza faz-se a fibrose. Ocorrendo isso, nas áreas atingidas os pulmões deixam de funcionar”, assinala o especialista.
Por sorte, diz, na grande maioria dos pacientes que tiveram áreas menores atingidas, principalmente os mais jovens, os pulmões se recuperam e voltam a funcionar normalmente.
Segundo ele, o próprio organismo resolve entre 50 a 60% dos casos. Pode ocorrer a regeneração da área afetada ou o próprio órgão desenvolver no seu entorno na área afetada maior capacidade de funcionamento.
Nos idosos com doenças pré-existentes ou perda da capacidade pulmonar pela própria idade, as sequelas podem ser mais graves e permanentes.
Clóvis Botelho destaca que, no setor da saúde, o ciclo pós-Covid está praticamente no começo quando se fala da avaliação das consequências.
Se dizendo impressionado com o que tem visto em sua própria clínica nos últimos quatro meses, Botelho reforça a importância da prevenção da doença.
Clóvis Botelho
Para ele, não se pode medir a doença pelo número de curados. “Quando analisamos a pandemia pelo número de curados estamos nos referindo aos que se deixaram contaminar pelo vírus”, observa.
A prevenção, analisa, continua sendo fundamental na prevenção de mortes e sequelas como as que estamos lidando
Ele acrescenta que tão importante quanto prevenir é estruturar o sistema de saúde para atendimento adequado aos pacientes.
Não dispor de vagas de UTI e ter pacientes graves na fila de espera por vaga, diz, é o mesmo que deixá-los morrer.
DADOS
Em Mato Grosso, todos os 142 municípios registraram casos da Covid-19. O estado já contabiliza quase 12 mil óbitos e mais de 440 mil com diagnóstico positivo da doença.
Somente em Cuiabá, morreram mais de 3 mil pessoas. A capital ultrapassa 93 mil com diagnóstico positivo. Mais de 87 mil se recuperaram da doença, porém centenas continuam em tratamento por causas de sequelas respiratórias, cardíacas, entre outras.
Fonte: Diário de Cuiabá