Prestes a completar 300 anos, Cuiabá ganha uma homenagem mais do que especial da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). No domingo (26), a partir das 20h, os músicos, sob o comando do maestro Fabricio Carvalho, realizam a estreia mundial da obra “Concerto Tricentenário para Piano e Orquestra”. A apresentação acontece no Teatro Universitário e a entrada é gratuita. Os convites podem ser retirados a partir desta quinta-feira (23) nas bilheterias, entre 8h e 11h30 e 14h e 17h30, e as entradas são limitadas a duas por pessoa.
A obra foi composta pelo maestro Jether Garotti Jr. sob encomenda do professor Ernani Calhao, docente aposentado da Faculdade de Economia e fundador do movimento Muxirum Cuiabano, e é dividida em três partes: o épico, o sacro e o folclórico. “A minha primeira preocupação era como falar dos 300 anos de Cuiabá em um concerto de piano e orquestra que tem três movimentos e poder retratar o máximo possível da comemoração, da história da cidade e das facetas tanto festivas quanto religiosas da cidade”, explica o autor. “O primeiro passo foi estruturar a primeira parte como sendo mais grandiosa, dos primeiros que chegaram a Mato Grosso. A segunda já é uma parte mais voltada para os temas religiosos e a terceira voltada mais para o rasqueado cuiabano”, acrescenta.
A apresentação da obra também marcará um momento especial para o pianista Pedro Henrique Calhao, convidado especial do concerto. Filho do professor Ernani Calhao, o músico conta que foram dois os motivos para a encomenda da obra. “Sou descendente de vários dos fundadores da cidade, meus ancestrais, além de minha família ser visionária das artes”, expõe.
O concerto também marcará um momento especial para o pianista, uma vez que ele atuará profissionalmente pela primeira vez em sua terra natal. “As apresentações que havia feito aqui foram na infância, não havia me profissionalizado ainda. Moro em São Paulo há 25 anos e lá pude me aperfeiçoar”, afirma. “Estou muito contente por fazer este trabalho, que é por Cuiabá e é um presente para Cuiabá”, completa o músico
O concerto
Ainda sobre a estrutura, o maestro explica que foi interessante tentar desenhar essas três atmosferas definidas. “Tentei aproveitar o máximo da estrutura do primeiro movimento, que é um pouco mais Allegro, o segundo um pouco mais tranquilo e o terceiro mais Vivacce. Aproveitando essas três partes de um concerto tradicional, tentei colocar o máximo de elementos referentes aos climas”, observa.
“O primeiro movimento tem uma alegria estável, pujante, fala de Cuiabá como Cidade Verde, uma cidade grande, de respeitabilidade. O segundo é um movimento de mais reflexão, falando dos aspectos religiosos de Cuiabá. Já o terceiro é a festa, remete ao rasqueado, ao sol, então ele é mais rápido”, explica o maestro da Orquestra da UFMT, Fabricio Carvalho. “Em termos de energia, temos 70% no primeiro, 40% no segundo e 100% no terceiro. Eles têm uma curva ascendente de explosão: começa médio, cai um pouco para reflexão e o terceiro encerra com chave de ouro”, acrescenta.
“O primeiro movimento é um forma grandiosa e majestosa. O segundo tem uma forma mais religiosa e intimista, uma vez que são os temas religiosos de Cuiabá e o terceiro é o gran finale que são os nossos rasqueados cuiabanos, de forma estilizada”, completa Pedro Calhao.
Jether Garotti Jr. conta que a elaboração do concerto contou com a colaboração de Ernani e Pedro Calhao, e de Fabricio Carvalho. “Sempre perguntava o que que eles achavam. Gosto muito de trabalhar com feedback das pessoas. A partir das observações que elas me repassavam, eu alterava algumas coisas para ficar bom para todos”, conta. “O concerto não é uma obra fechada, ou seja, imposta pelo compositor. É uma obra completamente aberta, principalmente por se tratar de uma obra festiva. Além disso, elas [as pessoas] têm uma familiaridade com o contexto cuiabano, que eu não tinha. Então, sempre colocava em aberto a discussão das partes para ver se ia de acordo com a expectativa de cada um e acabou dando um resultado bem interessante”, afirma.
Outra característica marcante do concerto é a diversidade, traço marcante da cultura brasileira. “Dependendo de cada região a diversidade é mais particular. Acho que pelo fato da gente trabalhar com música popular brasileira a gente tem que estar aberto e conhecer cada vez mais as diversidades. E elas são tantas que, com certeza, no bairro do lado está acontecendo outro tipo de música que a gente ainda não conhece”, explica Jether Garotti Jr., acrescentando que os músicos precisam ser versáteis para poder aprender cada vez mais com a diversidade da música popular brasileira.
“No concerto tem alguns elementos que tentei trazer tanto do concerto para piano da orquestra, quanto da música popular cuiabana e de Mato Grosso, tentando achar um ponto em comum entre eles e tentando fazer com que fossem tão versáteis quanto a diversidade. Trouxe elementos da música erudita com elementos da música popular, colocando-os no mesmo ambiente fazendo com que eles mostrem as suas diversidades de forma natural”, observa.
Expectativas
Jether afirma que há uma grande expectativa quanto à recepção do público e espera que esse não seja o último concerto a falar sobre a Cuiabá tricentenária. “Tomara que compositores e arranjadores cuiabanos vejam esse concerto e fiquem incentivados a criar próximos concertos comemorativos de Cuiabá, quem sabe até melhores que o meu, mas que não seja um ponto final. Que seja o início de um processo que cada vez mais as pessoas se sintam incentivadas a escrever mais peças nessa forma”, finaliza.
O concerto integra a Agenda Cuiabá Tricentenária, promovida pela Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência (Procev) e faz parte da Série “Gabriel Novis Neves”. No sábado (25), a partir das 9h, a Orquestra, o autor do concerto e o músico convidado realizarão um ensaio aberto no Teatro Universitário. A entrada é livre e sujeita a lotação do espaço.
Fonte: Hipernotícias