A Operação Gravatas, deflagrada nesta terça-feira (12) pela delegacia da Polícia Civil de Tapurah, a 414 km de Cuiabá, cumpre mandados contra quatro advogados e um policial militar suspeitos de integrar organização criminosa.
Ao todo são cumpridas 16 ordens de prisões preventivas e buscas e apreensões, em Sinop e Cuiabá. Líderes da facção criminosa, que estão custodiados no sistema prisional, também são alvos da operação.
A ação conta com apoio da GCCO (Gerência de Combate ao Crime Organizado) e regionais da Polícia Civil de Nova Mutum e Sinop.
A investigação da delegacia de Tapurah apontou a existência de uma organização criminosa com a participação dos advogados e do policial militar.
Os relatórios, com mais de mil páginas, detalharam a conduta dos investigados e, segundo a Polícia Civil, cada advogado tinha uma tarefa definida em benefício da organização criminosa.
Conforma a investigação da polícia, os quatro advogados representavam o braço jurídico do grupo, e havia uma clara divisão de tarefas a fim de obterem vantagem financeira e jurídica, entre outras, com a prática de crimes como o tráfico de drogas, associação ao tráfico, tortura e lavagem de dinheiro.
O delegado responsável pela investigação, Guilherme Pompeo, pontuou que o ‘braço jurídico’ atuou de forma criminosa e sem respeitar os princípios éticos que regem a entidade da categoria.
“Não se trata da instituição democrática do direito de defesa em essência, que encontra respaldo nos direitos fundamentais da Constituição da República, mas sim de verdadeira associação voluntária dos juristas à organização criminosa”, salientou.
Além da atividade legal
A investigação ainda revelou que os advogados realizaram diversas tarefas para além da atividade jurídica legal. Ou seja, atuaram foram da lei com o propósito de embaraçar investigações da polícia, repassar informações da atuação policial em tempo real e auxiliar em crimes graves, como tortura, e realizando o levantamento de dados das vítimas.
Além disso, segundo a polícia, intermediaram a comunicação entre os líderes da organização criminosa, que estão presos, com outros integrantes que estão soltos.
A Polícia ainda informou que o grupo também contou com a ajuda de um policial militar de Sinop, que enviou ilegalmente dezenas de boletins de ocorrência para os advogados. O Primeira Página entrou em contato com a PM, mas até a publicação da matéria não obteve retorno.
Conforme a investigação, o policial enviava os boletins aos líderes da facção criminosa, que se encontram presos, e, em tempo real, conseguiam informações sobre a atuação policial, tanto da Polícia Civil quanto da Militar.
“O acesso ilegal a tais dados, por indivíduos de alta periculosidade, coloca em risco a vida de policiais éticos e de testemunhas envolvidas nas ocorrências”, observou o delegado.
A equipe da Delegacia de Tapurah apurou ainda o número de pessoas que a banca de advogados defendeu nos últimos dois anos.
O advogado de Sinop representou 205 clientes neste período e, destes, 168 eram ligados a uma facção criminosa com envolvimento por tráfico de drogas, roubos, homicídios, ou seja, 81,95% de criminosos violentos.
“Demonstra-se, assim, mais um indício de que a braço jurídico existe para atender ao interesse da organização criminosa”, destacou Guilherme Pompeo.
Apreensões
Durante o cumprimento dos mandados foram apreendidos, na casa de uma advogada em Sinop, em torno de R$ 100 mil.
As ordens de prisão e de buscas contra os presos já custodiados foram cumpridas no Sistema Penitenciário em Cuiabá.
O cumprimento das ordens judiciais contra os advogados foi acompanhado pelo Tribunal de Prerrogativas da OAB (Ordem de Advogados do Brasil), em Mato Grosso.
Fonte: Primeira Página