A qualidade do ar pode ter um impacto significativo nas mudanças climáticas, que estão em discussão na 30ª Conferência da ONU (COP30), que acontece entre os dias 10 e 21 deste mês, em Belém (PA). No entanto, Mato Grosso apresentou, em 2024, uma das maiores concentrações de material particulado fino (MP2,5) do Brasil, com uma média anual estimada em 30 µg/m3.
O índice é inferior somente ao verificado em Rondônia, com 42 µg/m3.
Esses cenários, estimados a partir de modelos atmosféricos globais, são da nova plataforma MapBiomas Atmosfera, lançada na quarta-feira (5).
A partir de imagens de satélite e modelagem de dados, a plataforma disponibiliza dados climáticos sobre variações de temperatura e precipitação entre 1985 e 2024, além de informações sobre poluentes atmosféricos entre 2003 e 2024 cobrindo todo o território brasileiro.
No país, o monitoramento mostra que o ar mais limpo se encontra em estados litorâneos do Nordeste, como Bahia, Sergipe e Pernambuco, onde a concentração MP2,5 foi inferior a 7 µg/m3 em 2024.
Conforme o MapBiomas, o MP2,5 consiste em pequenas partículas suspensas no ar, sendo um dos principais poluentes atmosféricos.
O MP2,5 está presente na fumaça emitida pela queima de combustíveis fósseis e de biomassa.
“O material particulado fino é composto por partículas microscópicas presentes no ar, que representam uma das formas mais nocivas de poluição atmosférica e oferecem riscos à saúde da população”, explica Luiz Augusto Toledo Machado, professor visitante da USP e membro da equipe MapBiomas Atmosfera.
Associado a esse cenário, a temperatura está subindo mais rápido em estados considerados continentais.
Entre eles, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí, com taxas variando entre 0,34 e 0,40 ºC por década.
O índice é maior que o verificado em nível nacional.
Nas quatro décadas entre 1985 e 2024, a temperatura tem aumentado a uma taxa média de 0,29oC por década no país.
Há uma década, desde 2014, a temperatura no país tem se mantido acima da média do período analisado (1985-2024).
O maior valor de anomalia foi observado em 2024, quando a temperatura ficou 1,2º C acima da média dos últimos 40 anos.
Ainda, conforme o MapBiomas Atmosfera, alguns biomas estão se aquecendo mais rapidamente.
É o caso do Pantanal (+ 0,47°C/década) e do Cerrado (+ 0,31°C/década).
A Amazônia, como um todo, permaneceu na média (+ 0,29°C/década), enquanto outros biomas costeiros apresentaram um ritmo mais brando de aquecimento: Caatinga (+ 0,25°C/década), Mata Atlântica (+ 0,21°C/década) e o Pampa (+ 0,14°C/década).
“Um grau e meio acima da média: essa foi a temperatura média na Amazônia Brasileira em 2024 – uma marca que idealmente não deveria ter sido atingida, conforme o Acordo de Paris. Não foi um caso isolado: em outros locais do nosso país essa marca também foi ultrapassada no ano passado. É o caso do Pantanal, onde o aumento em relação à média foi de 1,8°C”, diz o estudo.
Além do avanço do desmatamento, o levantamento destaca que o clima mais seco favorece a ocorrência de fogo.
A diminuição das chuvas na Amazônia, por exemplo, contribuiu para o aumento da área queimada, que atingiu 15,6 milhões de hectares em 2024.
A fumaça dos incêndios contém MP2,5, cuja concentração alcançou uma média anual de 24,8 µg/m3 em 2024.
De acordo com o MapBiomas, a ideia é de que a nova ferramenta auxilie “o Brasil a implementar políticas públicas baseadas em evidências experimentais ao mostrar quais seriam as regiões mais impactadas pelas mudanças do clima e mudança de uso da terra. (Diário de Cuiabá)








