O Ministério Público de Mato Grosso (MP-MT) denunciou, na terça-feira (23), o motorista Edmirson Pereira Campos, responsável por dirigir o ônibus que transportava 45 passageiros, pelo acidente com uma carreta na BR-163 em Sorriso, ao médio-norte do estado, que terminou na morte de oito pessoas.
A defesa dele informou, em nota, que não teve acesso ao teor da denúncia, apesar de ter se reunido com o Ministério Público para tentar um acordo.
A empresa responsável pelo veículo, Itamarati, disse que não há qualquer decisão final a respeito do caso, inclusive sobre eventual irregularidade na carga horária do motorista.
“A fixação de valor mínimo de danos morais em favor da família das vítimas falecidas, em valor não inferior a 100 salários-mínimos, cada, bem ainda, em favor das vítimas sobreviventes, no valor de 50 salários-mínimos, bem ainda, danos sociais coletivos em 100 salários-mínimos, para o Conselho Municipal de Segurança Pública de Vera”, destacou, no documento.
Conforme a denúncia, um despacho da Procuradoria Regional do Trabalho ainda apontou que o motorista passava por jornada excessiva, com cerca de 12 horas de trabalho com intervalos de apenas 30 minutos.
Relembre o caso
Imagens exclusivas mostram o resgate dos envolvidos. O veículo transportava 45 passageiros.
Entre partes do veículo retorcidas e algumas pessoas soterradas por grãos de soja, socorristas do Corpo de Bombeiros tentavam acalmar o desespero dos sobreviventes.
As frases “Socorro” e “me ajuda” são ditas por passageiros durante o resgate. O esforço para tirar as vítimas do veículo durou horas e desafiou a capacidade dos bombeiros voluntários que ajudavam.
De acordo com a perícia, o ônibus teria invadido a pista contrária da via e bateu de frente com uma carreta que vinha no sentido oposto.
A viagem
Tudo começou com a partida do ônibus de Cuiabá no dia 16 de maio de 2022, às 22h, com destino a Sinop. Durante o trajeto, o veículo quebrou na madrugada do dia 17, às 2h30, antes de chegar a Lucas do Rio Verde.
“Ficou de 2h30 até 7h30 da manhã na pista, até um motorista consertar. E a empresa alegando para gente que estava vindo um carro suporte”, disse a sobrevivente Kely Eronides da Silva da Cruz.
E, 35 km antes de chegar ao destino, o ônibus se acidentou com a carreta.
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Acidente gravíssimo aconteceu na BR-163 em MT — Foto: Divulgação
Socorro das vítimas
A pista ficou totalmente interditada por cerca de cinco horas, enquanto as vítimas estavam sendo socorridas por equipes de resgate da concessionária Rota do Oeste e Corpo de Bombeiros. Um helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (CIOPAer) também foi encaminhado para o local para ajudar no resgate dos sobreviventes.
Os passageiros com ferimentos leves eram tratados ainda na rodovia. Já as pessoas que estavam em estado grave eram levadas para o estacionamento da Catedral de Sinop, pelo helicóptero e, depois para o hospital regional.
“Naquele dia, tivemos que contar às famílias que um pai, uma mãe, um filho veio a óbito. É sempre muito triste”, descreve Camila Carvalho, médica do Corpo de Bombeiros de Sinop.
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Vítimas foram resgatadas de helicóptero e encaminhadas para hospital em MT — Foto: Divulgação
Perícias opostas
Segundo o perito da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), Leandro Valendorf, o ônibus foi o causador do acidente. “Por algum motivo, ele veio invadir a faixa que a carreta trafegava e, por conta disso, se deu causa ao acidente”, explicou.
A defesa do motorista da empresa do ônibus da Itamaraty contestou e contratou um perícia particular. “O ônibus, na verdade, foi desviar do caminhão, que vinha na contramão, só que ele tentou voltar para a sua faixa, só que em sua alta velocidade e devido ao peso do veículo, o caminhão fez o chicote, tanto é que não houve uma colisão [toda] frontal”, disse o advogado Edlênio Barreto.
Por meio de nota, a empresa responsável pela carreta nega a versão da perícia particular. O motorista da carreta sobreviveu e segue afastado da função. Ele perdeu a visão do olho esquerdo.
O motorista do ônibus não foi ouvido pela polícia, pois a equipe não teve sucesso no contato com ele. Segundo a esposa dele, que foi ouvida pela reportagem, ele não se lembra bem do caso. “Sempre quando vê uma reportagem, ele pergunta: Mas foi eu que matei?”.
O inquérito foi concluído pela Polícia Civil. No documento, o motorista do ônibus é apontado como único responsável pelo acidente. O Ministério Público deve avaliar o resultado e apresentar, ou não, à Justiça.
Fonte: G1 MT