Moradora abriga 130 animais e cita maus-tratos e abandono em VG

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Rosa Nunes sonhava desde criança com a oportunidade de resgatar animais que vivem pelas ruas de Várzea Grande. Com o passar dos anos, o sonho foi se tornando realidade por meio do Abrigo Lar dos Sonhos, administrada por ela, pelo marido e filho.

Com quase 25 anos de trabalho voluntário, Rosa conta que cuida atualmente de 130 animais, sendo 108 cachorros e 22 gatos. Todos convivem no quintal de sua casa, localizada na Zona Rural de Várzea Grande, que ela usa como sede do abrigo.

“Desde criança, sempre gostei de animais, especialmente os que precisam de mais cuidados. Então, depois de casada, fiz o primeiro resgate. Desde que era pequena, falava que quando crescesse iria pegar todos os cachorros do mundo”, disse ela em conversa com o MidiaNews.

De acordo com a cuidadora, a maioria dos animais é resgatada após situações de abandono.

“É mais da rua. Eu não sei quem deixou, mas tem um monte para ir buscar. Tem um aqui, não tenho prova, mas testemunhas dizem que o menino batia demais nela dentro de casa, aí mandei castrar e não devolvi mais. Ela está aqui com a gente”

A taxa de maus-tratos em Mato Grosso é alta. Dados levantados pela Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT) apontam que 88 animais silvestres, domésticos ou domesticados morreram no Estado em 2024 em decorrência de maus-tratos.

Já em ocorrências atendidas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil de maus-tratos, sem registro de mortes, o número chegou a 220 animais ao longo do ano.

Apesar do alto número de registros, o número de casos de abandono e maus-tratos pode estar subnotificado devido à falta de denúncias e realização de boletins de ocorrência.

Rosa sabe disso e, de acordo com ela, vizinhos e testemunhas possuem resistência para formalizar denúncias, com medo de represálias.

“As pessoas têm medo de gravar alguma coisa. Eu ainda falo: ‘Você grava e eu mesmo faço as denúncias’. Mas o povo tem medo por morar perto”

Cuidados com os animais

Com o alto número de animais cuidados pelo abrigo, Rosa afirmou que a taxa de adoção é baixa, tendo em vista que a maioria dos interessados busca por perfis específicos de animais para adoção.

“Tudo tem perfil. ‘Eu quero de raça, quero porte pequeno’. Os caramelos ficam todos. Já teve gente que veio falar para não mandar foto dos pretinhos. Só de pretinho eu tenho 12”, contou Rosa.

“Agora mesmo não tem como resgatar mais nenhum. Está muito cheio. Tem que conseguir doar, porque a despesa está alta, altíssima”, acrescentou.

De acordo com a cuidadora, cerca de 40 animais estão passando por tratamento de leishmaniose canina, uma doença grave transmitida por meio de um mosquito infectado pelo protozoário Leishmania.

Ao ser infectados, os cães podem apresentar falta de apetite, emagrecimento, febre, problemas oftalmológicos e dermatológicos. O tratamento é realizado por meio de medicação que minimiza os efeitos do protozoário no corpo do animal.

Contudo, para além dos animais que passam por tratamento contínuo, há casos que apresentam problemas de saúde e necessitam de consultas e exames médicos periodicamente.

“Às vezes, precisam ir a clínica dois ou três e temos que escolher quem vai. Mas tem vezes que você não escolhe ninguém. O animal fica lá, o outro piora, você manda o outro na frente. Ou anda na rua, encontra um animal, fica com dó e manda ele na frente, mesmo com os que estão aguardando. É difícil, é uma luta”

Despesas e panos de prato

Produtos disponíveis para venda

Para manter o bem-estar dos animais e garantir tratamento de qualidade, Rosa disse que gasta cerca de R$ 10 mil mensalmente.

Dentre os gastos, ela elencou a alimentação, que consome cerca de R$ 3 mil em rações mensalmente, produtos de limpeza R$ 1.700, medicação R$ 2.200 e gastos com veterinário, que variam de R$ 2.000 a R$ 3.000.

Para minimizar os valores, Rosa aprendeu a produzir artefatos por meio de trabalhos manuais que vende pelas redes sociais. Dentre seus trabalhos estão a produção de caminhas para animais e de panos de prato bordados.

“Aprendi na necessidade mesmo, porque eu já fazia artesanato, crochê, então falei: ‘Vou aprender’. Aprendi com o YouTube. Até hoje não sei muita coisa, sei o que faço.”

O valor total das vendas é revertido para as despesas com os animais, contudo, apesar de revender bem, o valor ainda é inferior ao gasto com eles.

“Por mês, assim, tranquilamente, vendo R$ 4 mil. Mas teve mês que não consegui. Janeiro não consegui dar ração. Aí compra comida. Você compra o que deu de ração, tira do salário e passa no sufoco mesmo”, afirmou.

Doações

Para conseguir comprar os itens essenciais, ela conta com parcerias, como é o caso de uma casa agropecuária, onde contribuintes compram rações e mandam entregar para ela de forma voluntária.

“Quem quer doar ração tem a casa de ração ali em Várzea Grande, que é parceiro nosso. Quando paga lá, compra, paga lá, gera link de pagamento. Rápido e eles entregam. Então assim, não é só dinheiro que tem que pedir, na internet a gente pede alguma coisa, aí aparece alguém que doa”

Além da doação de produtos, ela também recebe doações via Pix. Essa é a alternativa que encontra para manter as atividades do abrigo.

“A gente vai resgatando e recorre ao Poder Público, mas não tem apoio e dependo de pessoas para ajudar. A necessidade é grande, se não tiver venda, não tem sustento. Mas mesmo se não tem ajuda, vai. Eles não saem daqui”, completou.

Para doar:

Pix: Rosalina Nunes Santana  65 992015006

Doação casa Agropecuária Pantanal (65) 3927-6341

(Fonte: Midianews)