Morador de VG condenado por protestos em Brasília perdeu 30 kg na prisão

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Com o coração aflito, Alexandra Aparecida, de 54 anos, não pôde estar com filho Juvenal Alves Corrêa de Albuquerque no dia do aniversário dele, na última terça-feira (4). Condenado a mais de 16 anos de prisão pelos ataques aos Três Poderes em janeiro de 2023 em Brasília, o eletricista, morador de Várzea Grande, voltou a ser preso em maio.

Em conversa com o MidiaNews, Alexandra contou como foram os meses em que Juvenal, de 32 anos, ficou no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, se dizendo inocente de qualquer crime, e revelou o motivo que levou o filho a tentar “uma vida nova na Argentina”.

“Nesses 11 meses em que meu filho ficou preso, ele perdeu 30 quilos, ficou só o osso e quase tentou suicídio. Fiquei com muito medo dele voltar para a prisão e, então, tentei levá-lo para a Argentina”, diz a mãe.

“Ele falou pra mim: ‘Mãe, não quero voltar a ser preso, quero trabalhar, pagar minhas contas, vou tentar uma vida nova lá na Argentina, porque não é justo eu pagar por um crime que eu não cometi’”.

A decisão veio após a sentença que condenou Juvenal e a notícia de que a qualquer momento ele poderia ser preso novamente. Para a mãe, tanto a decisão quanto a pena afixada ao filho são descabidas.

“Um absurdo. Tem pessoas de família presas, pessoas que foram lá só para manifestar. Meu filho estava lá só manifestando, ele estava iludido, achando que o Exército estaria do lado deles”, afirma.

Segundo Alexandra, apesar da sentença, a família não havia sido comunicada sobre o mandado de prisão contra Juvenal, que já estava em aberto e sob sigilo desde o dia 9 de maio.

Juvenal foi preso no dia 22 desse mesmo mês, depois de fazer uma ultrapassagem em local proibido enquanto estava a caminho da Argentina, acompanhado pela mãe. Ele está preso desde então no Município de Naviraí (MS).

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Juvenal Alves Corrêa de Albuquerque

Juvenal carregando fardo de água durante a manifestação

Vida interrompida

Natural de Piracicaba (SP) e hoje morador de Várzea Grande, Juvenal é eletricista autônomo.

“Ele presta serviço na Churrascaria Aeroporto Grill, trabalha na casa de médico, de juiz, de desembargador, de delegado. É um rapaz de confiança, todo mundo gosta muito dele”, afirma.

Segundo Alexandra, os planos de Juvenal eram apenas passar o final de semana em Brasília, manifestar de forma ordeira contra a vitória do presidente Lula e voltar para retomar os trabalhos programados para a semana.

“Ele ainda disse que tinha que lutar pelo futuro das crianças, dos sobrinhos, talvez até de um futuro filho. O objetivo dele era esse”, conta a mãe.

Alexandra afirma que a admiração do filho pelo ex-presidente Jair Bolsonaro foi repentina e se intensificou após um grupo de apoiadores ficar acampado por cerca de dois nesses em frente à 13ª Brigada de Infantaria Motorizada, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça.

“Ele ia ao quartel-general de vez em quando, trabalhava durante o dia e ficava um pouquinho lá à noite, às vezes até jantava. Ele foi influenciado com os amigos empresários que ficavam lá”.

Alexandra disse ter pressentido que algo ruim pudesse acontecer e orientou o filho a não ir. De longe ela foi acompanhando as notícias e alertando. “Quando ele foi preso, eu passei mal, quase desmaiei”.

Sem quebradeira

A defesa do eletricista teve acesso após a sentença a um vídeo que provaria que ele não participou da quebradeira na sede dos Três Poderes. No registro, o eletricista afirma que estão no local apenas para manifestar e não depredar o patrimônio público.

O vídeo estava no celular de Juvenal, que só após a finalização do processo foi entregue à família. “Por que não usaram esse vídeo também?”, questiona Alexandra.

“Ele foi um dos últimos a chegar e quando chegou estava somente com um fardo de água e foi essa água que ele deu para os policiais”.

“Tem vídeo dele passando mal com o gás, pedindo ajuda para o Exército quando jogaram as bombas. Ele ficou desesperado, tem rinite alérgica, depois ele entrou para se esconder das bombas e acabou sendo preso”, completou.

Maus bocados

Juvenal agora está preso no Presídio de Segurança Máxima de Naviraí (MS) e, segundo Alexandra, tem passado necessidades básicas.

“Estou muito preocupada, ele está precisando de roupa de frio, de coberta, colchão. Ele tem rinite alérgica e não dorme, não consegue dormir”.

Segundo a mãe, Juvenal está preso com outros seis detentos.

“Quando ele perdeu os 30 quilos, ficou uma semana comendo só bolacha de água e sal. A comida era horrível, tinha pedaço de prego, parafuso, plástico, Bombril e até pedaço de rato já acharam”.

Provar inocência

Segundo Alexandra, a defesa está tomando todas as medidas para a revisão da pena com base na nova prova.

“Esse vídeo mostra que o meu filho não estava quebrando nada, ele não estava com arma, ele estava dando água para os policiais e falando que estavam ali para defender o patrimônio que é nosso”.

A sentença contra Juvenal foi publicada no dia 16 de maio. Os ministros seguiram por maioria o voto do relator, Alexandre de Moraes.

No voto, Moraes afirmou que a participação do cuiabano nas depredações ficou comprovada através de fotos e vídeos feitos por ele no mesmo no seu celular.

Em um dos vídeos, conforme o ministro, ele filma o Palácio do Planalto enquanto diz: “Aí, gurizada, tá tudo tomado, viu”.

“Tenho esperanças. A pena tem que no mínimo diminuir. Mas agora vai depender se eles respeitarem a lei, o direito de defesa do meu filho”.

A mãe pede também para que Juvenal seja transferido de Mato Grosso do Sul para Várzea Grande.

“Estou desesperada com ele tão longe de mim, sozinho. Eu peço encarecidamente que autorizem ele a ser transferido para o estado dele”.  Fonte: Midianews

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