Atuando na linha de frente da Covid-19 no Hospital Santa Rita, da rede privada, em Várzea Grande, o médico Thiago Freitas disse que o cenário atual da pandemia em Mato Grosso é “catastrófico”, com pacientes aguardando vagas de UTI em corredores e leitos improvisados.
De acordo com ele, a situação ocorre tanto em unidades particulares como públicas, já que os hospitais não possuem mais leitos para suportar a demanda de novos casos graves da doença.
“Muitos dos pacientes agonizando. Isso é terrível. Coloque-se na situação desses pacientes ou de seus familiares. A sensação de impotência é um enorme castigo. É o pior cenário, também, para os profissionais de saúde”, desabafou.
Para o médico, o aumento de pacientes em estado grave, principalmente mais jovens, já é uma realidade da segunda onda da pandemia em Mato Grosso.
O mesmo cenário é descrito pelo médico Maikon Ticianel, que atua no Hospital São Mateus, na Capital, e também na rede pública de saúde.
Conforme Maikon, era raro quando um paciente de 20 ou 30 anos precisava de indicação para UTI.
“Agora é extremamente comum. O perfil desses pacientes internados é o de adulto jovem, de 25 a 50 anos. Esses são os que estão em gravidade na UTI. A cada 20 leitos, 18 são ocupados por pacientes intubados em estado grave. E mesmo assim as pessoas ainda não levam a sério”, pontuou o médico.
Aumento da procura por UTIs
Maikon contou ao MidiaNews que, antes da pandemia, eram raras as situações em que colegas de profissão o procuravam em busca de leitos de UTI. Agora, o médico chega a receber demandas deste tipo até seis vezes em um único dia.
Ele também explicou que, além da falta de leitos de UTI e do alto índice de contaminação pela Covid-19, os pacientes com a doença evoluem para quadros graves mais rápido do que o observado na primeira onda da pandemia.
De acordo com ele, eram cerca de dez dias para um paciente procurar o hospital em estado grave após os primeiros sintomas. Atualmente, no quinto dia de contaminação algumas pessoas já precisam ser intubadas.
Carga de trabalho dobrada
Maikon ressaltou que os profissionais de saúde já estão “no limite”. A maioria está atuando na linha de frente desde abril do ano passado, quando foi registrado o primeiro óbito por Covid em Mato Grosso, notificado em Cuiabá.
Outra consequência do colapso da saúde é a falta de profissionais para atuarem nas unidades. Muitos acabam acumulando funções em mais de um hospital para ajudar no atendimento dos pacientes.
“Por mais que o hospital dê respando para o trabalho, a situação ainda é muito difícil. É incomum. Está todo mundo cansado. Conversamos entre nós e o único desejo que relatamos é de que a pandemia acabe”.
Lockdown no estado
Para Thiago, um lockdowm e o isolamento social não são uma solução para pandemia, mas ambos são fundamentais para amenizar a transmissão do vírus.
“Aliviando a pressão nos serviços de saúde, dando um precioso tempo e alívio para este conseguir salvar mais vidas. O que se quer com o lockdown é frear a transmissão, temporariamente para se ter vaga de UTI para todos que precisarem”, disse.
De acordo com o médico, apesar das consequências causadas pela pandemia em diferentes setores, apenas a morte é irreversível.
“A Covid-19 traz consequências em muitos setores, econômico, social, saúde, mortes, etc. De todas essas consequências, somente as mortes são irreversíveis. Portanto, as medidas em favor da vida devem ser priorizadas”, afirmou.
Na opinião de Thiago, a população não deveria esperar uma decisão do Estado para aderir ao isolamento social, apesar de entender que uma medida restritiva com aval do Estado poderia ser mais eficaz.
“Para fazer isolamento social não deveríamos precisar do Estado, deveria ser suficiente a consciência individual e a empatia pelos nossos”, disse.
“Manter o distanciamento social é dever de cada um, principalmente no cenário catastrófico que nos encontramos. Todavia, sem dúvida, uma medida mais restritiva com o aval do Estado poderia ser mais eficaz, pontualmente no contexto que atravessamos”, completou.
Fonte: Midianews