Mato Grosso tem disputas territoriais entre facções criminosas em 14 municípios – todos eles concentrados nos principais corredores logísticos do estado: as BRs 163 e 364. Ao todo, quatro facções estão presentes em 92 cidades mato-grossenses: Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC), Tropa do Castelar e B40. Em 78 municípios, há apenas um grupo criminoso operando, enquanto em 14 ocorre confronto direto entre duas ou mais facções.
A análise é do estudo Cartografias da Violência na Amazônia 2025, que mapeou a presença do crime organizado em toda a região amazônica e foi divulgado na última semana. O levantamento mostra que o CV exerce hegemonia no estado, presente em 85 municípios, sendo a única facção em 71 deles. O PCC aparece em 14 municípios, predominante de forma isolada em cinco deles. Já a Tropa do Castelar atua em cinco municípios, porém com exclusividade em apenas dois. A B40 é identificada em apenas três, sempre em situação de disputa.
Nos municípios em conflito, a configuração fica assim:
- 8 disputados por CV e PCC
- 3 disputados por CV e Tropa do Castelar
- 2 disputados por CV e B40
- 1 (Cáceres) onde operam CV, PCC e B40 simultaneamente
Conforme analisa o estudo, todos esses municípios ficam ao longo dos eixos da BR-163 e BR-364, rotas por onde circulam carretas de grãos em direção aos portos do Arco Norte, Santos e Paranaguá. A coincidência não é acidental: o estudo aponta que o controle do fluxo logístico é central para a economia do crime.
Apesar de utilizarem esses eixos, as facções têm diversificado suas estratégias de transporte e controle territorial. “O Comando Vermelho (CV) mantém hegemonia nas rotas fluviais, especialmente no eixo do Rio Solimões, em articulação com a produção peruana e os cartéis colombianos. O escoamento das drogas segue em direção a centros portuários estratégicos como Manaus, Santarém, Arcarena, Belém e Macapá, utilizando embarcações regionais, lanchas rápidas, submersíveis e “mulas” humanas. O Primeiro Comando da Capital (PCC), por sua vez, tem intensificado o uso de rotas aéreas clandestinas, aproveitando pistas de pouso em garimpos ilegais e unidades de conservação”, aponta a cartografia.
Além disso, cresce a chamada gestão remota do território: líderes de facções comandam operações locais a partir de outros estados. No caso do CV, chefes de células da Amazônia se refugiam em áreas dominadas pela facção no Rio de Janeiro, garantindo continuidade das operações sem exposição direta.

Fronteira vulnerável e aumento no tráfico internacional
O estudo também aponta que a fronteira com a Bolívia segue como um dos principais gargalos de segurança pública. Municípios fronteiriços são usados como corredor do narcotráfico, especialmente para escoar cocaína produzida na Bolívia e no Peru rumo ao Brasil. Em 2024, Mato Grosso foi o estado da Amazônia Legal que mais apreendeu cocaína, somando mais de 23 toneladas, quase metade de toda a apreensão da região.
Essas redes se expandem inclusive sobre áreas legalmente protegidas, como terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação, explorando recursos naturais, controlando rotas e formando alianças com elites políticas e econômicas locais. A pesquisa descreve esse fenômeno como a “territorialidade do crime”, onde o domínio físico do território se converte em poder econômico e social.
Kethlyn Moraes/Rdnews
“A Amazônia caracteriza-se por vastas áreas, fronteiras extensas e permeáveis, baixa presença estatal e limitada capacidade de fiscalização. Essa combinação favorece a atuação de diferentes atores facções criminosas, milícias, grileiros, empresários e agentes públicos”, aponta.
Além disso, o estudo afirma que a ausência de políticas públicas específicas e a conivência de setores econômicos que se beneficiam dessas redes facilitam a consolidação do crime organizado nos municípios amazônicos, criando uma zona cinzenta entre atividades legais e ilegais. (RD News)








